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BASTIDORES
Medida depende de ação de Lula
SHEILA D"AMORIM
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A situação cada vez mais
delicada do ministro Antonio Palocci Filho (Fazenda) tem
reforçado as disputas internas entre os técnicos da área econômica
e os demais ministérios. Inspirados nos recentes pacotes de bondades que vêm marcando este
ano de campanha eleitoral, ministros que passaram os últimos três
anos chorando a falta de dinheiro
para tocar projetos têm aproveitado para desengavetar propostas
antigas.
A combinação de um Palocci
fragilizado no olho do furacão político com a cobrança do setor
produtivo por mais crescimento
econômico e a necessidade de gerar resultados que possam ser
usados na campanha eleitoral a
favor do governo pesa contra a
área econômica.
As pressões dos ministros sobre
o presidente Luiz Inácio Lula da
Silva foram intensificadas. Depois
da disputa pelo aumento do salário mínimo e do reajuste da tabela
do IR (Imposto de Renda), o
exemplo mais recente vem do
campo, um área que registra o
pior desempenho dos últimos
tempos.
Paralelamente às discussões sobre liberação de recursos para comercialização da safra e a renegociação de dívidas agrícolas, começou a ser elaborado um conjunto
de medidas para resolver problemas estruturais do setor. O pacote
já foi até apelidado de MP do Bem
Agrícola.
Propostas antigas
Muitas dessas medidas são propostas antigas que estavam engavetadas na agricultura por falta de
acordo com a área econômica.
Elas já foram apresentadas ao presidente Lula pelo ministro da
Agricultura, Roberto Rodrigues, e
entregues pessoalmente ao ministro Palocci.
Avaliações dentro do governo,
no entanto, são que, sem "uma
determinação forte" do presidente, dificilmente as conversas irão
evoluir. Primeiro porque elas envolvem redução de impostos para
o setor, o que já faz a equipe econômica torcer o nariz. Depois,
porque, com o afastamento de
Palocci, que tem participado pouco da rotina do ministério, quem
está à frente das discussões é o secretário-executivo, Murilo Portugal, apelidado de "doutor no", por
conta da quantidades de "não"
que carrega na bagagem.
Por isso, avalia-se que, assim como aconteceu nas discussões recentes, incluindo a permissão para abater do Imposto de Renda a
contribuição patronal paga para
os empregados domésticos, a MP
do Bem do setor agrícola só vai
andar se o presidente Lula determinar que haja uma solução para
o problema.
Ânimo
Ontem, Rodrigues esteve reunido com o presidente Lula e saiu
do encontro animado. Nos bastidores do governo, acredita-se que
será possível contar com o aval do
presidente da República para
avançar nos debates.
Para os técnicos da Fazenda, a
situação atual, em que a ameaça
de uma superoferta derrubar os
preços, é favorável porque ajuda a
conter a inflação. O problema é
que, ao abandonar o setor rural,
que vive uma das piores crises, o
presidente poderá gerar prejuízos
políticos significativos em Estados agrícolas que tiveram um desempenho econômico ruim pelo
efeito cascata que o setor rural
tem na indústria e serviços.
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