São Paulo, domingo, 22 de novembro de 2009

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Saída da crise impõe novo desafio à retomada global

Países enfrentam reflexos das diferentes receitas que adotaram para combater a turbulência

Mundo desenvolvido tenta contornar a explosão do endividamento; emergentes terão de segurar a demanda interna sem estímulos fiscais

FERNANDO CANZIAN
DE WASHINGTON

Com o pior da maior crise financeira desde os anos 1930 ficando para trás, as principais regiões e economias do mundo têm pela frente agora o difícil desafio de enfrentar as consequências de modelos diferentes adotados na turbulência.
No mundo desenvolvido, o maior problema é a explosão do endividamento. Na média, segundo o FMI (Fundo Monetário Internacional), ele será equivalente a 110% do PIB daqui a quatro anos, um recorde no pós-Segunda Guerra.
Entre os emergentes, o desafio é sustentar a demanda interna sem tantos programas de incentivo fiscal. E evitar que a concessão exagerada de crédito leve a uma explosão do endividamento e da inadimplência.
Basicamente, as maiores economias ou regiões do mundo adotaram três diferentes modelos para sair da crise. Na maior delas, os EUA, houve injeção maciça de dinheiro estatal em bancos e empresas, um pacote de US$ 787 bilhões em gastos públicos e garantias trilionárias do Fed (o BC americano) para emissão de dívidas de empresas e do setor financeiro.
Acima de tudo, houve um enxugamento brutal nos custos das empresas, com cortes e demissões que já elevaram o desemprego no país a 10,2%. É isso o que explica o aumento da lucratividade das empresas e a forte valorização da Bolsa de Nova York a partir de março.
As empresas lucram mais por terem custos menores, o que se reflete nos preços em alta das ações. Isso não significa que estejam vendendo mais. A recuperação está longe nos EUA.
Já entre os 16 países europeus que têm o euro como moeda, o modelo adotado visou principalmente preservar empregos a partir da diminuição da jornada de trabalho. Isso foi possível principalmente porque, diferentemente dos EUA, o mercado de trabalho europeu é mais regulamentado, e as políticas sociais, mais generosas.
Houve também a adoção de medidas fiscais. Mas, dentro da região, elas foram bastante assimétricas. Isso é o que explica a recuperação mais firme de economias como Alemanha e França e os problemas que ainda prendem Espanha, Irlanda e Grécia, entre outros.
Na China, economia mais dinâmica do mundo, uma combinação de gastos estatais e forte aumento do crédito ao consumo poderá levar o país a um crescimento de 8% neste ano.
A China não só adotou um pacote de estímulo de US$ 580 bilhões como também os bancos no país concederam US$ 1,3 trilhão em financiamentos neste ano, elevando o consumo.
A grande dúvida é se isso não trará uma onda de inadimplência mais à frente. E se os fortes gastos estatais, destinados basicamente a mais investimentos para o aumento da produção, encontrarão, no final da cadeia, demandas externa e interna para esses produtos.
Já no caso brasileiro, o país soube contornar o pior desarmando temporariamente heranças do tempo inflacionário. Diminuiu, por exemplo, o total dos depósitos que os bancos têm que deixar no Banco Central, e as instituições financeiras públicas passaram a ser mais agressivas na concessão de crédito ao consumo. O problema no país continua sendo a falta de investimentos.


Texto Anterior: Ações públicas podem beneficiar quem perdeu prazos na Justiça
Próximo Texto: Estados Unidos: Gasto público amortece recessão, mas não reativa a economia real
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.