São Paulo, terça-feira, 23 de maio de 2006

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Mantega fecha equipe com crítico do BC

Ministro diz que novo secretário, ele próprio e o Banco Central estão em "harmonia" e que "remam na mesma direção"

Júlio Gomes de Almeida, ex-diretor do Iedi, assume área de Política Econômica; para ministro, é "ótimo" que empresariado aprove

JULIANNA SOFIA
SHEILA D'AMORIM
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O ministro da Fazenda, Guido Mantega, concluiu ontem a formação de sua equipe no ministério e nomeou Júlio Sérgio Gomes de Almeida, ex-diretor do Iedi (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial), para a Secretaria de Política Econômica, como antecipou ontem a coluna Mercado Aberto, desta Folha.
Com a escolha, o ministro quis dar uma clara sinalização ao empresariado de que sua pasta estará mais alinhada com as demandas do setor produtivo, segundo a Folha apurou.
Para a PGFN (Procuradoria Geral da Fazenda Nacional), foi nomeado o procurador e ex-secretário-executivo-adjunto do Ministério do Planejamento, Luiz Inácio Adams, e para a Secretaria de Acompanhamento Econômico foi confirmado o nome de Marcelo Barbosa Saintive, que vinha ocupando o cargo interinamente.
"Eu não quero agradar um segmento ou outro. Mas, se isso [nomeação de Gomes de Almeida] agrada o empresariado ou não, se há coincidência, ótimo. Júlio Sérgio tem o perfil adequado e a experiência necessária", declarou o ministro ao anunciar os novos nomes.
A Fazenda nega que a nomeação tenha sido indicação dos empresários.
A escalação do economista foi mais um passo do ministro para se aproximar do setor produtivo em um ano eleitoral em que o apoio do empresariado pode contribuir para reeleição de Luiz Inácio Lula da Silva.
Na sexta-feira, em almoço na Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), Mantega chegou a ser questionado sobre de qual lado estaria na condução da política econômica. Segundo relatos de participantes do encontro, o ministro teria afirmado: "Estou do lado da produção".
Desde que assumiu o ministério, Mantega vinha mantendo conversas regulares com o economista do Iedi. Apesar de nunca terem trabalhado juntos, Gomes de Almeida foi recomendado por pessoas próximas de Mantega, como o economista Luiz Gonzaga Belluzo.
Gomes de Almeida foi da equipe de Belluzo na gestão de Dílson Funaro no Ministério da Fazenda, na década de 80. Na ocasião, o economista foi secretário especial adjunto de Assuntos Econômicos.
O ex-diretor é conhecido pelos duros ataques ao Banco Central nos quais critica a política de juros altos e classifica de pouco eficazes as intervenções no câmbio. Ontem, Mantega tentou apaziguar a situação e disse ser natural que economistas, quando estão fora do governo, tenham mais liberdade para falar. "Eu, ele e o Banco Central queremos que os juros caiam. Remamos todos na mesma direção. (...) Estamos todos harmonizados."
Mantega afirmou que a missão de Gomes de Almeida será pensar o futuro do país, olhando para o médio e longo prazos. De imediato, o novo secretário participará das discussões sobre o pacote agrícola a ser anunciado nesta semana e sobre as mudanças no câmbio.


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