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"AVANÇO" FISCAL
Segundo levantamento, de cada R$ 100 em riquezas produzidas no país em 2004, R$ 38 irão para o Estado
Estudo prevê impostos acima de 38% do PIB
MARCOS CÉZARI
DA REPORTAGEM LOCAL
A carga tributária deste ano poderá superar 38% do PIB (Produto Interno Bruto) pela primeira
vez. A previsão foi feita ontem pelo IBPT (Instituto Brasileiro de
Planejamento Tributário), com
base na arrecadação da União em
maio divulgada pela Receita Federal na segunda-feira.
Se a previsão se confirmar, significa que, de cada R$ 100 em riquezas produzidas pelo país em
2004, pelo menos R$ 38 irão parar
nos cofres da União, dos Estados e
dos municípios.
Segundo a estimativa, a receita
tributária total saltará dos R$
546,97 bilhões do ano passado para cerca de R$ 582 bilhões neste
ano. Em porcentagem do PIB, a
carga tributária deve pular dos
36,11% de 2003 para 38,11% neste
ano, estima o IBPT. Será o maior
aumento anual desde 2001/2002.
No mês passado, as empresas e
as pessoas físicas pagaram R$
24,579 bilhões em impostos e
contribuições à Receita Federal. O
valor representa aumento real (já
descontada a inflação) de 5,32%
sobre o mesmo mês de 2003. No
acumulado do ano, a arrecadação
é de R$ 128,397 bilhões, com aumento real de 5,53% sobre os cinco primeiros meses de 2003.
Segundo o tributarista Gilberto
Luiz do Amaral, presidente do
IBPT, a arrecadação dos três níveis de governo (federal, estaduais e municipais) neste ano deverá aumentar mais de R$ 35 bilhões em relação a 2003.
Esse valor representa mais de
quatro vezes o volume total das
receitas com exportações brasileiras de soja em 2003.
A previsão de Amaral se baseia
nos cerca de R$ 15 bilhões a mais
arrecadados pelos três níveis de
governo somente de janeiro a
maio. Projetando esse número
para o ano todo, Amaral chega ao
valor superior a R$ 35 bilhões.
A grande vilã tributária deste
ano já é conhecida: a Cofins (Contribuição para o Financiamento
da Seguridade Social).
São três os motivos para isso:
em setembro de 2003, a alíquota
da contribuição paga pelos bancos subiu de 3% para 4% (mais
33,3%); em fevereiro deste ano,
com o fim da cumulatividade, as
demais empresas passaram a pagar mais 153,3% (a alíquota subiu
de 3% para 7,6%); e no mês passado começou a cobrança sobre os
produtos importados -isentos
até abril. Os importados também
passaram a pagar o PIS (Programa de Integração Social).
"O Ministério da Fazenda se
equivocou na análise de que a
mudança na sistemática da Cofins não provocaria aumento da
carga tributária", disse Amaral.
A sistemática em questão foi o
fim da cumulatividade existente
até janeiro deste ano (cobrança
em todas as etapas da cadeia produtiva). Segundo a Receita, a alíquota de 7,6% seria compensada
com o fim da cumulatividade e
com o aproveitamento dos créditos por alguns segmentos.
Quando a medida provisória
que pôs fim à cumulatividade foi
publicada ao final de 2003, especialistas em tributação concordaram em parte com a tese da Receita. A concordância: sem ser cumulativa, a alíquota teria mesmo
de subir. A discordância: os 7,6%
significavam uma "calibragem"
exagerada (seria mais adequada
uma alíquota de 6% a 6,2%).
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