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Investidores ainda fogem da poupança
Processo de queda de juros pode favorecer a aplicação, mas por enquanto o que se vê é fuga de recursos da caderneta
Investimento tem saques líquidos de R$ 884 mi neste mês até o dia 16 e teve em fevereiro um dos menores ganhos da história, de 0,54%
FABRICIO VIEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL
Em meio à discussão sobre os
riscos de os investidores migrarem dos fundos para a caderneta de poupança, devido à maior
atratividade da aplicação, o que
se vê hoje no mercado é outra
realidade. Tanto neste mês
quanto no acumulado do ano, a
poupança sofre com saques de
recursos, enquanto os fundos
atraem investidores.
Em março, até o dia 16, a poupança registra saques líquidos
de R$ 884 milhões, sendo, por
enquanto, o mês mais fraco
desde abril passado. No ano, a
captação líquida (diferença entre saques e aplicações) está negativa em aproximadamente
R$ 620 milhões, segundo dados
do Banco Central.
Ao menos por enquanto, os
fundos ainda mantêm a preferência dos investidores. No
ano, o mercado de fundos registra captação positiva de R$ 9,49
bilhões. No mês, até o dia 16, a
entrada de recursos nos fundos
alcança R$ 4,61 bilhões.
"Mas vejo uma ameaça de
migração de recursos dos fundos para a poupança em um futuro próximo. Como espera-se
que a taxa Selic prossiga em
queda, os ganhos dos fundos
vão encolher e diminuir sua
competitividade em relação à
poupança. Se isso não começou
a ocorrer ainda, o risco é eminente", diz Mauro Calil, professor e educador financeiro.
A poupança teve em fevereiro um de seus menores retornos da história. Com rentabilidade de 0,545%, aproximou-se
de sua mínima histórica, os
0,524% pagos em fevereiro do
ano passado.
Naquele período, o governo
fez exatamente o inverso do
que se espera que faça agora:
tomou medidas para garantir
que os ganhos da poupança fossem de ao menos 0,5% ao mês.
Como a poupança tem esse
piso de 0,5% ao mês e os fundos, não, o impacto da continuidade da queda da taxa básica de juros não poderá ser evitado. Um dos grandes problemas enfrentados pelos fundos é
a cobrança de IR e de taxa de
administração, que não incidem sobre a poupança. Ou seja,
a rentabilidade líquida dos fundos -computada após os descontos de taxas e impostos-
pode ficar abaixo do que é oferecido pela poupança em breve.
Apenas a taxa de administração consome uma parcela que
pode ser bem elevada do retorno de um fundo. Essa taxa costuma oscilar entre 1% e 4%
anuais. Com os juros a 10% (ou
menos que isso) daqui a alguns
meses, como projeta o mercado, o impacto da taxa de administração vai ser ainda maior.
"O pequeno investidor não se
preocupa muito com essas contas. Mas os grandes, sim. E o
problema vai surgir quando esses grandes aplicadores resolveram trocar os fundos pela
poupança", afirma Calil.
Uma migração desembestada dos fundos para a poupança
não interessa nem aos bancos
nem ao governo. Para os bancos, uma das perdas viria da diminuição dos ganhos com taxa
de administração. Para o governo, os fundos são importantes
por serem grandes compradores de títulos públicos.
"Quando a taxa Selic estava
em 12,75%, os fundos ainda
mantinham-se mais atrativos
que a poupança. Mas com a taxa básica nos atuais 11,25% a situação começa a mudar. O governo está correto em se preocupar e buscar uma maneira de
mexer com a rentabilidade da
poupança", avalia a consultora
de investimentos Márcia Dessen, da Bankrisk.
Com a taxa Selic em 11,25%
ao ano, os fundos DI ou de renda fixa que cobram uma taxa de
administração acima de 2% já
começam a perder para a poupança. Segundo uma simulação
feita pelo economista José Dutra Vieira Sobrinho, atualmente o rendimento da caderneta
está em 0,58% ao mês, enquanto um fundo que cobre taxa de
administração de 2,5% oferece
retorno de apenas 0,55%.
A comparação considera que
incide sobre a rentabilidade do
fundo a cobrança de 20% de IR.
Caso a Selic caia para 10,25% ao
ano no mês que vem, quando o
Copom volta a se reunir, só fundos com taxa de administração
de, no máximo, 1% continuariam ganhando da caderneta.
Colaborou NEY HAYASHI DA CRUZ,
da Sucursal de Brasília
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