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MEDO DO FUTURO
Nos próximos 60 dias, 54% dos paulistanos não pretendem comprar bens; empresários planejam demitir
Consumo freia em SP; CNI aponta recessão
ADRIANA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL
NEY HAYASHI DA CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Duas pesquisas divulgadas ontem mostram que caiu a confiança dos consumidores e aumentou
o pessimismo dos empresários
em relação ao futuro do país.
Enquanto levantamento da Fecomercio SP (Federação do Comércio do Estado de São Paulo)
revela que 54,4% das pessoas não
têm interesse em comprar qualquer bem material nos próximos
60 dias, a CNI (Confederação Nacional da Indústria) diz que já são
detectados sinais de recessão em
alguns setores produtivos do país.
No caso dos consumidores paulistanos, o medo de perder o emprego paralisa as intenções de
compra. No mês passado, esse temor era apontado por 45,1% dos
entrevistados como o responsável
por inibir o consumo. Para realizar a pesquisa, foram ouvidas 900
pessoas em São Paulo.
No início do ano, a expectativa
de uma guerra entre EUA e Iraque
fez crescer o pessimismo na economia. Mas o levantamento dos
últimos meses mostra que o desemprego voltou a ser o motivo
maior para a falta de otimismo.
Consumidores que estão no topo e na base da pirâmide social
são os mais incrédulos. Quase
59% dos entrevistados que ganham até cinco salários mínimos
não pretendem gastar com novas
mercadorias até o final de setembro. Outros 58,3% que recebem
mais de 20 salários mínimos dizem o mesmo.
Ajuda do governo
"Não há possibilidade de mudança, se o governo não mexer os
"pauzinhos" e der algum fôlego
para a economia", diz Valdemir
Colleone, diretor das Lojas Cem.
"Promoções têm efeito limitado. Sem dinheiro na praça, tudo
pára", afirma Antonio Carlos
Borges, diretor-executivo da Fecomercio.
Com o resultado deste mês, nota-se que ocorreu uma rápida reversão no humor do consumidor.
Em junho a taxa de pessoas confiantes no futuro alcançou o
maior nível desde março de 2001.
O atual crescimento do pessimismo, portanto, mostra a mudança na percepção do paulistano. No mês passado foi anunciada
taxa recorde de desemprego, de
20,6% da PEA (População Economicamente Ativa). Isso indica que
havia 1,941 milhão de desempregados. Foi confirmada a deflação
nos preços e a queda na atividade
das indústrias.
Indústrias descontentes
Outro estudo divulgado ontem
pela CNI (Confederação Nacional
da Indústria) mostra que o início
do segundo semestre se caracteriza por "um sentimento de frustração" entre os líderes industriais.
O indicador da entidade relativo
à situação da economia brasileira
caiu de 45,2 (abril) para 37,3 pontos em julho. Nessa escala, valores
acima de 50 indicam que as condições melhoraram em relação
aos últimos seis meses.
Segundo a pesquisa, realizada
com 1.385 empresas, a recuperação do nível de atividade industrial não deve ocorrer no curto
prazo. O baixo grau de utilização
da capacidade instalada e os elevados níveis de estoque são os sinais negativos apontados pelo levantamento.
De acordo com o economista
Flávio Castelo Branco, coordenador da pesquisa, já são observados sinais de recessão em alguns
setores da indústria.
"Afirmar que a economia como
um todo está em recessão seria
um pouco forte. Mas existem segmentos que enfrentam dificuldades maiores, que caracterizariam
um quadro recessivo. Se não houver mudança nos parâmetros
econômicos, estaremos a caminho de uma recessão mais abrangente", disse ele.
Segundo Castelo Branco, a queda dos juros é um dos principais
fatores necessários para que a
economia se recupere.
Neste mês, segundo a CNI, as
indústrias estão operando com
68% de sua capacidade total, contra 70% registrados em abril. O
número mostra que as empresas
ainda são capazes de expandir sua
produção sem que sejam necessários novos investimentos. "Novos
investimentos são fundamentais
para o crescimento da economia", diz Castelo Branco.
Estoques
Já o alto nível de estoques indica
que as empresas podem elevar
suas vendas sem aumentar a produção, comercializando produtos
que já estão estocados.
O indicador calculado pela CNI,
que vai de 0 a 100 -sendo que 100
seria o excesso máximo de estoques-, ficou em 55,2 neste mês.
Além disso, os industriais consultados pela CNI também projetam mais demissões até o final do
ano. Segundo a pesquisa, o indicador referente a essa expectativa
ficou em 48,1. Quando o indicador está abaixo de 50, entende-se
que a maioria das empresas espera fazer cortes no seu quadro de
funcionários.
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