|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Corretor de imóveis toca sino e pede aplausos quando conclui negócio
PAULO SAMPAIO
DA REPORTAGEM LOCAL
Blém, blém, be-le-lém-bém
Bééém!! Enquanto toca loucamente o sino para anunciar
mais um negócio concluído, o
corretor de uma das empresas
líderes na venda de imóveis
populares do Feirão Caixa da
Casa Própria grita:
"Atenção, senhoras e senhores! Temos aqui mais um
felizardo comprador da casa
própria! Vamos aplaudir!
Êêêê!". A atmosfera é parecida com a do fim de um número de equilibrismo no circo.
Ao lado dos pais, a "felizarda" analista de processos
Daiane Morgante, 21, que acaba de adquirir um apartamento de R$ 40 mil na planta, em
Nova Poá, parece assustada:
"Ai, meu Deus", diz ela baixinho, com a expressão de
uma garotinha de dois anos na
hora do parabéns.
Com a expectativa de receber 150 mil visitantes e de movimentar um volume de negócios 10% maior do que o R$ 1,4
bilhão do ano passado, o feirão vai até amanhã no Centro
de Exposição Imigrantes.
Tudo funciona como em
um bandejão: primeiro, o interessado passa por um consultor da Caixa e levanta suas
possibilidades -FGTS, renda
mensal, isenções etc.
Ali mesmo, pode fazer uma
simulação do negócio. Em seguida, já com a papelada na
mão, sai pelo pavilhão atrás de
uma imobiliária.
A psicóloga Ana Paula Patrício, 36, escolheu pelo tamanho da fila, achando que era
um indicador de bom negócio.
Ficou quase uma hora, preencheu uma ficha, mas não encontrou o que queria -uma
casa na Penha (zona leste).
O folheto do evento anuncia
imóveis de até R$ 1,1 milhão,
mas não é bem assim. Oficialmente, o empreendimento
mais caro é o Diamond Residence, cujo preço médio da
unidade é R$ 690 mil.
Edna, a gerente de vendas
da imobiliária, explica que
não existe nada comparável
em São Bernardo do Campo.
"O estilo é futurista, sem
precedentes. O prédio parece
uma nave, olha só."
Mas quem vai comprar um
imóvel de R$ 690 mil em um
feirão cujo público alvo ganha,
por mês, até R$ 3.000?
Segundo Edna, há olheiros
que procuram bons negócios
para investidores. Mas ela sabe que, ali, o que importa é seu
arsenal de imóveis populares.
Faz questão de dizer, porém,
que sua empresa não é uma
"Casas Bahia dos imóveis".
"Nesses estandes cheios
que você vê, o imóvel é chamado de popular pelo próprio
povo, entende? Eu não estou
aqui para tocar imóvel goela
abaixo de ninguém. Meu popular seria o de luxo."
Ela mostra o panfleto do
Neo Suisse, no ABC, onde os
apartamentos tem 55 m2 e o
condomínio está equipado
com "lazer completo".
De qualquer maneira, nos
paradisíacos folhetos distribuídos pelas imobiliárias, é
difícil discernir o "popular do
povo" do "popular de luxo".
Talvez por isso algumas
empresas disponibilizam carros para visitar o imóvel
-com a garantia de poder devolver caso o felizardo não encontre no local as cascatinhas
que comprou no estande.
Texto Anterior: Financiamento imobiliário cresce 10% no ano Próximo Texto: Brasil Foods promete ao Cade gestão separada Índice
|