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Caso Madoff deixa lição a investidor comum
Mesmo nas fases de bonança, é preciso estar atento ao risco e desconfiar de lucros muito altos, dizem especialistas
Quando as aplicações dão bom resultado, tendência é adotar a chamada "cegueira seletiva", fechando os olhos a tudo que não se quer ver
MARIA CRISTINA FRIAS
DA REPORTAGEM LOCAL
"Não há almoço grátis no
mercado financeiro." A frase, já
um tanto batida, é mais uma
vez lembrada por analistas e
gestores quando o tema é a pirâmide Madoff.
"Para um determinado nível
de retorno, sempre existe um
nível de risco equivalente. Que
acaba aparecendo, mais cedo
ou mais tarde", lembra Marcelo
Guterman, professor do Ibmec
São Paulo.
O veterano gestor de recursos Bernard Madoff gerou perdas de bilhões de euros a vários
investidores em razão de um
esquema mundial de pirâmide
que montou. Para oferecer retornos bons e estáveis a seus
clientes, Madoff, ex-presidente
da Nasdaq (Bolsa americana na
qual são negociadas ações de
empresas de tecnologia), usava
os investimentos que entravam
de novos clientes, em vez de
usar a receita advinda das aplicações, até quebrar.
Na fase de bonança, quando o
retorno dos investimentos é alto, muitos investidores se descuidam do risco que estão correndo. "Quando as coisas vão
bem, ninguém quer checar nada, nem ouvir os "pessimistas'",
diz Marcelo Ribeiro, analista da
Pentágono Asset Management.
Para Ribeiro, a gigantesca inflação de ativos, nos imóveis,
ações, moedas e derivativos dos
últimos cinco anos foi uma espécie de "mania". "Se houve algum tipo de descolamento foi o
dos investidores em relação à
realidade. Teses como as do
"mundo plano", com a extinção
dos ciclos econômicos, descolamento dos emergentes, ou do
"mundo financeiro" do "mundo
real" somente emplacam quando os investidores se utilizam
de mecanismos de defesa de
negação da realidade, o que
Freud chamava de "cegueira seletiva'- só ver aquilo que se
quer ver", diz Ribeiro.
Começam a surgir relatos de
analistas que deram "bola preta" para o fundo há alguns anos,
por ser simplesmente impossível fazer o que os fundos administrados por Madoff faziam:
dar rentabilidade médio anual
de 12%, com retornos altamente estáveis. Em mais de vinte
anos, houve raras e baixíssimas
perdas.
Alguns bancos de investimentos não aplicavam diretamente nos fundos ligados a Madoff porque estes não se enquadravam em seus padrões de
controle para alocação de recursos, apesar de clientes no
exterior reclamarem esse tipo
de aplicação, segundo gestores
que não querem se identificar.
O esquema de Madoff era altamente exclusivo. Não era
acessível a qualquer interessado e nem sempre estava aberto
a captações. Dentro de uma espécie de clubinho, tido para
"poucos e bons", os investidores fecharam os olhos para a
falta de controle do risco que
corriam.
"Quando se trata de acreditar
em algo conveniente para nós,
ignoramos todas as evidências
em contrário", diz Guterman.
Isso vale também para investidores menos sofisticados.
"Apesar de os pequenos investidores não terem condições de saber onde estava o truque, deveriam saber que havia
um truque. Acreditar em Papai
Noel não é coisa só de criança,
como se viu", acrescenta.
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