São Paulo, quinta-feira, 23 de março de 2006

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BASTIDORES

Medida depende de ação de Lula

SHEILA D"AMORIM DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A situação cada vez mais delicada do ministro Antonio Palocci Filho (Fazenda) tem reforçado as disputas internas entre os técnicos da área econômica e os demais ministérios. Inspirados nos recentes pacotes de bondades que vêm marcando este ano de campanha eleitoral, ministros que passaram os últimos três anos chorando a falta de dinheiro para tocar projetos têm aproveitado para desengavetar propostas antigas.
A combinação de um Palocci fragilizado no olho do furacão político com a cobrança do setor produtivo por mais crescimento econômico e a necessidade de gerar resultados que possam ser usados na campanha eleitoral a favor do governo pesa contra a área econômica.
As pressões dos ministros sobre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva foram intensificadas. Depois da disputa pelo aumento do salário mínimo e do reajuste da tabela do IR (Imposto de Renda), o exemplo mais recente vem do campo, um área que registra o pior desempenho dos últimos tempos.
Paralelamente às discussões sobre liberação de recursos para comercialização da safra e a renegociação de dívidas agrícolas, começou a ser elaborado um conjunto de medidas para resolver problemas estruturais do setor. O pacote já foi até apelidado de MP do Bem Agrícola.

Propostas antigas
Muitas dessas medidas são propostas antigas que estavam engavetadas na agricultura por falta de acordo com a área econômica. Elas já foram apresentadas ao presidente Lula pelo ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, e entregues pessoalmente ao ministro Palocci.
Avaliações dentro do governo, no entanto, são que, sem "uma determinação forte" do presidente, dificilmente as conversas irão evoluir. Primeiro porque elas envolvem redução de impostos para o setor, o que já faz a equipe econômica torcer o nariz. Depois, porque, com o afastamento de Palocci, que tem participado pouco da rotina do ministério, quem está à frente das discussões é o secretário-executivo, Murilo Portugal, apelidado de "doutor no", por conta da quantidades de "não" que carrega na bagagem.
Por isso, avalia-se que, assim como aconteceu nas discussões recentes, incluindo a permissão para abater do Imposto de Renda a contribuição patronal paga para os empregados domésticos, a MP do Bem do setor agrícola só vai andar se o presidente Lula determinar que haja uma solução para o problema.

Ânimo
Ontem, Rodrigues esteve reunido com o presidente Lula e saiu do encontro animado. Nos bastidores do governo, acredita-se que será possível contar com o aval do presidente da República para avançar nos debates.
Para os técnicos da Fazenda, a situação atual, em que a ameaça de uma superoferta derrubar os preços, é favorável porque ajuda a conter a inflação. O problema é que, ao abandonar o setor rural, que vive uma das piores crises, o presidente poderá gerar prejuízos políticos significativos em Estados agrícolas que tiveram um desempenho econômico ruim pelo efeito cascata que o setor rural tem na indústria e serviços.


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