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LUÍS NASSIF
Aftosa e os erros
sem punição
A crise de energia elétrica e
o fim da CPI da corrupção
salvaram por enquanto o ministro Pratini de Moraes (Agricultura) e o governador Olívio Dutra de arcar com as consequências de um desastre monumental: a volta da aftosa no Rio
Grande do Sul. É um episódio irresponsável, em que uma disputa paroquial está colocando em
risco exportações de US$ 1,2 bilhão, previstas para este ano.
A volta da "vaca louca" na Europa e o episódio da carne brasileira com o Canadá, com a constatação de que o rebanho brasileiro não estava contaminado,
trouxeram um foco de luz sobre
a carne brasileira, habilitando-a
a se tornar um grande item na
pauta de exportações.
Todo esse marketing gratuito
está indo por água abaixo por
conta de um episódio desastroso,
indesculpável.
Especialista na matéria, o secretário da Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, João Carlos de Souza Meirelles, explica que os procedimentos, quando se identificam focos
de aftosa, são definidos por organismos internacionais há muitos
anos. Quando há um foco, em
zona livre sem vacinação, imediatamente têm que ser abatidos
todos os animais que apresentaram sintomas e com a consequente confirmação. No entorno, alguns quilômetros ao redor,
têm que ser retirados todos os
animais, que também serão abatidos. Os que têm doença são
abatidos a tiro, queimados, cobertos com cal e enterrados em
uma vala. Os demais são abatidos em frigoríficos. Tempos depois é introduzido no local um
bezerro não-vacinado, para confirmar se a doença foi erradicada ou não.
A irresponsabilidade oficial é
maior quando se sabe que, a
exemplo da crise energética, a
volta da aftosa era prevista. Começou com o aparecimento de
focos internos no Paraguai, que
não foram comunicados pelo governo local. Dali a doença derivou para Mato Grosso do Sul,
que já era zona livre de aftosa.
Do Mato Grosso seguiu para a
Argentina, evoluiu para o Uruguai e entrou no Rio Grande.
Quando chegou à fronteira
gaúcha, os procedimentos internacionais indicam estabelecer
uma "buffer zone", uma zona-tampão, com aplicação maciça
de vacina. Nada foi feito. De um
lado, um conflito primário entre
o ministro e o governo gaúcho.
Do outro, a extraordinária barbeiragem de deixar como está
para impedir que o Rio Grande
perdesse o status de zona livre de
aftosa sem vacinação.
Trata-se de um status sem valor prático, que permite avançar
em um mercado de carne fresca,
que quase não faz diferença no
preço final do gado. No caso do
Rio Grande, como a maior parte
do rebanho de 23 milhões de cabeças é abatida para consumo
interno, a vacinação pouco efeito teria sobre o faturamento do
setor.
Nada disso foi feito. Agora se
tem cancelamento de compra de
carne brasileira por vários países
e um prejuízo estimado em US$
300 milhões. No ano passado, o
plano de retenção do café, apoiado pelo Ministério da Agricultura, significou mais US$ 350 milhões de perdas cambiais. E nada
ocorre. Os principais responsáveis por aquela aventura estão
ocupando cargos-chave no Conselho Nacional de Café e no próprio ministério.
Essa falta de preocupação em
punir erros internos tem sido o
maior fator de desgaste do governo FHC.
Internet: www.dinheirovivo.com.br
E-mail: lnassif@uol.com.br
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