|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Saída da crise impõe novo desafio à retomada global
Países enfrentam reflexos das diferentes receitas que adotaram para combater a turbulência
Mundo desenvolvido tenta contornar a explosão do endividamento; emergentes terão de segurar a demanda interna sem estímulos fiscais
FERNANDO CANZIAN
DE WASHINGTON
Com o pior da maior crise financeira desde os anos 1930 ficando para trás, as principais
regiões e economias do mundo
têm pela frente agora o difícil
desafio de enfrentar as consequências de modelos diferentes
adotados na turbulência.
No mundo desenvolvido, o
maior problema é a explosão do
endividamento. Na média, segundo o FMI (Fundo Monetário Internacional), ele será
equivalente a 110% do PIB daqui a quatro anos, um recorde
no pós-Segunda Guerra.
Entre os emergentes, o desafio é sustentar a demanda interna sem tantos programas de
incentivo fiscal. E evitar que a
concessão exagerada de crédito
leve a uma explosão do endividamento e da inadimplência.
Basicamente, as maiores economias ou regiões do mundo
adotaram três diferentes modelos para sair da crise. Na
maior delas, os EUA, houve injeção maciça de dinheiro estatal em bancos e empresas, um
pacote de US$ 787 bilhões em
gastos públicos e garantias trilionárias do Fed (o BC americano) para emissão de dívidas de
empresas e do setor financeiro.
Acima de tudo, houve um enxugamento brutal nos custos
das empresas, com cortes e demissões que já elevaram o desemprego no país a 10,2%. É isso o que explica o aumento da
lucratividade das empresas e a
forte valorização da Bolsa de
Nova York a partir de março.
As empresas lucram mais por
terem custos menores, o que se
reflete nos preços em alta das
ações. Isso não significa que estejam vendendo mais. A recuperação está longe nos EUA.
Já entre os 16 países europeus que têm o euro como
moeda, o modelo adotado visou
principalmente preservar empregos a partir da diminuição
da jornada de trabalho. Isso foi
possível principalmente porque, diferentemente dos EUA,
o mercado de trabalho europeu
é mais regulamentado, e as políticas sociais, mais generosas.
Houve também a adoção de
medidas fiscais. Mas, dentro da
região, elas foram bastante assimétricas. Isso é o que explica
a recuperação mais firme de
economias como Alemanha e
França e os problemas que ainda prendem Espanha, Irlanda e
Grécia, entre outros.
Na China, economia mais dinâmica do mundo, uma combinação de gastos estatais e forte
aumento do crédito ao consumo poderá levar o país a um
crescimento de 8% neste ano.
A China não só adotou um
pacote de estímulo de US$ 580
bilhões como também os bancos no país concederam US$ 1,3
trilhão em financiamentos neste ano, elevando o consumo.
A grande dúvida é se isso não
trará uma onda de inadimplência mais à frente. E se os fortes
gastos estatais, destinados basicamente a mais investimentos para o aumento da produção, encontrarão, no final da
cadeia, demandas externa e interna para esses produtos.
Já no caso brasileiro, o país
soube contornar o pior desarmando temporariamente heranças do tempo inflacionário.
Diminuiu, por exemplo, o total
dos depósitos que os bancos
têm que deixar no Banco Central, e as instituições financeiras públicas passaram a ser
mais agressivas na concessão
de crédito ao consumo. O problema no país continua sendo a
falta de investimentos.
Texto Anterior: Ações públicas podem beneficiar quem perdeu prazos na Justiça Próximo Texto: Estados Unidos: Gasto público amortece recessão, mas não reativa a economia real Índice
|