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OPINIÃO ECONÔMICA
Se a hora passar, adeus
BENJAMIN STEINBRUCH
A redução da taxa de juros
de 16,5% para 16,25%, decidida pelo Banco Central na semana passada, foi uma demonstração de boa vontade. Só isso, nada
mais. Na verdade, foi um ato simbólico, uma esmola para a economia, que precisa de muito mais
para ganhar fôlego e retomar o
crescimento continuado.
Depois desse "corte mínimo",
como estampou a Folha em sua
manchete de quinta-feira, o Brasil continuou ainda folgadamente na liderança do ranking dos juros reais no mundo. Agora, a taxa
real no Brasil está estimada em
10,32% ao ano. Em segundo lugar
vem a Turquia, com 8,5%, e, em
terceiro, a África do Sul, com
7,7%.
Essa comparação mostra que os
juros continuam distorcidos no
Brasil. Sem a menor dúvida, eles
não precisam ser tão altos, e o
Banco Central já poderia tê-los
cortado havia muito tempo sem
risco de irresponsabilidade monetária.
O Banco Central fixa a taxa básica de juros de olho na inflação,
focado na meta estabelecida pelo
CMN (Conselho Monetário Nacional), neste ano de 5,5%. Primeiro, essa meta já é ambiciosa
demais, levando-se em conta que
houve um verdadeiro choque das
commodities -os preços internacionais aumentaram em média
30% em um ano. Absorver esse
choque sem mexer na meta exige
um sacrifício enorme e nada impede que ela seja revista pelo
CMN. Segundo, mesmo que não
seja revista, ela já incorpora um
intervalo de variação de 2,5 pontos percentuais para cima ou para baixo. Na prática, portanto, há
uma margem de tolerância para
aceitar inflação de até 8% em
2004.
Por que insistir em atingir o
centro do alvo? Quanto está custando e quanto ainda vai custar
esse preciosismo ao país? Essas
são duas perguntas que devem ser
feitas aos responsáveis pela condução da política monetária. A
resposta à segunda pergunta todos sabemos. Basta olhar os números do PIB (Produto Interno
Bruto) e do desemprego no ano
passado.
A meta de inflação tem sido definida, com base na vontade dos
três integrantes do CMN, os ministros da Fazenda e do Planejamento e o presidente do Banco
Central. A importância dessa meta exige que ela seja mais amplamente discutida, por representantes de trabalhadores, empresários
e gente do meio acadêmico. Já temos uma boa experiência de um
CMN amplo, com participações
extragoverno, que poderia ser
reeditada.
A sabedoria não está em conseguir a estabilidade de preços, mas
sim em crescer com estabilidade.
Os brasileiros não merecem viver
mais uma década como a passada, quando as economias emergentes e desenvolvidas tiveram
forte crescimento, enquanto o
Brasil patinou, obstinado com a
estabilidade. Nos oito anos do governo FHC, o país cresceu apenas
20%, enquanto os países emergentes cresceram em média 50%,
e os EUA, 30%.
Infelizmente, o Brasil não embarcou nesse bonde de crescimento, que acabou em 2001. Agora,
está passando outro bonde, porque as economias desenvolvidas
retomaram a expansão. Há demanda crescente em todos os blocos econômicos, principalmente
na América do Norte e na Ásia, e
há grande liquidez no mercado
internacional, que favorece o ingresso de recursos no país. Além
disso, existe boa vontade dos mercados em relação aos países emergentes, especialmente com o Brasil, que não é mais vítima de desconfianças que no passado recente inviabilizavam o acesso do governo e do setor privado a recursos externos.
É óbvio que o Brasil tem de
aproveitar este momento. A boa
fase pode acabar na hora em que
houver um acidente qualquer no
percurso da economia internacional, como a quebra de um emergente, guerras ou novos atentados
terroristas. É ingênuo achar que
podemos deixar para expandir a
produção no momento em que o
governo brasileiro considerar o
país preparado para isso. Se a hora passar, adeus.
Poucas vezes o país teve tantos
fatores favoráveis à volta do crescimento. As conseqüências dos
cortes de juros feitos pelo Banco
Central no segundo semestre do
ano passado já foram sentidas na
economia. O emprego cresceu no
primeiro bimestre deste ano. Mas
isso não é suficiente. Continua incompreensível o comportamento
do BC neste ano. Contra a opinião quase unânime do mercado,
o Copom manteve a taxa em
16,5% nas reuniões de janeiro e
fevereiro e ofereceu essa pífia redução de 0,25 ponto percentual
na semana passada. Assim não
há como criar clima favorável para os investimentos e o crescimento sustentado da produção e do
emprego.
Benjamin Steinbruch, 50, empresário,
é diretor-presidente da Companhia Siderúrgica Nacional e presidente do conselho de administração da empresa.
E-mail - bvictoria@psi.com.br
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