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Mantega nomeia crítico do BC para FMI
Paulo Nogueira Batista Jr. substituirá ao ortodoxo Eduardo Loyo em diretoria do Fundo, outro alvo de suas críticas
Economista da FGV participou da moratória durante o governo Sarney e defende mudanças na política econômica
GUILHERME BARROS
COLUNISTA DA FOLHA
O ministro da Fazenda, Guido Mantega, nomeou o economista "desenvolvimentista"
Paulo Nogueira Batista Jr. para
ocupar o cargo de diretor-executivo do Brasil no FMI (Fundo
Monetário Internacional), em
substituição ao ortodoxo
Eduardo Loyo.
A troca de guarda no FMI é
mais uma indicação do fim da
era de ortodoxia mais dura que
marcou a política econômica
no primeiro mandato do governo Lula, principalmente na
gestão de Antonio Palocci na
Fazenda.
O economista Paulo Nogueira Batista Jr., 51, é conhecido
não só por ser um dos mais ácidos críticos da política de juros
do Banco Central como também do próprio FMI. Colunista
da Folha, em seus artigos mais
recentes, ele próprio já vinha
registrando sinais de mudanças na política econômica.
Polêmico, sua maior divergência, nos últimos tempos, era
com o Banco Central. Ao comentar o PAC (Programa de
Aceleração do Crescimento),
considerou o plano positivo,
mas afirmou que o seu sucesso
dependia principalmente do
BC. "Quem garante que o comando do Banco Central -xiita como é- não frustará a expectativa do mercado de um
declínio gradual dos juros?",
indagou Nogueira.
Autor do livro "O Brasil e a
Economia Internacional: Recuperação e Defesa da Autonomia Nacional" (Campus/Elsevier, 2005), Paulo Nogueira
disse, também sobre o PAC, em
outro artigo, que "ainda subsistem dois redutos fundamentais
da era FMI-Malan-Palocci: o
Banco Central e a Receita Federal".
Moratória
O economista foi também
um dos formuladores -e defensores- da moratória da dívida externa adotada pelo governo Sarney em 1987 e que
agora completa 20 anos. Na
época, ele era responsável pela
área internacional da Fazenda.
Já Eduardo Loyo, que pediu a
Mantega para deixar o cargo,
tem um perfil frontalmente
oposto. Ele foi considerado um
dos principais pilares do período mais conservador do governo Lula, que ficou conhecido
como Era Palocci, durante o
período em que ocupou uma
das diretorias do Banco Central, de 2003 a 2005, quando foi
nomeado representante do
Brasil no FMI.
Loyo e Afonso Bevilaqua, diretor do Banco Central e que
também deve sair do governo,
eram apontados como os maiores defensores da política de juros altos.
Mudança gradual
Desde que assumiu a Fazenda, Mantega, também "desenvolvimentista" e que era professor da FGV-SP com Paulo
Nogueira até se tornar ministro, tem pouco a pouco imprimido a sua marca. As nomeações, no ano passado, de nomes
como os de Júlio Sérgio Gomes
de Almeida e de Luiz Eduardo
Melin para cargos importantes
na Fazenda já davam indicações dessa mudança gradual na
linha econômica do governo.
O ex-ministro Luiz Carlos
Bresser-Pereira considerou
bastante positiva a nomeação
de Nogueira para o FMI e indicativa de mudança na política
econômica. Mas a guinada na
política só será sacramentada,
ao seu ver, quando mudar o
Banco Central. "Enquanto não
mudar o BC, o Ministério da
Fazenda continuará manietado", afirmou Bresser.
Já o economista Celso Toledo, da MCM Consultores Associados, achou irônica a ida de
Paulo Nogueira para o FMI, já
que ele sempre foi um dos
maiores críticos do Fundo.
"O maior crítico da ortodoxia
acabou indo parar no local mais
ortodoxo da ortodoxia. Ou ele
dobra o FMI ou o FMI dobra
ele", afirmou.
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