São Paulo, segunda-feira, 23 de março de 2009

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Alta de commodities pode não se sustentar

Para analista, performance tende a ser sofrível no cenário atual, com deflação e excesso de produção devido à crise

Na opinião de muitos especialistas, investidores compraram commodities para se proteger contra o risco de alta da inflação

MARIA CRISTINA FRIAS
DA REPORTAGEM LOCAL

Apesar de a demanda por commodities como petróleo e ouro ter melhorado na semana passada, em relação ao final do ano de 2008, as condições atuais ainda não sustentam os preços no atual patamar, segundo analistas.
"Nesse cenário de deflação, as commodities tendem a ter uma performance sofrível", diz Marcelo Ribeiro, da Pentágono Asset Management.
"A alta das commodities foi uma reação meramente técnica e, agora, voltamos à dura realidade do excesso de produção", afirma Ribeiro.
A semana foi boa para os mercados, apesar de, na sexta-feira, algumas commodities terem devolvido parte da valorização que haviam tido.
Para muitos analistas, os mercados estavam ignorando as condições desfavoráveis para o curto prazo.
A impressão é de que investidores compraram commodities, como petróleo, ouro, cobre e açúcar, para se proteger contra o inesperado risco de alta da inflação por causa das agressivas política monetárias, com juros próximos de zero nos EUA e na Europa.

Estímulo do Fed
O temor que deu um gás para as commodities foi causado pelas decisões do Fed (Federal Reserve, o banco central dos Estados Unidos) para estimular o crédito.
Para efetivar uma de suas medidas, a de comprar US$ 300 bilhões de títulos públicos e papéis lastreados em hipotecas, a autoridade monetária americana terá de imprimir dinheiro, o que gera o risco de a inflação subir.
As commodities haviam caído muito com o medo de que o mundo estivesse caminhando para a depressão, o que reduziria a demanda pelos produtos básicos da indústria.
Mesmo com a queda de muitos preços na sexta-feira passada, nos últimos trinta dias, o preço do barril de petróleo do tipo West Texas subiu em Nova York 29,33%, sendo cotado a US$ 51,06, e o Brent, em Londres, 22,27%.
Desde novembro passado, o petróleo não ficava acima de US$ 50.

Outras commodities
O cobre e o chumbo registraram alta de 18,84% e de 20%, respectivamente, em um mês.
"A melhora nos preços do petróleo e do cobre estaria mais relacionada à busca de recomposição de estoques pelos chineses e à esperança de recuperação sustentada daquela economia do que a uma mudança real no ciclo global", segundo relatório de Albert Edwards, do banco Société Générale, no Reino Unido.

Recuperação
A origem da alta acentuada nos preços de commodities parece estar na mudança de política do Fed e não numa repentina mudança entre oferta e demanda, afirma o analista James Steel, em relatório do HSBC, em Nova York . "Não está claro se preços mais altos de commodities podem se sustentar."
Nos próximos meses, as forças deflacionárias estarão muito fortes, na opinião de Ribeiro.
"Consumidores e investidores estarão se esquivando de ofertas de venda de produtos, serviços e ações, [num cenário] de ausência de crédito e excesso de capacidade de produção em praticamente todos os seguimentos da economia global", afirma.
"A partir de 2011, o crédito terá voltado lentamente, consumidores e investidores estarão menos deprimidos e os efeitos das medidas do Fed estarão mais presentes."


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