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São Paulo, domingo, 23 de fevereiro de 2003

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FÁBRICA DE LUCRO

Juro alto e "spread" fazem instituições do país terem rentabilidade de 23%; no México, taxa é de 17%

Bancos brasileiros são os mais rentáveis

GEORGIA CARAPETKOV
DA REPORTAGEM LOCAL

Os bancos brasileiros são, pelo segundo ano consecutivo, os mais rentáveis em comparação aos de outros países, como México, EUA, Itália, Espanha, Inglaterra e Canadá. Em 2002, a rentabilidade média dos seis maiores bancos brasileiros foi de 23%, enquanto no México, por exemplo, foi de 17% e, na Itália, de 9%.
Os juros altos obtidos com os títulos públicos e o "spread" bancário -a diferença entre a taxa de captação dos bancos e o valor cobrado para emprestar os recursos aos clientes- são os principais fatores que fazem a rentabilidade ser maior no Brasil.
Esse é o resultado de levantamento feito pela ABM Consulting, a pedido da Folha, mostrando a evolução da rentabilidade dos seis maiores bancos de cada país nos últimos três anos.
O principal indicador considerado no estudo foi a rentabilidade sobre o patrimônio líquido, que significa, percentualmente, quanto cada unidade monetária do patrimônio foi capaz de gerar de lucro. Ou seja, em média, para cada R$ 100 de patrimônio líquido, um banco canadense tem R$ 8 de lucro líquido, enquanto no Brasil esse valor sobe para R$ 23.
"A margem é muito alta porque as taxas reais dos juros são altas no Brasil. Os investidores estrangeiros se questionam quando os bancos brasileiros terão margens iguais às dos outros países da América Latina", diz Fabiana Arana, analista do setor de bancos da Schroder Brasil.
Segundo ela, à medida que o Brasil tiver uma diminuição do "spread", os bancos terão de buscar uma estrutura operacional mais adequada e competitiva.
Alan Marinovic, economista da ABM Consulting, ressalta que a principal forma de os bancos internacionais ganharem dinheiro em um ambiente de juros baixos é com o volume de crédito concedido. "Com a diminuição dos juros, os bancos brasileiros teriam de passar por grandes ajustes."
Mas Arana diz que, no atual patamar dos juros básicos (Selic em 26,5% ao ano), o estímulo para um banco aumentar seu volume de recursos emprestados é pequeno. "Para que se esforçar se eles podem aplicar em títulos públicos, ganhar juros altos do governo e ainda não correr riscos de inadimplência?", diz Arana.
Uma das principais justificativas dos bancos para não diminuir o "spread" bancário é o elevado grau de inadimplência. "E com a dificuldade em recuperar os bens, os bancos se sentem fragilizados e acabam aumentando o "spread'", diz Gustavo Hungria, analista do banco Pactual.
Mas apesar de haver atraso nos pagamentos e renegociação de dívidas, o indicador de insolvência da AMB, divulgado pela Folha em dezembro do ano passado, indica que apenas 5,82% do total de empréstimos não são pagos.

Especificidades
Alguns analistas dizem que a pesquisa não contempla algumas especificidades. "Cada banco tem um mix de negócios muito diferente, como a administração de recursos de terceiros, que quase não exige patrimônio e gera rentabilidade", diz Bruno Pereira, analista do UBS Warburg.
O analista Philip Harrison, do banco ING em Londres, afirma que é preciso tomar cuidado ao comparar bancos de diferentes países devido a eventuais formas de contabilizar os resultados.
Entretanto, bancos como o Itaú, Unibanco e Bradesco possuem ações na Bolsa de Nova York e, portanto, são obrigados a divulgar seus balanços segundo as exigências norte-americanas.



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