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CRISE
Cresce pressão sobre conglomerados
Coréia do Sul quer reforma em indústrias
JAIME SPITZCOVSKY
enviado especial à Coréia do Sul
O governo da Coréia do Sul, em
sua estratégia para tirar o país da
crise econômica, pressiona os
grandes conglomerados industriais a adotar uma reestruturação
que diminua o peso desses "polvos
econômicos" na economia do país,
buscando, ao mesmo tempo, torná-los mais competitivos no cenário internacional. Quem desenha a
estratégia, em entrevista à Folha, é
Kim Tae-dong, secretário especial
do presidente Kim Dae-jung para
planejamento econômico.
Acabou a "relação insidiosa" entre os "chaebol" (grandes conglomerados, em coreano) e o governo, declarou Kim Tae-dong em seu
escritório na Casa Azul, a sede do
governo, em Seul (capital).
Os "chaebol" são comparados a
"polvos econômicos" devido aos
seus diversos tentáculos. Acumulam atividades que vão da produção de carros à construção civil,
passando pela fabricação de eletrodomésticos ou computadores.
Os cinco maiores conglomerados (Hyundai, Samsung, Daewoo,
LG e SK) respondem por quase
metade das exportações da Coréia
do Sul. Os "chaebol" foram um dos
principais motores da industrialização coreana a partir dos anos 60
e, com acesso fácil a créditos e favores patrocinados pelo governo,
ajudaram o país a ganhar o título
de "tigre asiático".
Hoje, no entanto, são acusados
de ser um dos principais responsáveis pela crise econômica que levou a Coréia a amealhar, no ano
passado, o maior pacote de ajuda
financeira já oferecido pelo Fundo
Monetário Internacional (US$
58,35 bilhões). O governo acusa os
"chaebol" de "investimento excessivo e mal direcionado", o que teria contribuído para aumentar o
endividamento sul-coreano.
Com a crise econômica e o receituário do FMI (Fundo Monetário
Internacional), a Coréia do Sul
mergulhou na recessão. O desemprego atingiu em agosto 8,1%, contra 2,3% em outubro de 97.
Algumas estimativas dizem que
o desemprego deve atingir 10%. As
pequenas e médias empresas estão
falindo à taxa de mil por mês, segundo a revista britânica "The
Economist".
O governo quer dividir o fardo da
crise com os "chaebol", que anunciaram planos tímidos de "emagrecimento". Com seu peso, os
conglomerados ainda conseguem
créditos e até mesmo fôlego para
expansão. Nos últimos dois meses,
a Hyundai comprou a indústria
automobilística Kia e anunciou
um projeto turístico na vizinha e
comunista Coréia do Norte.
Os "chaebol" argumentam que
uma reestruturação cirúrgica poderia custar postos de trabalho,
piorando o quadro de desemprego. No começo deste mês, o governo conseguiu aprovar a criação de
uma comissão parlamentar para
apontar os responsáveis pela crise
econômica. O presidente Kim
Dae-jung espera ter mais munição
para pressionar os "chaebol".
O jornalista
Jaime Spitzcovsky viajou à Coréia
do Sul a convite do Korea Press Center
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