São Paulo, sexta-feira, 23 de janeiro de 2004

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Após 11 anos, Brasil tem superávit externo

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A estagnação da economia fez com que as contas externas do Brasil fechassem 2003 no azul, segundo o Banco Central. A conta de transações correntes -resultado da negociação de bens e serviços com outros países- ficou positiva em US$ 4,051 bilhões.
Desde 1992 não se registrava superávit em transações correntes. Foi também em 1992 que o Brasil enfrentou sua última recessão. Naquele ano, o PIB (Produto Interno Bruto, total de riquezas produzidas pelo país) encolheu 0,54%. Embora o resultado de 2003 ainda não tenha sido fechado, estima-se que ele tenha ficado próximo de zero.
O superávit em transações correntes foi conseqüência do melhor desempenho da balança comercial. Esta, por sua vez, reflete a desaceleração da economia. No ano passado, as exportações superaram as importações em US$ 24,825 bilhões, valor 89% maior do que o de 2002.
A desaceleração da economia teve dois efeitos sobre esse resultado: as importações não subiram muito e muitas empresas foram levadas a procurar o mercado externo porque, com a estagnação, não conseguiam vender seus produtos dentro do Brasil.
"Que [o superávit das transações correntes] reflete também o nível de atividade, é óbvio", afirma o chefe do Departamento Econômico do BC, Altamir Lopes. "É evidente que, quando existe um nível de atividade mais fraco, o saldo da balança comercial é melhor. É uma relação direta."
O economista Paulo Nogueira Batista Jr., professor da FGV (Fundação Getúlio Vargas), diz que o bom desempenho das contas externas era mais um motivo para o BC reduzir os juros básicos. Anteontem, o Copom (Comitê de Política Monetária do BC) surpreendeu e decidiu manter a taxa em 16,5% ao ano. "Foi incompreensível. A situação externa favorece uma redução dos juros, até para evitar uma apreciação indesejável do câmbio."
Juros elevados estimulam a migração de investidores do mercado de câmbio para aplicações de renda fixa, que se tornam mais rentáveis. Isso levaria a uma queda excessiva do dólar, que, por sua vez, poderia prejudicar as exportações brasileiras.
A vulnerabilidade externa da economia sempre foi apontada como um dos obstáculos ao crescimento do país. Isso porque, devido aos elevados gastos com encargos da dívida externa, o Brasil precisou, nos últimos anos, limitar o crescimento da economia, para que resultados positivos na balança fossem produzidos.
Em 2004, com a expectativa de retomada do nível de atividade econômica, o BC projeta que o superávit comercial recue para US$ 19 bilhões. Com isso, a conta de transações correntes deve voltar a ter déficit, estimado em US$ 4,4 bilhões.
Além da balança comercial, fazem parte da conta de transações correntes a balança de serviços (pagamento de juros, gastos com viagens internacionais e remessas de lucros, entre outros) e as transferências unilaterais (dinheiro enviado ao Brasil por residentes no exterior e vice-versa).
Em 1992, o superávit em transações correntes somou US$ 6,109 bilhões, o que equivalia a 1,58% do PIB da época. O saldo positivo alcançado do ano passado representa, numa estimativa preliminar, 0,83% das riquezas produzidas pelo país.
Outro exemplo do impacto que a estagnação da economia teve sobre as contas externas é a queda nos gastos de turistas brasileiros com viagens internacionais. A redução nessas despesas é positiva porque se traduz em uma menor saída de dólares do país.
Em 2003, os turistas brasileiros gastaram US$ 2,479 bilhões durante viagens ao exterior. Os estrangeiros, por sua vez, gastaram US$ 2,261 bilhões no Brasil. O resultado foi um saldo de US$ 218 milhões. Foi o primeiro saldo positivo registrado pelo indicador desde 1989.
(NEY HAYASHI DA CRUZ)


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