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São Paulo, sexta-feira, 23 de maio de 2003

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FÓRUM NACIONAL

Presidente do BC praticamente adianta ata da reunião do Copom ao dizer que queda de preços ainda é "vagarosa"

"Inflação inercial" segurou os juros, diz BC

GUSTAVO PATÚ
ENVIADO ESPECIAL AO RIO

No dia seguinte à decisão de manter a taxa de juros em 26,5% anuais, o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, praticamente adiantou ontem a ata da reunião do Copom (Comitê de Política Monetária), que só deve ser divulgada na semana que vem.
Ele disse que os principais temores da instituição no momento dizem respeito à "inércia inflacionária". "A política monetária iniciada no fim de 2002 está endereçada essencialmente à questão da inércia inflacionária", disse Meirelles no "Fórum Nacional", evento promovido anualmente pelo ex-ministro João Paulo dos Reis Velloso (Planejamento).
Traduzindo: mesmo considerando que o descontrole inflacionário dos últimos meses foi debelado, o BC acha que há risco de os aumentos de preço do passado contaminarem a inflação daqui para a frente. Como a forma clássica de evitar esse efeito é segurar a expansão da economia, estaria explicada, em sua avaliação, a decisão de não reduzir os juros.
Trata-se de uma mudança importante de visão. Antes da posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a equipe de transição considerava a alta da inflação uma simples decorrência da alta do dólar, que seria contornada quando o real se valorizasse.
Não foi o que aconteceu, na leitura do BC -que, na expressão de Meirelles, considera "ainda vagarosa" a queda da inflação, apesar do recuo do câmbio.
Com a declaração, Meirelles indicou ter preocupação com a possibilidade de empresários e trabalhadores buscarem compensar as perdas da inflação com remarcações e reajustes salariais.
Com a economia estagnada, isso, obviamente, fica mais difícil. Mas o BC se preocupa ainda com contratos como as tarifas públicas, que seguem os índices de inflação passada.
Segundo Meirelles, é preciso reduzir a longo prazo a taxa real de equilíbrio (um patamar de juros que mantém a inflação estável) do país, que é estimada entre 9% e 10% ao ano. "A questão é como chegar lá. Certamente, não será por um ato de vontade do BC."
Pela manhã, em Brasília, Meirelles deu a entender que a meta para a inflação deste ano -um IPCA de 8,5%- pode ser abandonada. O mercado projeta uma taxa acima de 12%.
Ao ser questionado se a competência do BC estaria ameaçada se não cumprisse de novo a meta neste ano, ele respondeu: "Na minha observação quanto à inflação eu não disse que a definição do sucesso do Banco Central se dará em função da meta ajustada de 2003. Eu disse que se dará por trazer a inflação para dentro das metas estabelecidas pelo Banco Central não só em 2003, mas também em 2004 e 2005".
O presidente do BC usou a pressão de políticos e setores da sociedade pela redução da taxa como argumento para defender a eficácia da política monetária.
"A própria manchete dos jornais e a preocupação da sociedade com a taxa de juros mostram claramente que a taxa de juros tem um efeito importante no nível de atividade. Ela não é irrelevante no Brasil, senão não causaria essa controvérsia", disse.
Segundo Meirelles, os juros não são tão altos se comparados com a inflação dos últimos 12 meses, de quase 17%; já para os próximos 12 meses, espera-se inflação em torno de 8%. "Se discute muito no Brasil se a taxa está alta ou está baixa. Depende", disse ele.


Colaboraram Leonardo Souza, da Sucursal de Brasília, e Pedro Soares, da Sucursal do Rio


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