São Paulo, sábado, 23 de março de 2002

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Para Brasil, retaliação da UE deteriora o clima

DO ENVIADO ESPECIAL A MONTERREY

Avisado em Monterrey de que a União Européia se prepara para impor retaliações ao pacote de defesa do aço, baixado há duas semanas pelos Estados Unidos, o negociador-chefe do Brasil para assuntos comerciais, Clodoaldo Hugueney, faz um apelo: "Que os europeus pensem duas vezes, porque se as grandes potências comerciais tomam medidas daqui e dali, o clima se deteriora e acaba tendo impacto até na recuperação da economia mundial".
Hugueney ligou para Bruxelas, para informar-se melhor das medidas européias, e ficou sabendo que o conteúdo delas não está claro ainda. Os europeus estariam estudando como enquadrar as retaliações nas regras da OMC (Organização Mundial do Comércio) que, em tese, impedem discriminar um país especificamente.
Mas, em Monterrey, o presidente da Comissão Européia, Romano Prodi, foi muito claro: as retaliações seriam "feitas sob medida e direcionadas aos Estados Unidos". Fez questão de dizer que não afetarão nem o Brasil nem os países em desenvolvimento.
Ainda que seja assim, a diplomacia brasileira não esconde o incômodo com o ambiente de virtual guerra comercial que se vai criando justamente entre as duas maiores potências do planeta, os Estados Unidos e a União Européia.
"EUA e UE têm uma responsabilidade muito grande, especialmente no momento em que a economia mundial está voltando ao crescimento", diz Hugueney. "A indústria siderúrgica é muito importante e, desse jeito, a economia mundial volta à recessão."
Assim como Prodi, Hugueney não poupa críticas à decisão norte-americana de proteger seus produtores de aço. Lembra que uma de suas primeiras missões diplomáticas, há quase 40 anos, foi exatamente discutir a questão do aço com os Estados Unidos.
"Eles têm uma história muito antiga de proteção ao aço. Se continuarem protegendo, não haverá espaço para a reestruturação do setor", diz o embaixador.
Ele lembrou que o Brasil, ao contrário, fez a sua reestruturação na siderurgia, o que custou mais de 100 mil empregos. "É muito para um país como o Brasil", diz.
Prodi, por sua vez, diz que o pacote norte-americano sobre o aço "é completamente injustificável". O argumento europeu segue as regras da OMC, pelas quais um país só pode impor restrições a um dado bem se ficar provado que houve uma explosão de importações e que elas afetaram a indústria local.
"Nos últimos três anos, não houve aumento das importações", afirma o presidente da Comissão Européia, braço executivo do conglomerado de 15 países.
As restrições européias, se atingirem o Brasil, acabarão por envenenar o ambiente para a Cúpula União Européia-Mercosul, marcada para maio em Madri (Espanha).
A Folha perguntou a José María Aznar, o primeiro-ministro espanhol e presidente de turno da UE, se a cúpula seria prejudicada.
Ele saiu pela tangente. Preferiu lembrar que a União Européia deseja uma "associação estratégica" não apenas com o Mercosul mas com todos os países latino-americanos e com o Caribe. (CR)


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