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São Paulo, quarta-feira, 23 de julho de 2003

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MEDO DO FUTURO

Nos próximos 60 dias, 54% dos paulistanos não pretendem comprar bens; empresários planejam demitir

Consumo freia em SP; CNI aponta recessão

ADRIANA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL
NEY HAYASHI DA CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Duas pesquisas divulgadas ontem mostram que caiu a confiança dos consumidores e aumentou o pessimismo dos empresários em relação ao futuro do país.
Enquanto levantamento da Fecomercio SP (Federação do Comércio do Estado de São Paulo) revela que 54,4% das pessoas não têm interesse em comprar qualquer bem material nos próximos 60 dias, a CNI (Confederação Nacional da Indústria) diz que já são detectados sinais de recessão em alguns setores produtivos do país.
No caso dos consumidores paulistanos, o medo de perder o emprego paralisa as intenções de compra. No mês passado, esse temor era apontado por 45,1% dos entrevistados como o responsável por inibir o consumo. Para realizar a pesquisa, foram ouvidas 900 pessoas em São Paulo.
No início do ano, a expectativa de uma guerra entre EUA e Iraque fez crescer o pessimismo na economia. Mas o levantamento dos últimos meses mostra que o desemprego voltou a ser o motivo maior para a falta de otimismo.
Consumidores que estão no topo e na base da pirâmide social são os mais incrédulos. Quase 59% dos entrevistados que ganham até cinco salários mínimos não pretendem gastar com novas mercadorias até o final de setembro. Outros 58,3% que recebem mais de 20 salários mínimos dizem o mesmo.

Ajuda do governo
"Não há possibilidade de mudança, se o governo não mexer os "pauzinhos" e der algum fôlego para a economia", diz Valdemir Colleone, diretor das Lojas Cem.
"Promoções têm efeito limitado. Sem dinheiro na praça, tudo pára", afirma Antonio Carlos Borges, diretor-executivo da Fecomercio.
Com o resultado deste mês, nota-se que ocorreu uma rápida reversão no humor do consumidor. Em junho a taxa de pessoas confiantes no futuro alcançou o maior nível desde março de 2001.
O atual crescimento do pessimismo, portanto, mostra a mudança na percepção do paulistano. No mês passado foi anunciada taxa recorde de desemprego, de 20,6% da PEA (População Economicamente Ativa). Isso indica que havia 1,941 milhão de desempregados. Foi confirmada a deflação nos preços e a queda na atividade das indústrias.

Indústrias descontentes
Outro estudo divulgado ontem pela CNI (Confederação Nacional da Indústria) mostra que o início do segundo semestre se caracteriza por "um sentimento de frustração" entre os líderes industriais.
O indicador da entidade relativo à situação da economia brasileira caiu de 45,2 (abril) para 37,3 pontos em julho. Nessa escala, valores acima de 50 indicam que as condições melhoraram em relação aos últimos seis meses.
Segundo a pesquisa, realizada com 1.385 empresas, a recuperação do nível de atividade industrial não deve ocorrer no curto prazo. O baixo grau de utilização da capacidade instalada e os elevados níveis de estoque são os sinais negativos apontados pelo levantamento.
De acordo com o economista Flávio Castelo Branco, coordenador da pesquisa, já são observados sinais de recessão em alguns setores da indústria.
"Afirmar que a economia como um todo está em recessão seria um pouco forte. Mas existem segmentos que enfrentam dificuldades maiores, que caracterizariam um quadro recessivo. Se não houver mudança nos parâmetros econômicos, estaremos a caminho de uma recessão mais abrangente", disse ele.
Segundo Castelo Branco, a queda dos juros é um dos principais fatores necessários para que a economia se recupere.
Neste mês, segundo a CNI, as indústrias estão operando com 68% de sua capacidade total, contra 70% registrados em abril. O número mostra que as empresas ainda são capazes de expandir sua produção sem que sejam necessários novos investimentos. "Novos investimentos são fundamentais para o crescimento da economia", diz Castelo Branco.

Estoques
Já o alto nível de estoques indica que as empresas podem elevar suas vendas sem aumentar a produção, comercializando produtos que já estão estocados.
O indicador calculado pela CNI, que vai de 0 a 100 -sendo que 100 seria o excesso máximo de estoques-, ficou em 55,2 neste mês.
Além disso, os industriais consultados pela CNI também projetam mais demissões até o final do ano. Segundo a pesquisa, o indicador referente a essa expectativa ficou em 48,1. Quando o indicador está abaixo de 50, entende-se que a maioria das empresas espera fazer cortes no seu quadro de funcionários.


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