São Paulo, sábado, 23 de maio de 2009

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Corretor de imóveis toca sino e pede aplausos quando conclui negócio

PAULO SAMPAIO
DA REPORTAGEM LOCAL

Blém, blém, be-le-lém-bém Bééém!! Enquanto toca loucamente o sino para anunciar mais um negócio concluído, o corretor de uma das empresas líderes na venda de imóveis populares do Feirão Caixa da Casa Própria grita:
"Atenção, senhoras e senhores! Temos aqui mais um felizardo comprador da casa própria! Vamos aplaudir! Êêêê!". A atmosfera é parecida com a do fim de um número de equilibrismo no circo.
Ao lado dos pais, a "felizarda" analista de processos Daiane Morgante, 21, que acaba de adquirir um apartamento de R$ 40 mil na planta, em Nova Poá, parece assustada:
"Ai, meu Deus", diz ela baixinho, com a expressão de uma garotinha de dois anos na hora do parabéns.
Com a expectativa de receber 150 mil visitantes e de movimentar um volume de negócios 10% maior do que o R$ 1,4 bilhão do ano passado, o feirão vai até amanhã no Centro de Exposição Imigrantes.
Tudo funciona como em um bandejão: primeiro, o interessado passa por um consultor da Caixa e levanta suas possibilidades -FGTS, renda mensal, isenções etc.
Ali mesmo, pode fazer uma simulação do negócio. Em seguida, já com a papelada na mão, sai pelo pavilhão atrás de uma imobiliária.
A psicóloga Ana Paula Patrício, 36, escolheu pelo tamanho da fila, achando que era um indicador de bom negócio. Ficou quase uma hora, preencheu uma ficha, mas não encontrou o que queria -uma casa na Penha (zona leste).
O folheto do evento anuncia imóveis de até R$ 1,1 milhão, mas não é bem assim. Oficialmente, o empreendimento mais caro é o Diamond Residence, cujo preço médio da unidade é R$ 690 mil.
Edna, a gerente de vendas da imobiliária, explica que não existe nada comparável em São Bernardo do Campo.
"O estilo é futurista, sem precedentes. O prédio parece uma nave, olha só."
Mas quem vai comprar um imóvel de R$ 690 mil em um feirão cujo público alvo ganha, por mês, até R$ 3.000?
Segundo Edna, há olheiros que procuram bons negócios para investidores. Mas ela sabe que, ali, o que importa é seu arsenal de imóveis populares. Faz questão de dizer, porém, que sua empresa não é uma "Casas Bahia dos imóveis".
"Nesses estandes cheios que você vê, o imóvel é chamado de popular pelo próprio povo, entende? Eu não estou aqui para tocar imóvel goela abaixo de ninguém. Meu popular seria o de luxo."
Ela mostra o panfleto do Neo Suisse, no ABC, onde os apartamentos tem 55 m2 e o condomínio está equipado com "lazer completo".
De qualquer maneira, nos paradisíacos folhetos distribuídos pelas imobiliárias, é difícil discernir o "popular do povo" do "popular de luxo".
Talvez por isso algumas empresas disponibilizam carros para visitar o imóvel -com a garantia de poder devolver caso o felizardo não encontre no local as cascatinhas que comprou no estande.


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