São Paulo, sexta-feira, 23 de fevereiro de 2007

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Mantega nomeia crítico do BC para FMI

Paulo Nogueira Batista Jr. substituirá ao ortodoxo Eduardo Loyo em diretoria do Fundo, outro alvo de suas críticas

Economista da FGV participou da moratória durante o governo Sarney e defende mudanças na política econômica


GUILHERME BARROS
COLUNISTA DA FOLHA

O ministro da Fazenda, Guido Mantega, nomeou o economista "desenvolvimentista" Paulo Nogueira Batista Jr. para ocupar o cargo de diretor-executivo do Brasil no FMI (Fundo Monetário Internacional), em substituição ao ortodoxo Eduardo Loyo.
A troca de guarda no FMI é mais uma indicação do fim da era de ortodoxia mais dura que marcou a política econômica no primeiro mandato do governo Lula, principalmente na gestão de Antonio Palocci na Fazenda.
O economista Paulo Nogueira Batista Jr., 51, é conhecido não só por ser um dos mais ácidos críticos da política de juros do Banco Central como também do próprio FMI. Colunista da Folha, em seus artigos mais recentes, ele próprio já vinha registrando sinais de mudanças na política econômica.
Polêmico, sua maior divergência, nos últimos tempos, era com o Banco Central. Ao comentar o PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), considerou o plano positivo, mas afirmou que o seu sucesso dependia principalmente do BC. "Quem garante que o comando do Banco Central -xiita como é- não frustará a expectativa do mercado de um declínio gradual dos juros?", indagou Nogueira.
Autor do livro "O Brasil e a Economia Internacional: Recuperação e Defesa da Autonomia Nacional" (Campus/Elsevier, 2005), Paulo Nogueira disse, também sobre o PAC, em outro artigo, que "ainda subsistem dois redutos fundamentais da era FMI-Malan-Palocci: o Banco Central e a Receita Federal".

Moratória
O economista foi também um dos formuladores -e defensores- da moratória da dívida externa adotada pelo governo Sarney em 1987 e que agora completa 20 anos. Na época, ele era responsável pela área internacional da Fazenda.
Já Eduardo Loyo, que pediu a Mantega para deixar o cargo, tem um perfil frontalmente oposto. Ele foi considerado um dos principais pilares do período mais conservador do governo Lula, que ficou conhecido como Era Palocci, durante o período em que ocupou uma das diretorias do Banco Central, de 2003 a 2005, quando foi nomeado representante do Brasil no FMI.
Loyo e Afonso Bevilaqua, diretor do Banco Central e que também deve sair do governo, eram apontados como os maiores defensores da política de juros altos.

Mudança gradual
Desde que assumiu a Fazenda, Mantega, também "desenvolvimentista" e que era professor da FGV-SP com Paulo Nogueira até se tornar ministro, tem pouco a pouco imprimido a sua marca. As nomeações, no ano passado, de nomes como os de Júlio Sérgio Gomes de Almeida e de Luiz Eduardo Melin para cargos importantes na Fazenda já davam indicações dessa mudança gradual na linha econômica do governo.
O ex-ministro Luiz Carlos Bresser-Pereira considerou bastante positiva a nomeação de Nogueira para o FMI e indicativa de mudança na política econômica. Mas a guinada na política só será sacramentada, ao seu ver, quando mudar o Banco Central. "Enquanto não mudar o BC, o Ministério da Fazenda continuará manietado", afirmou Bresser.
Já o economista Celso Toledo, da MCM Consultores Associados, achou irônica a ida de Paulo Nogueira para o FMI, já que ele sempre foi um dos maiores críticos do Fundo.
"O maior crítico da ortodoxia acabou indo parar no local mais ortodoxo da ortodoxia. Ou ele dobra o FMI ou o FMI dobra ele", afirmou.


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