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Para Brasil, retaliação da UE deteriora o clima
DO ENVIADO ESPECIAL A MONTERREY
Avisado em Monterrey de que a
União Européia se prepara para
impor retaliações ao pacote de defesa do aço, baixado há duas semanas pelos Estados Unidos, o
negociador-chefe do Brasil para
assuntos comerciais, Clodoaldo
Hugueney, faz um apelo: "Que os
europeus pensem duas vezes,
porque se as grandes potências
comerciais tomam medidas daqui e dali, o clima se deteriora e
acaba tendo impacto até na recuperação da economia mundial".
Hugueney ligou para Bruxelas,
para informar-se melhor das medidas européias, e ficou sabendo
que o conteúdo delas não está claro ainda. Os europeus estariam
estudando como enquadrar as retaliações nas regras da OMC (Organização Mundial do Comércio)
que, em tese, impedem discriminar um país especificamente.
Mas, em Monterrey, o presidente da Comissão Européia, Romano Prodi, foi muito claro: as retaliações seriam "feitas sob medida
e direcionadas aos Estados Unidos". Fez questão de dizer que
não afetarão nem o Brasil nem os
países em desenvolvimento.
Ainda que seja assim, a diplomacia brasileira não esconde o incômodo com o ambiente de virtual guerra comercial que se vai
criando justamente entre as duas
maiores potências do planeta, os
Estados Unidos e a União Européia.
"EUA e UE têm uma responsabilidade muito grande, especialmente no momento em que a economia mundial está voltando ao
crescimento", diz Hugueney. "A
indústria siderúrgica é muito importante e, desse jeito, a economia
mundial volta à recessão."
Assim como Prodi, Hugueney
não poupa críticas à decisão norte-americana de proteger seus
produtores de aço. Lembra que
uma de suas primeiras missões
diplomáticas, há quase 40 anos,
foi exatamente discutir a questão
do aço com os Estados Unidos.
"Eles têm uma história muito
antiga de proteção ao aço. Se continuarem protegendo, não haverá
espaço para a reestruturação do
setor", diz o embaixador.
Ele lembrou que o Brasil, ao
contrário, fez a sua reestruturação
na siderurgia, o que custou mais
de 100 mil empregos. "É muito
para um país como o Brasil", diz.
Prodi, por sua vez, diz que o pacote norte-americano sobre o aço
"é completamente injustificável".
O argumento europeu segue as
regras da OMC, pelas quais um
país só pode impor restrições a
um dado bem se ficar provado
que houve uma explosão de importações e que elas afetaram a indústria local.
"Nos últimos três anos, não
houve aumento das importações", afirma o presidente da Comissão Européia, braço executivo
do conglomerado de 15 países.
As restrições européias, se atingirem o Brasil, acabarão por envenenar o ambiente para a Cúpula
União Européia-Mercosul, marcada para maio em Madri (Espanha).
A Folha perguntou a José María
Aznar, o primeiro-ministro espanhol e presidente de turno da UE,
se a cúpula seria prejudicada.
Ele saiu pela tangente. Preferiu
lembrar que a União Européia deseja uma "associação estratégica"
não apenas com o Mercosul mas
com todos os países latino-americanos e com o Caribe.
(CR)
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