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Governo não conseguiu evitar a escalada da moeda dos EUA
Para BC, disparada do dólar pode trazer a híper de volta
FABRICIO VIEIRA
DE BUENOS AIRES
O governo assistiu impotente à
espetacular escalada do dólar na
Argentina, ontem. Nada do que o
Banco Central fez conteve a fúria
dos compradores, que levou a
moeda norte-americana a disparar 19,2% e alcançar a cotação de
3,10 pesos.
O presidente Eduardo Duhalde,
que chega hoje do México, já convocou uma reunião com todos os
seus ministros para discutir o
agravamento da crise após o descontrole do dólar.
O presidente do Banco Central
argentino, Mario Blejer, declarou
nesta semana que o dólar acima
dos 2,80 pesos poderia se tornar
incontrolável e desencadear a volta da hiperinflação ao país.
Com o dólar acima de 3 pesos
ontem, economistas e analistas do
mercado argentino já acreditam
em uma mudança radical de rumo na política econômica do governo, o que pode incluir o retorno do câmbio fixo e da conversibilidade, uma possibilidade não
descartada por Duhalde.
"A pressão por mudanças depois do descontrole do dólar que
houve hoje [ontem" vai crescer
rapidamente. Duhalde e, principalmente, os membros de sua
equipe econômica estão altamente ameaçados. Serão semanas difíceis, que talvez incluam um novo
plano econômico", afirma Martín
Lynch, economista e sócio da Delphos Investment.
Blejer convocou uma reunião
de emergência com os banqueiros
para discutir estratégias para tentar controlar o câmbio.
O Banco Central não quis confirmar nem desmentir a possibilidade de ser instituído feriado
cambial e bancário a partir de segunda-feira.
Rumores de feriado
Rumores de todo tipo alimentaram as longas filas nas casas de
câmbio e nos bancos. Enquanto o
dólar subia, falou-se em demissão
do presidente do Banco Central e
do ministro da Economia, Jorge
Remes Lenicov, da volta da conversibilidade (eliminada em janeiro) e da decretação de feriado
bancário e cambial durante a próxima semana.
"O governo não pensa em mudar as regras do jogo econômico",
afirmou José Pampuro, secretário
de Coordenação da Presidência,
tentando, sem sucesso, acalmar
os ânimos do mercado.
Com a alta de ontem, o peso
acumula desvalorização de 68%
diante do dólar desde o fim da
conversibilidade.
A intervenções, infrutíferas até
o momento, já consumiram cerca
de US$ 1,2 bilhão das reservas internacionais do país.
Somente ontem foram mais
US$ 70 milhões. Sem reajuste de
salários, os argentinos sofrem
com a perda progressiva e acelerada de poder aquisitivo.
O governo teme a intensificação
dos protestos após a mostra de
debilidade de ontem. Amanhã
haverá uma manifestação na praça de Maio que reunirá os "partidos de vizinhos", desempregados
e grupos de esquerda.
Sinais do mercado
Na quarta-feira, o mercado já tinha dado sinais de que o dólar poderia sair do controle a qualquer
momento.
O endurecimento do discurso
do presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, e da vice-diretora-gerente do Fundo, Anne
Krueger, que pediram reformas
mais drásticas para que o país tenha condições de receber socorro
financeiro dos organismos internacionais, aumentou a desconfiança dos argentinos nos rumos
que o governo tem dado ao país.
"O dólar disparou de forma irreversível. Não volta para os patamares ambicionados pelo governo de jeito nenhum. Ninguém
tem mais confiança no programa
econômico do governo", disse o
economista Santiago Gallichio, da
consultoria Exante.
Em um dia de forte pessimismo,
os argentinos também buscaram
refugio na Bolsa de Valores do
país. O Merval disparou 6,68% e
girou 52 milhões de pesos.
No mercado futuro, a escalada
também foi forte, o que mostra as
perspectivas negativas para o
câmbio. Nos contratos que projetam o preço do dólar para daqui a
um mês, a moeda dos Estados
Unidos fechou cotada a 3,40 pesos. Para daqui a um ano, as apostas são do dólar comercializado a
5,50 pesos.
Perdido, o governo decidiu atacar todas as pontas que podia. Os
"arbolitos" -pessoas que vendem dólares de forma ilegal nas
ruas- foram um dos alvos.
Cerca de 200 deles foram presos
pela Polícia Federal por praticar
venda ilegal de moeda estrangeira, além de serem acusados de repassar notas falsas. Enquanto o
câmbio estava mais calmo a polícia os deixou agir sem intervenções.
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