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FÓRUM NACIONAL
Presidente do BC praticamente adianta ata da reunião do Copom ao dizer que queda de preços ainda é "vagarosa"
"Inflação inercial" segurou os juros, diz BC
GUSTAVO PATÚ
ENVIADO ESPECIAL AO RIO
No dia seguinte à decisão de
manter a taxa de juros em 26,5%
anuais, o presidente do Banco
Central, Henrique Meirelles, praticamente adiantou ontem a ata
da reunião do Copom (Comitê de
Política Monetária), que só deve
ser divulgada na semana que vem.
Ele disse que os principais temores da instituição no momento
dizem respeito à "inércia inflacionária". "A política monetária iniciada no fim de 2002 está endereçada essencialmente à questão da
inércia inflacionária", disse Meirelles no "Fórum Nacional",
evento promovido anualmente
pelo ex-ministro João Paulo dos
Reis Velloso (Planejamento).
Traduzindo: mesmo considerando que o descontrole inflacionário dos últimos meses foi debelado, o BC acha que há risco de os
aumentos de preço do passado
contaminarem a inflação daqui
para a frente. Como a forma clássica de evitar esse efeito é segurar
a expansão da economia, estaria
explicada, em sua avaliação, a decisão de não reduzir os juros.
Trata-se de uma mudança importante de visão. Antes da posse
do presidente Luiz Inácio Lula da
Silva, a equipe de transição considerava a alta da inflação uma simples decorrência da alta do dólar,
que seria contornada quando o
real se valorizasse.
Não foi o que aconteceu, na leitura do BC -que, na expressão
de Meirelles, considera "ainda vagarosa" a queda da inflação, apesar do recuo do câmbio.
Com a declaração, Meirelles indicou ter preocupação com a possibilidade de empresários e trabalhadores buscarem compensar as
perdas da inflação com remarcações e reajustes salariais.
Com a economia estagnada, isso, obviamente, fica mais difícil.
Mas o BC se preocupa ainda com
contratos como as tarifas públicas, que seguem os índices de inflação passada.
Segundo Meirelles, é preciso reduzir a longo prazo a taxa real de
equilíbrio (um patamar de juros
que mantém a inflação estável) do
país, que é estimada entre 9% e
10% ao ano. "A questão é como
chegar lá. Certamente, não será
por um ato de vontade do BC."
Pela manhã, em Brasília, Meirelles deu a entender que a meta para a inflação deste ano -um IPCA de 8,5%- pode ser abandonada. O mercado projeta uma taxa acima de 12%.
Ao ser questionado se a competência do BC estaria ameaçada se
não cumprisse de novo a meta
neste ano, ele respondeu: "Na minha observação quanto à inflação
eu não disse que a definição do
sucesso do Banco Central se dará
em função da meta ajustada de
2003. Eu disse que se dará por trazer a inflação para dentro das metas estabelecidas pelo Banco Central não só em 2003, mas também
em 2004 e 2005".
O presidente do BC usou a pressão de políticos e setores da sociedade pela redução da taxa como
argumento para defender a eficácia da política monetária.
"A própria manchete dos jornais e a preocupação da sociedade
com a taxa de juros mostram claramente que a taxa de juros tem
um efeito importante no nível de
atividade. Ela não é irrelevante no
Brasil, senão não causaria essa
controvérsia", disse.
Segundo Meirelles, os juros não
são tão altos se comparados com
a inflação dos últimos 12 meses,
de quase 17%; já para os próximos
12 meses, espera-se inflação em
torno de 8%. "Se discute muito no
Brasil se a taxa está alta ou está
baixa. Depende", disse ele.
Colaboraram Leonardo Souza,
da Sucursal de Brasília, e
Pedro Soares, da Sucursal do Rio
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