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Tesouro poderá voltar a emitir títulos indexados a juro diário
SANDRA BALBI
DA REPORTAGEM LOCAL
O nervosismo do mercado financeiro, que se acentuou ontem, não ajuda a estratégia de
alongamento do perfil da dívida
pública traçada pelo governo
no início do ano, segundo o secretário do Tesouro, Carlos Kawall. Tanto que o governo poderá voltar a emitir LFTs (Letras Financeiras do Tesouro)
-títulos indexados à taxa de juros diária e que vinham sendo
retirados do mercado.
As LFTs são os papéis que
lastreiam as carteiras de fundos
DI -a aplicação mais conservadora do mercado de fundos. No
início do ano, esses papéis representavam 51,8% do estoque
total de títulos no mercado. O
Tesouro quer reduzi-los para
algo entre 39% e 48% da dívida,
neste ano, e vem substituindo
as LFTs por títulos prefixados e
indexados ao IPCA.
De acordo com o plano de
alongamento da dívida mobiliária, o Tesouro poderia emitir
até R$ 90 bilhões desses títulos
neste ano para chegar no limite
mínimo de 39% de dívida pós-fixada prevista no plano. "Se
vamos emitir mais do que isso
vai depender das condições de
mercado e da demanda por esses papéis", disse Kawall.
Nesta semana o Tesouro deverá divulgar a estratégia das
emissões para junho, quando
haverá vencimento de um
grande volume de LFTs. "Podemos adequar esse processo à
nova situação de volatilidade,
pois há muito espaço para
emissão das LFTs até o final do
ano, mesmo respeitando o limite de 39% desses papéis na dívida pública", disse Kawall.
Ontem, Kawall e o diretor de
Política Monetária do Banco
Central, Rodrigo Azevedo, buscaram acalmar o mercado, afirmando que a volatilidade das
últimas semanas é resultado de
um ajuste de portfólios em nível global, mas não há risco de
contaminação da economia
brasileira de forma permanente como ocorreu na crise da
Ásia, em 1997.
A mensagem tranqüilizadora
foi insistentemente repetida
pelos dois em evento realizado
na BM&F (Bolsa de Mercadorias & Futuros), enquanto a Bovespa despencava e o dólar e o
risco-país decolavam. No entanto a profundidade desse
ajuste global ainda é uma incógnita para as próprias autoridades locais. "Há uma dúvida se
a grande liquidez internacional
dos últimos três anos virou, ou
se o que estamos vendo é só um
ajuste técnico", disse Azevedo.
Novo apetite por risco
Para Kawall, "estamos vivendo, neste momento, uma situação global de mudança de apetite de risco que é diferente de
outros momentos em que o
problema estava com o país".
A volatilidade atual ocorre
porque os mercados estão se
ajustando à expectativa de um
aperto monetário maior (alta
de juros) nos países centrais.
"Na minha visão, não é um momento de reversão do quadro
da economia global. É um ajuste de patamar de preços", afirmou o secretário do Tesouro.
O Brasil tem dinheiro suficiente para pagar suas dívidas
por cinco meses sem precisar
recorrer aos mercados de bônus, disse Kawall, à Bloomberg.
"Os recentes declínios dos bônus de mercados emergentes
terão impacto limitado sobre a
economia brasileira, que continuará crescendo."
Para Azevedo, o país está
muito melhor posicionado hoje
para enfrentar uma situação
adversa como a atual. No passado, ajustes de mercado acabavam gerando dinâmicas adversas para a economia brasileira,
afetando de uma maneira mais
importante os fundamentos.
"Temos um nível de reservas
internacionais acima de US$
60 bilhões e conseguimos retirar parcela importante dos títulos de dívida externa que
vencem num prazo relativamente curto", afirmou.
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