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LUÍS NASSIF
O risco Lula
Assim como os demais presidenciáveis, a candidatura Lula tem pontos vantagem e
de risco. Entre os pontos tranquilizadores está a nova atitude
do PT. Hoje em dia, poucos analistas apostam em radicalização
do PT em caso de vitória de Lula
para a Presidência da República. O partido tem um núcleo de
pensamento racional. Por tal,
não se entenda um grupo com
respostas para tudo, mas apto a
ouvir e a debater propostas racionais, sem dogmas.
Há também uma clara preocupação com a estabilidade e a
governabilidade. O ponto mais
consistente do discurso de Lula,
aliás, tem sido o da necessidade
de pactos políticos e de negociação. E o próprio Lula parece ter
saído de cima do muro e se decidido pelo núcleo moderado que
o assessora na campanha.
Em caso de eleição, muito provavelmente o PT optará por um
arco de alianças de centro-esquerda, reduzindo as demandas
fisiológicas e aprimorando os
quadros gestores -uma possibilidade que parece distante de
Ciro Gomes, pela falta de um
partido político que o sustente.
Nas políticas públicas, de maneira geral, provavelmente haverá pouco conflito conceitual.
Desde meados dos anos 90, há
um pensamento consistente de
centro-esquerda no PT, cujo
principal artífice é o candidato
ao governo gaúcho Tarso Genro.
Os pontos de risco do partido
estão, inicialmente, em sua base
corporativa. Provavelmente
pouco se conseguirá avançar
nessa área, devido às resistências e interesses entranhados na
máquina. Ainda há uma ala do
partido que considera qualidade total a última forma de exploração do homem pelo homem.
Um segundo ponto é a criação
expectativas exacerbadas em alguns grupos mais radicais. Trata-se de um tema administrável,
mas que provocará desgastes no
discurso do partido. Nada que
uma posição firme inicial não
resolva. Mas, de qualquer modo, terá que utilizar uma retórica eficaz para explicar porque
não haverá grandes mudanças
nas políticas sociais atuais.
Lula tem pontos positivos, em
sua capacidade de negociar,
mas terá dificuldades para dirimir pendências internas e tomar decisões. Mesmo montando
uma boa equipe de apoio, terá
que decidir. E aí esbarra em
duas limitações. A primeira, a
sua própria dificuldade em administrar conflitos internos do
partido. A segunda, sua falta de
preparo para temas mais complexos. Em contrapartida, tem a
vantagem de não se considerar
dono da verdade e das certezas
absolutas. A questão poderá ser
resolvida com um superministro
abaixo de Lula, preparado e
com perfil gerencial. Mas, se não
resolver adequadamente essa
questão político-operacional, o
governo será paralisado.
No plano internacional, haverá uma nítida perda de espaço
político, já que Lula está bastante marcado pelos discursos de
apoio a Chávez e a Fidel, e pela
própria incapacidade atual de
captar os grandes temas mundiais -como o combate ao protecionismo nos países centrais
ou a posição do país, de líder dos
emergentes nos grandes fóruns
mundiais.
Um governo Lula poderá suprir essas deficiências utilizando
de forma adequada, e sem preconceitos, os bons quadros existentes no setor público -como os negociadores do Itamaraty, os gestores do Avança Brasil. Se
partidarizar as escolhas técnicas, terá dificuldades para conduzir o país.
E-mail - LNassif@uol.com.br
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