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SEMENTE DA DISCÓRDIA
Critério para inspeção de carregamentos ainda não foi definido, o que pode atrasar retomada das vendas
Acordo sobre soja com a China deixa dúvidas
CLÁUDIA TREVISAN
DE PEQUIM
O governo brasileiro celebrou o
fechamento do acordo para a retomada de exportações de soja
para a China, mas ainda há dúvidas sobre a sua implementação. O
ponto mais nebuloso é o critério
que o país asiático usará na composição das amostras que serão
examinadas para verificação de
eventual contaminação da carga.
Os representantes do Ministério
da Agricultura que participaram
da negociação queriam que o
acordo previsse a aproximação
dos critérios utilizados pelos dois
países, o que permitiria a comparação segura dos resultados.
Os chineses se opuseram à proposta e aceitaram apenas a inclusão de um ponto que prevê a troca
de informações sobre "os métodos de amostragem e inspeção
para proteção da saúde pública".
Como os navios de soja têm em
média 60 mil toneladas de carga, é
inviável a realização de exames
em todo o produto. Por isso, são
fixados procedimentos para coleta de inúmeras pequenas amostras da soja, em diferentes pontos
do carregamento, que no fim resultarão em um quilo do produto
que será enviado para exame. É
nesse quilo que a soja pode apresentar no máximo um grão tratado com agroquímico, e não em
cada quilo da carga total.
Odilson Ribeiro, chefe da Divisão de Assuntos Sanitários Internacionais da Secretaria de Defesa
Agropecuária do Ministério da
Agricultura, afirma que a metodologia para composição da porção que será examinada é fundamental para que ela dê uma
amostra real da carga. "Sem uma
metodologia científica de amostragem, não dá para discutir."
O governo brasileiro já pediu informações aos chineses sobre os
procedimentos de coleta de
amostras que foram utilizados
nos exames feitos nos cinco navios com soja rejeitados entre fim
de abril e início de junho, mas até
agora não obteve resposta.
Segundo Ribeiro, não é necessário que os chineses tenham a mesma metodologia adotada pelo
Brasil, mas sim que trabalhem
com padrões científicos de amostragem da carga.
A agência de notícias Bloomberg divulgou ontem estudo da
Administração Estatal de Grãos
da China segundo o qual a retomada das exportações do Brasil
para o país não será imediata, em
razão da falta de definição dos critérios de amostragem adotados
pelos chineses. "O acordo foi fechado com o Ministério da Quarentena, e não com a Administração de Grãos, que cuida apenas da
questão de estoques internos",
ressaltou Ribeiro, para quem a
afirmação não tem fundamento.
A agência de notícias citou ainda declarações do pesquisador Li
Ke, da National Grain & Oils Information Center, centro de estudos do setor agrícola. "Os dois lados parecem ter um entendimento distinto do que o acordo prevê", disse Li à Bloomberg. "Não
há como a inspeção ser realizada,
portanto os embarques não vão
ser retomados rapidamente",
afirmou o pesquisador.
Apesar de o acordo falar em troca de informações sobre os critérios de amostragem, Ribeiro diz
que esse não é um ponto do qual
dependa a retomada das exportações de soja do Brasil para a China. Segundo o documento, "o lado chinês concorda em permitir
que os 23 exportadores anteriormente suspensos [pelo Ministério
da Quarentena] retomem suas exportações de soja".
Essas 23 empresas representam
90% das exportações de soja do
Brasil para a China e eram responsáveis pelas cargas dos cinco
navios que foram rejeitados pelo
país asiático. No ponto anterior
do acordo, o governo brasileiro
"garante" que os problemas de
não-conformidade da soja não
irão se repetir depois da adoção
da instrução normativa nš 15, de
11 de junho, que estabeleceu normas rigorosas de inspeção.
Também não está escrito com
todas as letras no acordo que os
chineses aceitarão o limite de um
grão contaminado por quilo de
amostra da carga fixado pela instrução normativa. O padrão é
mais rigoroso que os dos Estados
Unidos e da Europa, que permitem até três grãos por quilo.
"Não está escrito que eles vão
aceitar o padrão de qualidade,
mas sim que a rigidez da instrução normativa reduzirá a possibilidade de existência de grãos contaminados", observa Ribeiro.
Segundo ele, o limite de um
grão por quilo de amostra da carga restringe a possibilidade de
presença de partículas contaminadas aos casos realmente acidentais. "Se a mistura dos grãos
contaminados for intencional, vai
haver mais do que um grão na
amostra de um quilo", ressalta.
Pré-inspeção chinesa
A China não enviará uma equipe técnica para a pré-inspeção das
cargas de soja brasileira que tenham o país como destino, informou ontem o Ministério da Agricultura. O ministério tinha sugerido ao governo chinês a vinda do
grupo para a avaliação prévia da
mercadoria. "A princípio, os inspetores chineses não virão inspecionar as cargas brasileiras. Talvez eles venham fazer uma inspeção geral, mas não foi necessário
essa pré-inspeção para a liberação
das cargas", disse Ribeiro.
A pré-inspeção por uma comissão técnica estrangeira já é adotada nas exportações de produtos
como carne para a Rússia e manga e mamão para os EUA.
Colaborou a Sucursal de Brasília
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