São Paulo, segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

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Caso Madoff deixa lição a investidor comum

Mesmo nas fases de bonança, é preciso estar atento ao risco e desconfiar de lucros muito altos, dizem especialistas

Quando as aplicações dão bom resultado, tendência é adotar a chamada "cegueira seletiva", fechando os olhos a tudo que não se quer ver

MARIA CRISTINA FRIAS
DA REPORTAGEM LOCAL

"Não há almoço grátis no mercado financeiro." A frase, já um tanto batida, é mais uma vez lembrada por analistas e gestores quando o tema é a pirâmide Madoff.
"Para um determinado nível de retorno, sempre existe um nível de risco equivalente. Que acaba aparecendo, mais cedo ou mais tarde", lembra Marcelo Guterman, professor do Ibmec São Paulo.
O veterano gestor de recursos Bernard Madoff gerou perdas de bilhões de euros a vários investidores em razão de um esquema mundial de pirâmide que montou. Para oferecer retornos bons e estáveis a seus clientes, Madoff, ex-presidente da Nasdaq (Bolsa americana na qual são negociadas ações de empresas de tecnologia), usava os investimentos que entravam de novos clientes, em vez de usar a receita advinda das aplicações, até quebrar.
Na fase de bonança, quando o retorno dos investimentos é alto, muitos investidores se descuidam do risco que estão correndo. "Quando as coisas vão bem, ninguém quer checar nada, nem ouvir os "pessimistas'", diz Marcelo Ribeiro, analista da Pentágono Asset Management.
Para Ribeiro, a gigantesca inflação de ativos, nos imóveis, ações, moedas e derivativos dos últimos cinco anos foi uma espécie de "mania". "Se houve algum tipo de descolamento foi o dos investidores em relação à realidade. Teses como as do "mundo plano", com a extinção dos ciclos econômicos, descolamento dos emergentes, ou do "mundo financeiro" do "mundo real" somente emplacam quando os investidores se utilizam de mecanismos de defesa de negação da realidade, o que Freud chamava de "cegueira seletiva'- só ver aquilo que se quer ver", diz Ribeiro.
Começam a surgir relatos de analistas que deram "bola preta" para o fundo há alguns anos, por ser simplesmente impossível fazer o que os fundos administrados por Madoff faziam: dar rentabilidade médio anual de 12%, com retornos altamente estáveis. Em mais de vinte anos, houve raras e baixíssimas perdas.
Alguns bancos de investimentos não aplicavam diretamente nos fundos ligados a Madoff porque estes não se enquadravam em seus padrões de controle para alocação de recursos, apesar de clientes no exterior reclamarem esse tipo de aplicação, segundo gestores que não querem se identificar.
O esquema de Madoff era altamente exclusivo. Não era acessível a qualquer interessado e nem sempre estava aberto a captações. Dentro de uma espécie de clubinho, tido para "poucos e bons", os investidores fecharam os olhos para a falta de controle do risco que corriam.
"Quando se trata de acreditar em algo conveniente para nós, ignoramos todas as evidências em contrário", diz Guterman.
Isso vale também para investidores menos sofisticados.
"Apesar de os pequenos investidores não terem condições de saber onde estava o truque, deveriam saber que havia um truque. Acreditar em Papai Noel não é coisa só de criança, como se viu", acrescenta.


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