São Paulo, terça-feira, 23 de maio de 2006

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Tesouro poderá voltar a emitir títulos indexados a juro diário

SANDRA BALBI
DA REPORTAGEM LOCAL

O nervosismo do mercado financeiro, que se acentuou ontem, não ajuda a estratégia de alongamento do perfil da dívida pública traçada pelo governo no início do ano, segundo o secretário do Tesouro, Carlos Kawall. Tanto que o governo poderá voltar a emitir LFTs (Letras Financeiras do Tesouro) -títulos indexados à taxa de juros diária e que vinham sendo retirados do mercado.
As LFTs são os papéis que lastreiam as carteiras de fundos DI -a aplicação mais conservadora do mercado de fundos. No início do ano, esses papéis representavam 51,8% do estoque total de títulos no mercado. O Tesouro quer reduzi-los para algo entre 39% e 48% da dívida, neste ano, e vem substituindo as LFTs por títulos prefixados e indexados ao IPCA.
De acordo com o plano de alongamento da dívida mobiliária, o Tesouro poderia emitir até R$ 90 bilhões desses títulos neste ano para chegar no limite mínimo de 39% de dívida pós-fixada prevista no plano. "Se vamos emitir mais do que isso vai depender das condições de mercado e da demanda por esses papéis", disse Kawall.
Nesta semana o Tesouro deverá divulgar a estratégia das emissões para junho, quando haverá vencimento de um grande volume de LFTs. "Podemos adequar esse processo à nova situação de volatilidade, pois há muito espaço para emissão das LFTs até o final do ano, mesmo respeitando o limite de 39% desses papéis na dívida pública", disse Kawall.
Ontem, Kawall e o diretor de Política Monetária do Banco Central, Rodrigo Azevedo, buscaram acalmar o mercado, afirmando que a volatilidade das últimas semanas é resultado de um ajuste de portfólios em nível global, mas não há risco de contaminação da economia brasileira de forma permanente como ocorreu na crise da Ásia, em 1997.
A mensagem tranqüilizadora foi insistentemente repetida pelos dois em evento realizado na BM&F (Bolsa de Mercadorias & Futuros), enquanto a Bovespa despencava e o dólar e o risco-país decolavam. No entanto a profundidade desse ajuste global ainda é uma incógnita para as próprias autoridades locais. "Há uma dúvida se a grande liquidez internacional dos últimos três anos virou, ou se o que estamos vendo é só um ajuste técnico", disse Azevedo.

Novo apetite por risco
Para Kawall, "estamos vivendo, neste momento, uma situação global de mudança de apetite de risco que é diferente de outros momentos em que o problema estava com o país".
A volatilidade atual ocorre porque os mercados estão se ajustando à expectativa de um aperto monetário maior (alta de juros) nos países centrais. "Na minha visão, não é um momento de reversão do quadro da economia global. É um ajuste de patamar de preços", afirmou o secretário do Tesouro.
O Brasil tem dinheiro suficiente para pagar suas dívidas por cinco meses sem precisar recorrer aos mercados de bônus, disse Kawall, à Bloomberg. "Os recentes declínios dos bônus de mercados emergentes terão impacto limitado sobre a economia brasileira, que continuará crescendo."
Para Azevedo, o país está muito melhor posicionado hoje para enfrentar uma situação adversa como a atual. No passado, ajustes de mercado acabavam gerando dinâmicas adversas para a economia brasileira, afetando de uma maneira mais importante os fundamentos.
"Temos um nível de reservas internacionais acima de US$ 60 bilhões e conseguimos retirar parcela importante dos títulos de dívida externa que vencem num prazo relativamente curto", afirmou.


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