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Obras levaram apenas 3% da alta da receita
GUSTAVO PATU
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Elevados à condição de prioridade máxima do segundo
mandato do presidente Lula, os
investimentos não mereceram
mais que 3% do aumento da arrecadação federal nos primeiros 11 meses deste ano.
Os destinos principais dos R$
65,9 bilhões adicionados à receita do governo no período,
conforme dados do Tesouro
Nacional, são os de sempre: benefícios previdenciários, gastos
com os servidores públicos,
transferências obrigatórias a
Estados e a municípios e o superávit primário, ou seja, a parcela do Orçamento poupada
para abater a dívida pública.
Os investimentos -obras e
aquisições de máquinas e equipamentos- tiveram aumento
de apenas R$ 2 bilhões, acima
da média geral das despesas do
governo, mas muito aquém das
metas oficiais anunciadas em
janeiro com o lançamento do
PAC (Programa de Aceleração
do Crescimento). A comparação entre os ganhos de arrecadação e a evolução das despesas
mostra que, apesar da ênfase
retórica dada às obras do pacote de estímulo à economia, a expansão dos investimentos esbarra na pouca flexibilidade orçamentária e nos problemas
gerenciais e burocráticos enfrentados pelo Executivo.
Até novembro, eles somaram
R$ 12 bilhões, dos quais apenas
cerca de um quarto é originário
do PAC -que conta, na teoria,
com R$ 16,1 bilhões em gastos
autorizados neste ano. Ainda
que haja uma esperada aceleração das despesas em dezembro,
a execução do programa deverá
ficar longe dos 60% mencionados como aceitáveis pela ministra Dilma Rousseff (Casa Civil).
Não se pode culpar, desta
vez, as restrições do ajuste fiscal: desde o ano passado, as metas de superávit primário foram reduzidas, justamente, para acomodar no Orçamento as
obras consideradas prioritárias, que foram poupadas dos
bloqueios de verbas promovidos pela área econômica.
A expansão do gasto, em contraste, é muito mais fácil quando se trata de aposentadorias,
pensões ou salários do funcionalismo, despesas que não dependem de projetos, licitações,
processos jurídicos, licenças
ambientais, mão-de-obra especializada e condições climáticas favoráveis.
Com o aumento do salário
mínimo de R$ 350 para R$ 380,
além do envelhecimento da população, os gastos do INSS
(Instituto Nacional do Seguro
Social) tiveram salto de R$ 15,4
bilhões e chegaram a R$ 161,6
bilhões. Outros programas vinculados ao mínimo, como o seguro-desemprego e os benefícios assistenciais obrigatórios,
subiram, juntos, R$ 5,1 bilhões.
A expansão dos gastos com
benefícios previdenciários superou a da arrecadação do
INSS, de R$ 14,5 bilhões a serem destinados exclusivamente ao setor. Outra verba carimbada é a das transferências
constitucionais a Estados e
municípios, calculadas a partir
de percentuais fixos da arrecadação do Imposto de Renda e
do IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados).
Após a alta recorde no ano
eleitoral de 2006, a despesa
com servidores ativos e inativos seguiu em alta e chegou, até
novembro, a R$ 103,1 bilhões.
Sua participação no Orçamento deve crescer ainda mais neste mês, em razão do pagamento
do décimo-terceiro salário.
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