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São Paulo, segunda-feira, 23 de junho de 2003

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PACOTE DE CRÉDITO

Empréstimo até R$ 250 terá taxa de 2,5% ao mês; recursos virão do FAT e da redução do compulsório

CEF corta pela metade juro para baixa renda

GUILHERME BARROS
EDITOR DO PAINEL S.A.

A CEF (Caixa Econômica Federal) irá anunciar na quarta-feira a abertura de novas linhas de crédito a juros mais baixos para os clientes de baixa renda.
Serão beneficiados aqueles que têm conta com movimentação de até R$ 3.000 por mês e os com depósitos na caderneta de poupança de até R$ 100. A CEF calcula que pelo menos 2,3 milhões de clientes deverão ter acesso a essas novas linhas de crédito.
De acordo com o que a Folha apurou, a criação das novas linhas da Caixa deverá gerar um movimento de cerca de R$ 450 milhões na economia neste ano.
A medida faz parte do pacote a ser anunciado pelo governo, na próxima quarta-feira, com o objetivo de expandir o crédito e reduzir os juros para consumidores de baixa renda e microempresários.
Os empréstimos da CEF para cada cliente ficarão entre R$ 200 e R$ 250, e os juros dessa operação deverão ser de cerca de 2,5% ao mês -hoje, as taxas cobradas pela Caixa giram em torno de 4,5% a 5% ao mês. Ou seja, os juros deverão cair pela metade para os clientes de baixa renda.
A origem dos recursos a serem utilizados na operação ainda não foi totalmente definida pelo governo. A previsão é que uma parte -cerca de R$ 1 bilhão- venha do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), por meio do FAT (Fundo de Amparo ao Trabalhador). Outra poderá vir do afrouxamento do recolhimento do depósito compulsório dos bancos.
O presidente da CEF, Jorge Mattoso, diz que a Caixa já está se preparando, há algum tempo, para participar da "fase dois" da economia, com ênfase no crescimento. "A Caixa já tem feito um esforço grande no sentido de viabilizar o crédito ao público de baixa renda", diz Mattoso.

Contas simplificadas
A primeira etapa da expansão do crédito pela CEF consistiu no lançamento de contas simplificadas, sem comprovação de renda e sem direito a talão de cheque -a "Conta Caixa Aqui". A movimentação se dá por meio de cartões eletrônicos. O limite de operação dessas contas é de R$ 3.000.
Desde seu lançamento, há mais de três semanas, têm sido abertas 10 mil contas diárias. Só até a semana passada já tinham sido registradas 160 mil novas contas. Para ter acesso ao crédito pré-aprovado a ser lançado pela Caixa, o cliente terá que ter uma movimentação nas contas simplificadas de, no mínimo, três meses.

Correspondentes bancários
Outra medida da Caixa para beneficiar clientes de baixa renda será o aumento do número de correspondentes bancários.
São padarias, supermercados e farmácias que dispõem de máquina da Caixa com capacidade de fazer movimentações em conta corrente. A previsão da instituição é dobrar o número atual de correspondentes bancários, de 2.000 para 4.000.
Os bancos oficiais, como a Caixa Econômica Federal, só irão participar desse programa de estímulo ao crédito aos clientes de baixa renda porque irão contar com recursos (os chamados "fundings") a juros mais baixos do que aqueles captados por eles em suas operações tradicionais.
Além de linhas de crédito para clientes de baixa renda, o pacote do governo também incluirá estímulos ao microcrédito -crédito também voltado a clientes de baixa renda, mas destinado à abertura de pequenos negócios.

Pressão de Lula
A Caixa deverá ainda fechar parcerias com ONGs (organizações não-governamentais), bancos do povo, Ocips (Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público) e cooperativas para o repasse de linhas de microcrédito a micro e pequenas empresas. O repasse de recursos se dará por meio de operações via internet.
Há duas semanas, em encontro com empresários, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva defendeu a idéia de os bancos oficiais expandirem suas linhas de crédito a juros mais baixos, com o objetivo de competir com os bancos privados e forçar uma queda mais rápida dos juros no sistema privado.
A idéia de Lula esbarrou em resistências até dentro do próprio governo, principalmente no Banco do Brasil, que conta com acionistas minoritários. As ações do Banco do Brasil chegaram a cair quando os primeiros detalhes da idéia foram divulgados.
Com as novas linhas da CEF, o governo chega a uma fórmula que agrada a todos. Operações a juros mais baixos serão financiadas por recursos mais baratos, como os do FAT, o que preserva a solidez dos bancos oficiais.

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