São Paulo, quarta-feira, 23 de fevereiro de 2005

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Economista descarta corrida ao euro

CÍNTIA CARDOSO
DA REPORTAGEM LOCAL

A intenção do governo da Coréia do Sul de diversificar as suas reservas internacionais não deve ser interpretada como um sinal de que os bancos centrais asiáticos vão promover uma corrida por ativos em euros.
Na avaliação de James Glassman, economista sênior do JP Morgan, em Nova York, esses países tendem a ser mais cautelosos com relação à administração de suas reservas. Um enfraquecimento demasiado do dólar, em decorrência de uma diminuição expressiva das reservas em dólares, terá como resultado uma apreciação das moedas asiáticas. Essa situação poderia gerar como efeito colateral uma indesejável perda de competitividade das exportações asiáticas.
A seguir, entrevista concedida por Glassman à Folha.

 


Folha - Hoje [ontem] o dólar sofreu uma forte queda em decorrência do anúncio da Coréia do Sul. O senhor concorda com essa interpretação? Houve uma reação exagerada dos mercados?
James Glassman -
Sim, concordo com essa interpretação, porque o dólar caiu imediatamente após o anúncio. Acredito que o mercado possa ter exagerado, mas sempre houve a preocupação de que, se as economias asiáticas se tornarem mais relutantes em deter e comprar ativos em dólar, a moeda americana tenderá a cair.

Folha - Quão forte é a tendência dos bancos centrais de diversificar as suas reservas internacionais?
Glassman -
Eu suspeito que os bancos centrais serão mais cautelosos nesse movimento de diversificação. Isso porque essa diversificação faz com que as moedas desses países se valorizem fortemente em relação ao dólar, o que pode provocar uma deterioração no crescimento das exportações.

Folha - Que bancos centrais parecem mais dispostos a diversificar as suas reservas?
Glassman -
Eu acredito que os bancos centrais asiáticos sejam os mais dispostos a diversificar, especialmente em euros. Eles são os principais detentores de dólares por causa do grande volume de superávits comerciais com os Estados Unidos. Logo, eles são os que, mais provavelmente, têm poder para mudar as suas reservas de modo mais agressivo. Mas, ao fazer isso, eles podem prejudicar o crescimento das exportações. A Europa permanece mais fechada em relações comerciais com a Ásia. Logo, uma elevação nas moedas asiáticas em relação ao dólar, em decorrência da diversificação das reservas, pode prejudicar o desempenho das exportações do continente.

Folha - O que pode ocorrer se houver uma corrida por diversificação de reservas?
Glassman -
Se os bancos centrais optarem pela diversificação em massa, veremos um queda do dólar ainda maior. Os prognósticos de crescimento para o Leste da Ásia se deteriorariam de modo significativo e o crescimento mundial diminuiria.

Folha - O dólar deva continuar a cair muito neste ano?
Glassman -
Muitos analistas estimam que o enfraquecimento do dólar vá continuar, apesar de que uma valorização das moedas asiáticas em relação ao dólar tiraria um pouco da pressão sobre o euro. Eu acredito que o dólar vá se estabilizar e se apreciar em relação ao euro, refletindo o caminho lento do crescimento europeu.

Folha - Qual é o impacto dessas intervenções de bancos centrais estrangeiros na taxa de juros de longo prazo dos EUA?
Glassman -
Um volume menor de compra de dólares por bancos centrais teria um efeito bem pequeno nas taxas de juros dos Estados Unidos.


Texto Anterior: Economia global: BC da Coréia do Sul derruba dólar e Bolsas
Próximo Texto: Petróleo sobe 6% e fecha no maior valor em 3 meses
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.