São Paulo, domingo, 22 de novembro de 1998

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CRISE
Cresce pressão sobre conglomerados
Coréia do Sul quer reforma em indústrias

JAIME SPITZCOVSKY
enviado especial à Coréia do Sul

O governo da Coréia do Sul, em sua estratégia para tirar o país da crise econômica, pressiona os grandes conglomerados industriais a adotar uma reestruturação que diminua o peso desses "polvos econômicos" na economia do país, buscando, ao mesmo tempo, torná-los mais competitivos no cenário internacional. Quem desenha a estratégia, em entrevista à Folha, é Kim Tae-dong, secretário especial do presidente Kim Dae-jung para planejamento econômico.
Acabou a "relação insidiosa" entre os "chaebol" (grandes conglomerados, em coreano) e o governo, declarou Kim Tae-dong em seu escritório na Casa Azul, a sede do governo, em Seul (capital).
Os "chaebol" são comparados a "polvos econômicos" devido aos seus diversos tentáculos. Acumulam atividades que vão da produção de carros à construção civil, passando pela fabricação de eletrodomésticos ou computadores.
Os cinco maiores conglomerados (Hyundai, Samsung, Daewoo, LG e SK) respondem por quase metade das exportações da Coréia do Sul. Os "chaebol" foram um dos principais motores da industrialização coreana a partir dos anos 60 e, com acesso fácil a créditos e favores patrocinados pelo governo, ajudaram o país a ganhar o título de "tigre asiático".
Hoje, no entanto, são acusados de ser um dos principais responsáveis pela crise econômica que levou a Coréia a amealhar, no ano passado, o maior pacote de ajuda financeira já oferecido pelo Fundo Monetário Internacional (US$ 58,35 bilhões). O governo acusa os "chaebol" de "investimento excessivo e mal direcionado", o que teria contribuído para aumentar o endividamento sul-coreano.
Com a crise econômica e o receituário do FMI (Fundo Monetário Internacional), a Coréia do Sul mergulhou na recessão. O desemprego atingiu em agosto 8,1%, contra 2,3% em outubro de 97.
Algumas estimativas dizem que o desemprego deve atingir 10%. As pequenas e médias empresas estão falindo à taxa de mil por mês, segundo a revista britânica "The Economist".
O governo quer dividir o fardo da crise com os "chaebol", que anunciaram planos tímidos de "emagrecimento". Com seu peso, os conglomerados ainda conseguem créditos e até mesmo fôlego para expansão. Nos últimos dois meses, a Hyundai comprou a indústria automobilística Kia e anunciou um projeto turístico na vizinha e comunista Coréia do Norte.
Os "chaebol" argumentam que uma reestruturação cirúrgica poderia custar postos de trabalho, piorando o quadro de desemprego. No começo deste mês, o governo conseguiu aprovar a criação de uma comissão parlamentar para apontar os responsáveis pela crise econômica. O presidente Kim Dae-jung espera ter mais munição para pressionar os "chaebol".


O jornalista Jaime Spitzcovsky viajou à Coréia do Sul a convite do Korea Press Center


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