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Após 11 anos, Brasil tem superávit externo
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A estagnação da economia fez
com que as contas externas do
Brasil fechassem 2003 no azul, segundo o Banco Central. A conta
de transações correntes -resultado da negociação de bens e serviços com outros países- ficou
positiva em US$ 4,051 bilhões.
Desde 1992 não se registrava superávit em transações correntes.
Foi também em 1992 que o Brasil
enfrentou sua última recessão.
Naquele ano, o PIB (Produto Interno Bruto, total de riquezas produzidas pelo país) encolheu
0,54%. Embora o resultado de
2003 ainda não tenha sido fechado, estima-se que ele tenha ficado
próximo de zero.
O superávit em transações correntes foi conseqüência do melhor desempenho da balança comercial. Esta, por sua vez, reflete a
desaceleração da economia. No
ano passado, as exportações superaram as importações em US$
24,825 bilhões, valor 89% maior
do que o de 2002.
A desaceleração da economia
teve dois efeitos sobre esse resultado: as importações não subiram
muito e muitas empresas foram
levadas a procurar o mercado externo porque, com a estagnação,
não conseguiam vender seus produtos dentro do Brasil.
"Que [o superávit das transações correntes] reflete também o
nível de atividade, é óbvio", afirma o chefe do Departamento Econômico do BC, Altamir Lopes. "É
evidente que, quando existe um
nível de atividade mais fraco, o
saldo da balança comercial é melhor. É uma relação direta."
O economista Paulo Nogueira
Batista Jr., professor da FGV
(Fundação Getúlio Vargas), diz
que o bom desempenho das contas externas era mais um motivo
para o BC reduzir os juros básicos. Anteontem, o Copom (Comitê de Política Monetária do BC)
surpreendeu e decidiu manter a
taxa em 16,5% ao ano. "Foi incompreensível. A situação externa favorece uma redução dos juros, até para evitar uma apreciação indesejável do câmbio."
Juros elevados estimulam a migração de investidores do mercado de câmbio para aplicações de
renda fixa, que se tornam mais
rentáveis. Isso levaria a uma queda excessiva do dólar, que, por
sua vez, poderia prejudicar as exportações brasileiras.
A vulnerabilidade externa da
economia sempre foi apontada
como um dos obstáculos ao crescimento do país. Isso porque, devido aos elevados gastos com encargos da dívida externa, o Brasil
precisou, nos últimos anos, limitar o crescimento da economia,
para que resultados positivos na
balança fossem produzidos.
Em 2004, com a expectativa de
retomada do nível de atividade
econômica, o BC projeta que o superávit comercial recue para US$
19 bilhões. Com isso, a conta de
transações correntes deve voltar a
ter déficit, estimado em US$ 4,4
bilhões.
Além da balança comercial, fazem parte da conta de transações
correntes a balança de serviços
(pagamento de juros, gastos com
viagens internacionais e remessas
de lucros, entre outros) e as transferências unilaterais (dinheiro enviado ao Brasil por residentes no
exterior e vice-versa).
Em 1992, o superávit em transações correntes somou US$ 6,109
bilhões, o que equivalia a 1,58%
do PIB da época. O saldo positivo
alcançado do ano passado representa, numa estimativa preliminar, 0,83% das riquezas produzidas pelo país.
Outro exemplo do impacto que
a estagnação da economia teve
sobre as contas externas é a queda
nos gastos de turistas brasileiros
com viagens internacionais. A redução nessas despesas é positiva
porque se traduz em uma menor
saída de dólares do país.
Em 2003, os turistas brasileiros
gastaram US$ 2,479 bilhões durante viagens ao exterior. Os estrangeiros, por sua vez, gastaram
US$ 2,261 bilhões no Brasil. O resultado foi um saldo de US$ 218
milhões. Foi o primeiro saldo positivo registrado pelo indicador
desde 1989.
(NEY HAYASHI DA CRUZ)
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