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Para analistas, cortar
Selic não é suficiente
DA REPORTAGEM LOCAL
A redução dos juros que deverá
ser anunciada hoje pelo Copom
não será suficiente para o crescimento econômico, dizem o mercado financeiro, o setor produtivo
e o próprio governo.
Na avaliação de diferentes setores, juros mais baixos no máximo
livrariam a economia da ameaça
de recessão. Para crescer, o país
depende do resultado das reformas tributária e previdenciária e
da implementação de uma política industrial. Ou, ainda, de ações
de efeito mais imediato, como a
redução das alíquotas do compulsório sobre os depósitos à vista ou
mesmo a redução de tributos para
atender setores específicos, como
a indústria automotiva.
"Se quiséssemos um impacto na
economia, precisaríamos de uma
queda de quatro a cinco pontos
percentuais na taxa de juros. Em
um cenário de queda maior, em
dois ou três meses haveria recuperação do setor de bens duráveis
e semiduráveis, que são áreas nas
quais o consumo está reprimido
há muito tempo", diz Júlio Gomes
de Almeida, diretor-executivo do
Iedi (Instituto de Estudos para o
Desenvolvimento Industrial).
Avaliação semelhante é feita por
Fernando Montero, economista
da consultoria Tendências. "Com
um corte de dois pontos percentuais, teremos apenas um trailer
do espetáculo do crescimento."
Da parte do governo, o secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, Marcos Lisboa, sustentou ontem que ""política monetária [leia-se redução dos
juros e do compulsório] recupera
a atividade econômica, mas não é
crescimento". ""Haverá recuperação da atividade no segundo semestre, mas, para romper com essa longa história de mais de 20
anos de estagnação, não basta só
política monetária", disse Lisboa.
Para o secretário, a garantia desse crescimento depende, além do
resultado das reformas, dos investimentos do governo em infra-estrutura, de acertos nos marcos regulatórios (essenciais para os investimentos privados em setores
como telefonia e energia) e da
aprovação da Lei de Falências.
Não foi o primeiro membro do
governo a admitir que juros baixos não são panacéia. Na sexta-feira, em encontro com sindicalistas, o ministro da Fazenda, Antonio Palocci Filho, argumentou
que a ""queda dos juros é importante", mas que "o país necessita
de ajustes de longo prazo, como
as reformas e a diminuição da relação dívida/PIB", disse.
"Essa queda esperada, de 1,5
ponto ou até 2 pontos, tem efeito
nulo a curto prazo. Pode, se formos otimistas, servir como sinal
de que o governo abrandará a política monetária", disse José Cézar
Castanhar, da Ebape/FGV.
A redução da Selic também deverá ter impacto pequeno no
câmbio, pois, segundo analistas, o
mercado já trabalha com a perspectiva de um corte de até dois
pontos nos juros.
(CÍNTIA CARDOSO, FABRICIO VIEIRA, JOSÉ ALAN DIAS e MAELI PRADO)
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