São Paulo, terça-feira, 23 de maio de 2006

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Agricultura familiar perde, diz professor

THIAGO GUIMARÃES
DA AGÊNCIA FOLHA

O uso do óleo de soja em uma nova forma de produzir diesel, anunciada na semana passada pelo governo federal, marca a opção dessa administração pelo agronegócio, em prejuízo da agricultura familiar.
A conclusão é de professores da UnB (Universidade de Brasília) que pesquisaram o potencial energético da soja e outras oleaginosas, em estudo a ser apresentado no 3º Encontro da Anppas (Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Ambiente e Sociedade), que começa hoje em Brasília.
Para os pesquisadores, embora seja economicamente viável usar soja na produção do novo diesel, a escolha irá reproduzir "velhos problemas" da monocultura da oleaginosa, como exclusão social e danos ao ambiente.
O novo diesel anunciado pelo governo, batizado de H-Bio, é resultado de uma tecnologia inédita desenvolvida pela Petrobras. O produto passa por um processo de refino que mistura óleo vegetal (10% a 18%) para a geração do diesel. Não é igual ao biodiesel tradicional, obtido por outro processo.
Os professores sugerem que a produção de H-Bio com óleo de soja pode ser "estrategicamente insustentável". Isso porque não gerará empregos no campo como no caso de outras oleaginosas e pela concentração do setor de esmagamento dos grãos nas mãos de grupos internacionais.
Apesar de a Petrobras ter informado que o óleo vegetal do H-bio pode ser de soja, girassol, mamona, palma ou algodão, o ministro Roberto Rodrigues (Agricultura) afirmou que a soja deve ser usada primeiro.
Ele estimou o uso, em 2007, de 1,2 milhão de toneladas do grão na produção do H-Bio.
A ministra Dilma Rousseff (Casa Civil) disse que o novo diesel expressará "o casamento entre o agronegócio e a indústria do petróleo".
"Não adianta resolver o problema energético com exclusão social e impactos ambientais", disse a socióloga Laura Duarte, uma das autoras do estudo. Para ela, o governo deveria aproveitar culturas de oleaginosas tradicionais, como a mamona, para o H-Bio.
A Petrobras, por meio de sua assessoria de imprensa, informou que a soja será usada inicialmente por ser a oleaginosa com maior oferta. Segundo a empresa, serão feitos testes para processamento do novo diesel com outros óleos.


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