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LUÍS NASSIF
O caso Opportunity e o Citibank
A sentença da Commow
Law (a Suprema Corte inglesa) contra Daniel Dantas
-no processo que lhe é movido
por seu ex-sócio Luiz Demarco- é a última de uma sequência de decisões da Justiça inglesa, destinada a ampla repercussão não só em âmbito nacional
como internacional.
Antes dela, Dantas sofreu condenação criminal pela Grande
Corte de Grand Cayman por desobediência a ordem judicial.
Com ele foi multado o Fundo
CVC/Opportunity. Na condição
de único investidor do fundo, o
Citibank fica em situação delicada.
Além disso, Dantas foi condenado a escrever para a Procuradoria Geral da Justiça do Estado
do Rio de Janeiro, confessando
dois crimes: uso de documento
roubado e difamação caluniosa.
No meio do processo ocorreu
furto de e-mail de Demarco. Os
e-mails chegaram até o Opportunity. Dantas selecionou um
deles -uma carta trocada entre
Demarco e a TIW, canadense,
que também processa o Opportunity-, divulgou para a mídia
a tese de que o e-mail comprovava uma conspiração entre
ambos e entrou com uma notícia-crime contra Demarco na
Procuradoria Geral da Justiça
do Estado do Rio de Janeiro.
Na carta, Dantas admite que
protocolou a notícia-crime depois de ter sido alertado pela
Grande Corte de Cayman de
que "o documento da TIW era
um documento confidencial,
furtado ao sr. Demarco e que
evidencia em seu conteúdo nada além de um acordo para o
compartilhamento dos serviços
dos advogados para a representação das partes TIW/Demarco
nos processos perante a Grande
Corte das Ilhas Cayman". A carta foi encaminhada à Procuradoria por ordem expressa da
Grande Corte de Cayman.
Na sequência de decisões desastrosas, protocolou a carta informando incorretamente o número do processo. A carta fazia
referência a uma notícia-crime
número 037352. O correto é
027352. Quase se perdeu nos escaninhos da Procuradoria.
A sentença da Common Law
permite, em princípio, abrir o
processo de dissolução do CVC/
Opportunity. Dificilmente se
conseguirá, mas o simples início
do processo paralisaria a companhia, daí o fato de o Opportunity ter apelado à alta corte britânica.
Lá só se julgam casos destinados a criar jurisprudência. Assim que a sentença for assinada
pela rainha Elizabeth 2ª, o caso
irá regular as relações entre majoritários e minoritários do Reino Unido e de países que seguem suas recomendações legais. Na sentença os juizes acusam Dantas de ter alterado sua
versão três vezes.
O balanço do Citibank
O ponto mais relevante desse
tiroteio se verá no próximo balanço auditado do Citibank, que
está para sair. O caso Enron levou as empresas de auditoria a
um rigor extremo em suas avaliações.
O questionamento que o caso
Enron provocou no mercado e
no mundo jurídico norte-americano se deve ao fato de ter usado
vários trustes e "limited partnerships", colocados sob controle de terceiros. No caso da
Enron, essas empresas eram utilizadas para colocar passivos e
ativos em uma espécie de balanço informal. Como eram "controlados" por terceiros, sofriam
uma auditoria diferente. Criou-se um "imbróglio" contábil pouco transparente. O balanço da
controladora era constituído pela soma de balanços dos trustes
e "LPs" que, por já terem sido
auditados, não sofriam uma nova averiguação por parte da
empresa que auditava a Enron.
Se houvesse algum problema, a
culpa era do trustes.
A SEC americana mudou sua
maneira de avaliar a questão e
constatou o óbvio: como quem
paga a conta são os acionistas
da empresa-mãe, a auditoria da
empresa tem que auditar a auditoria das controladas.
E aí se entra em uma questão
conceitual complexa, em um
mercado com medo pânico de
questões complexas. O fundo
CVC/Opportunity é uma "LP"
cujo único acionista é o Citibank. Por qual valor devem ser
contabilizadas as participações
do CVC nas teles? Uma visão
conservadora diria que é pela
soma do valor das ações que o
fundo tem nas teles. No caso do
CVC existe um prêmio de controle, que teria que ser aceito pelo neoconservador mercado
norte-americano.
O Citibank investiu US$ 700
milhões no CVC/Opportunity.
Pelos valores de mercado sua
carteira soma US$ 200 milhões.
Logo deveria realizar prejuízo
de pelo menos US$ 500 milhões.
O próximo balanço do Citibank
poderá desfazer esse mistério,
assim como informar o mercado
o quanto o banco avançou na
constituição de trustes e "LPs".
E-mail - lnassif@uol.com.br
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