São Paulo, domingo, 22 de novembro de 1998

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MERCOSUL
Recessão no Brasil e desaquecimento no país vizinho aumentam pressão sobre comércio entre países do bloco
Crise acirra divergências com Argentina

RICARDO GRINBAUM
enviado especial a Buenos Aires

A crise econômica está acirrando as divergências entre o Brasil e a Argentina, na sociedade firmada no Mercosul. Nos últimos dias, os dois parceiros trocaram ameaças, nas negociações mais tenso dos últimos quatro anos.
As disputas entre os sócios do bloco estão sendo reforçadas pelo ambiente econômico. Brasil e Argentina enfrentam desequilíbrios comerciais e estão lutando para diminuir as importações e aumentar as exportações.
"É um sentimento de protecionismo que se adota em tempos de retração da economia mundial", diz Fábio Silveira, economista da consultoria MCM. O problema é agravado pelo fato de a economia brasileira estar em recessão e a da Argentina, em desaquecimento. No ano que vem, a economia argentina deve ficar estagnada ou crescer 2%, menos da metade do resultado de 98.
"Esse é um dos momentos mais difíceis do Mercosul porque é a primeira vez que os dois países enfrentam um período de desaquecimento ao mesmo tempo", diz Roberto Lavagna, ex-secretário de Indústria e Comércio da Argentina.
A tensão entre os dois países ficou evidente na semana passada, quando o ministro da Economia da Argentina, Roque Fernández, reclamou da exigência de licenças sanitárias prévias para importação de vários produtos. A Argentina ameaçou abrir processo de disputa comercial no Mercosul.
O governo brasileiro tem uma lista de queixas acumuladas, que incluem a taxação de 23% sobre as exportações de açúcar e o acordo comercial que a Argentina assinou com o México, sem consultar os parceiros do bloco.
Na semana passada, o deputado Paulo Bornhausen (PFL-SC) propôs uma taxação sobre produtos feitos com açúcar argentino.
O tom da disputa baixou no final da semana, quando foi fechado acordo para facilitar a liberação das importações entre os países do bloco. Mas questões fundamentais continuam pendentes.
Pelo calendário do Mercosul, temas polêmicos, como a definição de um regime automotivo para a região, precisam ser resolvidos no próximo ano.
Será um ano de eleições presidenciais na Argentina e de forte pressão econômica no Brasil.
Em 98, o Brasil deve fechar o ano com déficit comercial de US$ 6 bilhões. Esse déficit terá de ser muito reduzido, até zerado, no ano que vem, para diminuir a dependência dos investimentos estrangeiros.
Na Argentina, o problema não é tão grave, mas a trajetória preocupa o governo. Segundo projeções do Instituto Broda, o déficit nas contas externas deve chegar a 3,6% do PIB em 98 e 4% em 99.
Por enquanto, o Mercosul funcionou como amortecedor da crise mundial. No primeiro semestre, o comércio do Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai com outros países cresceu magros 2%, enquanto as vendas entre os sócios do Mercosul aumentaram 8,7%.



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