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Brasil admite pagar mais ao Paraguai
Governo Lula aceita discutir "fórmulas" que elevem receita do vizinho com energia de Itaipu, mas sem mudar tratado
Itamaraty acha "natural"
Brasil pedir contrapartida de
paraguaios, como maior
rigor na fronteira, mas tema
ainda não está em pauta
VALDO CRUZ
HUMBERTO MEDINA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
ELIANE CANTANHÊDE
COLUNISTA DA FOLHA
O governo brasileiro aceita
discutir "fórmulas" para melhorar a receita obtida pelo Paraguai na venda da energia de
Itaipu, mas não admite mudar
as regras do tratado que rege a
hidrelétrica binacional, assinado em 1973. Motivo: o Brasil
não quer abrir mão da regra
prevista no tratado que dá ao
país o direito de adquirir toda
energia não-utilizada pelo vizinho, vital para o abastecimento
das regiões Sul e Sudeste.
O tema foi discutido ontem
pelo presidente Lula na reunião de coordenação, quando o
petista disse que o Brasil, como
país mais rico do que seu sócio
na companhia, deve fazer um
"gesto de boa vontade".
O governo do Brasil, segundo
apurou a Folha, já estava preparado para iniciar negociações com o Paraguai, mas decidiu esperar o final do processo
eleitoral no país para evitar ser
acusado de beneficiar algum
candidato. A eleição foi vencida
pelo ex-bispo católico Fernando Lugo, que defende mudanças no tratado que define que
cada país tem direito a 50% da
energia produzida pela usina.
Entre as fórmulas em análise
pelo governo brasileiro, estão
mecanismos que possam aumentar o preço da energia paga
ao Paraguai ou a antecipação
de receita futura para formação de fundo de investimento
pelo país vizinho -o que não
agrada a setores paraguaios.
Ontem, durante a reunião de
coordenação, Lugo retornou
uma ligação telefônica de Lula.
Na conversa, que durou menos
de dez minutos, o presidente
eleito do Paraguai convidou o
brasileiro para sua posse, em
agosto, mas adiantou que gostaria de encontrar com o colega
antes disso. Apesar de não terem tocado no assunto, Itaipu
será o principal tema da conversa entre os dois.
A expectativa é que Lugo repita o gesto da presidente da
Argentina, Cristina Kirchner,
reservando sua primeira viagem já eleito e também a primeira depois da posse ao Brasil, o país com quem o Paraguai
tem as mais estreitas ligações.
Publicamente, a orientação
de Lula é não admitir alterações nos contratos em vigor.
Ontem, por exemplo, o ministro Edison Lobão (Minas e
Energia) disse não ver motivos
para reajustar a tarifa da energia da hidrelétrica de Itaipu para favorecer o Paraguai.
Lobão ressaltou que o Brasil
já fez outras concessões ao país
vizinho. "O Brasil não pretende
ver o tratado alterado e, a princípio, não tem por que concordar com a revisão da tarifa." Ele
ressaltou, no entanto, que a decisão final é do presidente Lula.
O principal argumento do
ministro para manter a tarifa
no seu valor atual é que o preço
está próximo ao obtido no leilão da hidrelétrica de Santo
Antônio, no rio Madeira (RO).
Segundo ele, o Brasil compra
energia de Itaipu a US$ 45,31
por MWh (megawatt-hora).
Desse valor, US$ 42,50 vão para abater a dívida contraída para construir a usina. O Paraguai
fica com US$ 2,81 por MWh, o
que rendeu ao país vizinho
aproximadamente US$ 340
milhões no ano passado.
Lula defende, porém, que o
Brasil deve dispensar ao Paraguai tratamento semelhante ao
dado à Bolívia -os dois países
mais pobres da América do Sul.
A explicação é que não interessa ao país ter vizinhos miseráveis e instáveis. O ônus político
e econômico recai aqui.
Isso significa, no caso paraguaio, que o Brasil aceita rever
os preços da energia, está disposto a financiar uma linha de
transmissão para Assunção,
para acabar com os "apagões",
e vai aprofundar mecanismos
para favorecer o país vizinho.
O presidente lembra, no entanto, que a situação dos dois
países são diferentes. Enquanto no caso da Bolívia o gás era
um recurso natural, no do Paraguai a usina é binacional,
pertence também ao Brasil, o
que dá mais força ao país nas
negociações. O Itamaraty considera "natural" que, nas negociações, o Brasil possa incluir
contrapartidas, como mais rigor nas fronteiras, maior atenção ao contrabando e respeito
aos "brasiguaios". Isso, porém,
ainda não está em pauta.
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