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MERCOSUL
Recessão no Brasil e desaquecimento no país vizinho aumentam pressão sobre comércio entre países do bloco
Crise acirra divergências com Argentina
RICARDO GRINBAUM
enviado especial a Buenos Aires
A crise econômica está acirrando
as divergências entre o Brasil e a
Argentina, na sociedade firmada
no Mercosul. Nos últimos dias, os
dois parceiros trocaram ameaças,
nas negociações mais tenso dos últimos quatro anos.
As disputas entre os sócios do
bloco estão sendo reforçadas pelo
ambiente econômico. Brasil e Argentina enfrentam desequilíbrios
comerciais e estão lutando para diminuir as importações e aumentar
as exportações.
"É um sentimento de protecionismo que se adota em tempos de
retração da economia mundial",
diz Fábio Silveira, economista da
consultoria MCM. O problema é
agravado pelo fato de a economia
brasileira estar em recessão e a da
Argentina, em desaquecimento.
No ano que vem, a economia argentina deve ficar estagnada ou
crescer 2%, menos da metade do
resultado de 98.
"Esse é um dos momentos mais
difíceis do Mercosul porque é a
primeira vez que os dois países enfrentam um período de desaquecimento ao mesmo tempo", diz Roberto Lavagna, ex-secretário de Indústria e Comércio da Argentina.
A tensão entre os dois países ficou evidente na semana passada,
quando o ministro da Economia
da Argentina, Roque Fernández,
reclamou da exigência de licenças
sanitárias prévias para importação
de vários produtos. A Argentina
ameaçou abrir processo de disputa
comercial no Mercosul.
O governo brasileiro tem uma
lista de queixas acumuladas, que
incluem a taxação de 23% sobre as
exportações de açúcar e o acordo
comercial que a Argentina assinou
com o México, sem consultar os
parceiros do bloco.
Na semana passada, o deputado
Paulo Bornhausen (PFL-SC) propôs uma taxação sobre produtos
feitos com açúcar argentino.
O tom da disputa baixou no final
da semana, quando foi fechado
acordo para facilitar a liberação
das importações entre os países do
bloco. Mas questões fundamentais
continuam pendentes.
Pelo calendário do Mercosul, temas polêmicos, como a definição
de um regime automotivo para a
região, precisam ser resolvidos no
próximo ano.
Será um ano de eleições presidenciais na Argentina e de forte
pressão econômica no Brasil.
Em 98, o Brasil deve fechar o ano
com déficit comercial de US$ 6 bilhões. Esse déficit terá de ser muito
reduzido, até zerado, no ano que
vem, para diminuir a dependência
dos investimentos estrangeiros.
Na Argentina, o problema não é
tão grave, mas a trajetória preocupa o governo. Segundo projeções
do Instituto Broda, o déficit nas
contas externas deve chegar a 3,6%
do PIB em 98 e 4% em 99.
Por enquanto, o Mercosul funcionou como amortecedor da crise
mundial. No primeiro semestre, o
comércio do Brasil, Argentina,
Uruguai e Paraguai com outros
países cresceu magros 2%, enquanto as vendas entre os sócios
do Mercosul aumentaram 8,7%.
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