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Cúpula do Mercosul tem início hoje em clima de derrota
THIAGO GUIMARÃES
DE BUENOS AIRES
Prioridade da política externa brasileira, o Mercosul começa hoje sua cúpula semestral
em clima de derrota, por falta
de avanços em velhas discussões, como eliminação da cobrança dupla da TEC (Tarifa
Externa Comum), assimetrias
e travas comerciais.
A definição sobre o mau momento veio do próprio anfitrião
do encontro, o Paraguai, que
passa a presidência rotativa do
bloco ao Uruguai. "É uma espécie de derrota. Não tivemos solidariedade para enfrentar [a
crise mundial]", afirmou Oscar
Campuzano, um dos principais
negociadores paraguaios.
Diante da ausência de grandes anúncios no Mercosul, o
Paraguai valoriza os encontros
paralelos à cúpula. O mandatário do país, Fernando Lugo,
tem reunião bilateral hoje com
a colega chilena, Michelle Bachelet, e no sábado com o presidente brasileiro, Luiz Inácio
Lula da Silva.
Na pauta da reunião entre
Lula e Lugo, estão as negociações sobre concessões ao Paraguai em relação à usina de Itaipu. O tema emperra a agenda
bilateral -e a do Mercosul-
desde a posse do presidente paraguaio, há um ano, e deve ofuscar a reunião do bloco.
A cúpula de Assunção já começa sem acordo à vista para
eliminar a dupla (ou múltipla)
cobrança da TEC, discussão
que já dura cinco anos. Hoje,
um botão que entre no Brasil,
por exemplo, paga a TEC na entrada e na reexportação para
outros países do bloco. Isso dificulta o trânsito de produtos
dentro do Mercosul e negociações de acordos de comércio
com outros blocos, como a
União Europeia.
O fim da TEC é alvo de oposição do governo do Paraguai,
que consegue 10% de sua receita com impostos ao comércio
exterior. Também estão em
aberto os requisitos para o fim
da bitributação: interconexão
entre as aduanas e criação de
um código aduaneiro comum e
de um mecanismo de distribuição da renda aduaneira.
Outros temas
Com a queda no comércio
pós-crise mundial (a corrente
comercial do Brasil com o Mercosul recuou 31% nos primeiros seis meses deste ano), falta
consenso até em temas menores. O Brasil quer aprovar um
mecanismo para favorecer importações de têxteis do Haiti,
para ajudar a indústria do país
caribenho, mas o Paraguai já
afirmou ser contra.
A crise também motivou a
adoção, pelo governo da Argentina, de entraves a importações,
alvo de reclamações de todos os
países do Mercosul. Tampouco
há melhora na relação entre
Argentina e Uruguai, desgastada pela recusa do governo argentino em remover ambientalistas que fecham, há dois anos,
uma ligação entre os países.
Sem consolidação como
união aduaneira, avanços em
sua institucionalização e funcionalidade para dirimir conflitos entre Estados, o Mercosul
vê ainda os sócios menores tentando relançar o grupo Urupabol (Uruguai, Paraguai e Bolívia), fórum de concertação política criado nos anos 1970 e
que nunca andou muito.
Entre as novidades previstas
para essa cúpula, estão a flexibilização das regras do Focem,
fundo para minimizar assimetrias econômicas entre os sócios do bloco.
Há ainda previsão de aprovação do uso do SML (sistema de
pagamentos em moeda local)
para todos os países do Mercosul. O mecanismo, que avança
devagar entre Brasil e Argentina desde outubro de 2008, permite a importadores e exportadores dos países a liquidação de
transações comerciais em suas
moedas nacionais, eliminando
o dólar das operações.
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