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São Paulo, quarta-feira, 23 de julho de 2003

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Para analistas, cortar Selic não é suficiente

DA REPORTAGEM LOCAL

A redução dos juros que deverá ser anunciada hoje pelo Copom não será suficiente para o crescimento econômico, dizem o mercado financeiro, o setor produtivo e o próprio governo.
Na avaliação de diferentes setores, juros mais baixos no máximo livrariam a economia da ameaça de recessão. Para crescer, o país depende do resultado das reformas tributária e previdenciária e da implementação de uma política industrial. Ou, ainda, de ações de efeito mais imediato, como a redução das alíquotas do compulsório sobre os depósitos à vista ou mesmo a redução de tributos para atender setores específicos, como a indústria automotiva.
"Se quiséssemos um impacto na economia, precisaríamos de uma queda de quatro a cinco pontos percentuais na taxa de juros. Em um cenário de queda maior, em dois ou três meses haveria recuperação do setor de bens duráveis e semiduráveis, que são áreas nas quais o consumo está reprimido há muito tempo", diz Júlio Gomes de Almeida, diretor-executivo do Iedi (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial).
Avaliação semelhante é feita por Fernando Montero, economista da consultoria Tendências. "Com um corte de dois pontos percentuais, teremos apenas um trailer do espetáculo do crescimento."
Da parte do governo, o secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, Marcos Lisboa, sustentou ontem que ""política monetária [leia-se redução dos juros e do compulsório] recupera a atividade econômica, mas não é crescimento". ""Haverá recuperação da atividade no segundo semestre, mas, para romper com essa longa história de mais de 20 anos de estagnação, não basta só política monetária", disse Lisboa.
Para o secretário, a garantia desse crescimento depende, além do resultado das reformas, dos investimentos do governo em infra-estrutura, de acertos nos marcos regulatórios (essenciais para os investimentos privados em setores como telefonia e energia) e da aprovação da Lei de Falências.
Não foi o primeiro membro do governo a admitir que juros baixos não são panacéia. Na sexta-feira, em encontro com sindicalistas, o ministro da Fazenda, Antonio Palocci Filho, argumentou que a ""queda dos juros é importante", mas que "o país necessita de ajustes de longo prazo, como as reformas e a diminuição da relação dívida/PIB", disse.
"Essa queda esperada, de 1,5 ponto ou até 2 pontos, tem efeito nulo a curto prazo. Pode, se formos otimistas, servir como sinal de que o governo abrandará a política monetária", disse José Cézar Castanhar, da Ebape/FGV.
A redução da Selic também deverá ter impacto pequeno no câmbio, pois, segundo analistas, o mercado já trabalha com a perspectiva de um corte de até dois pontos nos juros.
(CÍNTIA CARDOSO, FABRICIO VIEIRA, JOSÉ ALAN DIAS e MAELI PRADO)


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