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Brasil preocupa fazendeiros dos EUA
SIMON ROMERO
DO "NEW YORK TIMES"
Quando a Cargill revelou um
plano em maio para importar etanol brasileiro via América Central, a fim de evitar impostos, Rob
Obermoller, o presidente da Associação dos Produtores de Milho
de Minnesota, descreveu a decisão como exemplo da forma pela
qual "certos interesses vêm permitindo que o Brasil passe à nossa
frente em nosso jogo".
Da mesma maneira que as pessoas de outras regiões norte-americanas estão preocupadas quanto
à migração dos empregos em tecnologia para a Índia ou dos postos
industriais para a China, os fazendeiros de Minnesota se preocupam cada vez mais com o poder
do Brasil no mercado mundial de
agricultura, que pode eclipsar o
dos EUA e ameaçar suas fontes de
renda.
O fato de que tenha sido a Cargill -maior empresa de Minnesota e maior companhia de capital
fechado nos EUA- a responsável
pelo plano fez pouco para acalmar os nervos dos fazendeiros do
Estado. Eles consideram que a
Cargill esteja expandindo agressivamente suas atividades no Brasil,
em detrimento dos agricultores
norte-americanos.
A preocupação quanto ao crescimento do setor agrícola brasileiro não se limita a Minnesota, o sétimo entre os maiores Estados exportadores de bens agrícolas,
atrás de Iowa e Illinois em produção de milho e soja. Os citricultores da Flórida sugeriram o uso de
satélites espiões para acompanhar a produção brasileira de laranjas. Os produtores de açúcar
em Louisiana e na Flórida se
opõem veementemente a acordos
comerciais que abram os mercados dos EUA ao açúcar brasileiro.
Ainda assim, a preocupação
quanto ao Brasil se cristalizou de
maneira mais clara no Estado de
Minnesota, em parte devido à
longa tradição do Estado de seguir avidamente e às vezes antecipar as tendências da agricultura
internacional.
Boletins de notícias agrícolas regularmente publicam artigos sobre a agricultura brasileira, deplorando o contrabando de soja geneticamente modificada no Brasil
enquanto os fazendeiros americanos pagam royalties por esse tipo
de semente e ressaltando que um
pequeno número de agricultores
de Minnesota e de outros Estados
apostou no Brasil, ao emigrar a
fim de plantar soja.
"Fico enojado com a decisão da
Cargill", disse Sever Peterson,
agricultor que cultiva soja e milho
perto de Minneapolis. "Não tenho
nada contra meus colegas no Brasil, mas a maneira pela qual a Cargill operou foi clandestina e até
enganosa, ainda que esteja dentro
da lei."
Bill Brady, porta-voz da Cargill,
disse que a empresa estava ciente
das críticas recebidas quanto ao
projeto do etanol, mas que isso
não impediria que ela estudasse a
alternativa seriamente.
Uma recente alta na produção
agrícola brasileira colocou a questão da competição com agricultores brasileiros em posição de destaque no debate público em Minnesota e outros Estados agrícolas.
No ano passado, o Brasil pela primeira vez ultrapassou os EUA como maior exportador mundial de
soja, depois de conquistar a liderança nas exportações de açúcar,
café e suco de laranja e de se tornar o país com o maior rebanho
bovino comercial no mundo.
Paranóia
Agricultores e funcionários do
governo estadual de Minnesota
organizaram diversas viagens ao
Brasil neste ano para avaliar a
concorrência. "Alguns de nós estão paranóicos com a possibilidade de que o Brasil nos expulse do
mercado", disse Gene Hugoson,
comissário da Agricultura de
Minnesota e proprietário de uma
fazenda de soja. "Outros preferem
ignorar o problema."
A Cargill vem expandindo firmemente as suas operações no
Brasil, país em que começou a
operar há quase quatro décadas e
que hoje se tornou uma de suas
maiores fontes de receita fora dos
EUA. A empresa responde por
cerca de metade das exportações
brasileiras de açúcar e se tornou
líder em esmagamento de soja,
produção de cacau e processamento de suco de laranja no país.
Mas foi a incursão da Cargill às
exportações de etanol que realmente causou reação sensível em
Minnesota. Ainda que o Brasil seja o maior produtor mundial de
etanol, suas exportações aos EUA
ficam restritas por uma tarifa de
US$ 0,54 por galão, cujo objetivo é
proteger os produtores internos
de milho contra os produtos importados relativamente baratos.
Mas, com a regulamentação que
visa impor combustível menos
poluente entrando em vigor neste
ano em alguns Estados, a demanda por etanol -considerado menos poluente do que outros aditivos a combustíveis- dispara.
Conversão
Tentando atender à maior demanda, a Cargill desenvolveu um
plano, ainda em estudos, para
construir uma fábrica de desidratação em El Salvador, com o objetivo de converter etanol brasileiro
para uso em carros americanos.
O atrativo de El Salvador é o fato
de que o país está incluído na Iniciativa para a Bacia do Caribe,
programa que permite que 7% do
etanol usado a cada ano nos EUA
entre no país isento de tarifas de
importação caso provenham de
certos países da América Central e
Caribe.
"O Brasil é uma enorme preocupação de longo prazo", disse
Seth Naeve, agrônomo especializado em soja no Serviço de Extensão da Universidade de Minnesota. "No futuro, pode se transformar em uma potência como a
Opep (Organização dos Países
Exportadores de Petróleo) e determinar os preços da soja em todo o mundo."
Tradução de Paulo Migliacci
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