São Paulo, terça-feira, 23 de março de 2004

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TANGO

País poderá ser obrigado a aumentar juros e superávit primário "no médio prazo", diz Anne Krueger, dirigente do Fundo

FMI aprova revisão com Argentina, mas endurece cobranças

FERNANDO CANZIAN
DE WASHINGTON

Os 24 membros do comitê executivo do FMI (Fundo Monetário Internacional) aprovaram ontem, por unanimidade, a segunda revisão do acordo com a Argentina, ao permitir um novo desembolso de US$ 3,1 bilhões ao país.
Na revisão, houve um endurecimento das cobranças e alguns países condicionaram o apoio futuro à Argentina ao cumprimento das metas acertadas ontem.
A diretora-gerente interina do Fundo, Anne Krueger, afirmou que a Argentina poderá ser obrigada a apertar sua política monetária (leia-se aumentar juros) em razão de um crescente "gargalo" no setor produtivo, que poderá pressionar a inflação.
Krueger disse ainda que a "rápida recuperação" argentina permitirá ao governo "aumentar sua poupança na área fiscal no médio prazo, conforme compromisso assumido na carta de intenções".
Isso significa que a Argentina deverá ser obrigada "no médio prazo" a aumentar acima dos atuais 3% do PIB (Produto Interno Bruto) o seu superávit primário (economia para pagar juros).
O Fundo qualificou com "bem-vindo" o "compromisso" argentino de avançar nas negociações com seus credores sobre a dívida em moratória de US$ 88 bilhões.
A Argentina, segundo Krueger, apresentou o nome de seis bancos de investimento (três dos quais estrangeiros) para supervisionar o processo de negociação e se comprometeu a reunir-se em Buenos Aires, entre os dias 24 de março e 16 de abril, com representantes de 25 grupos de credores internacionais.
"Uma implementação consistente da reestruturação da dívida será essencial para a continuidade do apoio internacional [à Argentina]", disse Krueger.
Segundo um dos participantes da reunião, embora a revisão tenha sido aprovada por unanimidade, houve "níveis diferentes de satisfação, alguns bastante baixos", com o comprometimento argentino.
Países como a Suécia e a Itália teriam votado ontem a favor dos argentinos com a condição de o país cumprir todos os detalhes acertados nessa segunda revisão.
Em janeiro, durante a primeira revisão do atual acordo, 8 entre os 24 países que integram o comitê executivo se abstiveram de votar a favor da Argentina.
Já na próxima revisão, prevista para junho, deverá ocorrer uma rigorosa avaliação dando conta se a Argentina de fato cumpriu o que foi acordado.
A maior preocupação de alguns países durante a reunião de ontem ainda ficou concentrada no andamento das negociações entre a Argentina e seus credores.
Os EUA, maiores acionistas do FMI, também já haviam prometido ao Congresso americano pressionar a Argentina a aumentar a meta de superávit primário.
Krueger afirmou também que a Argentina precisará "fazer esforços adicionais" para melhorar as tarifas de concessionárias de serviços públicos. "Uma importante prioridade nessa área é desenvolver um sistema regulatório", afirma Krueger.
Parte do problema, relacionado aos preços cobrados de grandes consumidores desses serviços, já estaria equacionada.
Na área bancária, o Fundo quer que Argentina "acelere o pagamento de compensações e leve adiante um calendário para uma revisão estratégica de seus dois principais bancos públicos".
O atual acordo entre o Fundo e a Argentina foi assinado em setembro passado, é válido por três anos e prevê desembolsos totais de US$ 13,3 bilhões ao país.


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