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No melhor dia da crise, Bolsa sobe 3,8%
Apesar de alta, Bovespa ainda acumula perdas de 10,8% desde início da crise no mercado financeiro, em 24 de julho
Ausência de más notícias faz mercados nos EUA e na Europa se recuperarem, embora analistas ainda prevejam instabilidade
FABRICIO VIEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL
A Bovespa teve ontem seu
melhor pregão desde o início da
turbulência que abala o mercado financeiro global, há um
mês. Com a valorização de
3,87% de ontem, as perdas acumuladas pela Bolsa em agosto
passaram a ser de 4,5%. A alta
de ontem foi a maior desde o
pregão de 6 de março -e a segunda mais forte do ano.
Com o mercado menos tenso, notícias de aquisições por
parte de grandes empresas internacionais repercutiram positivamente nas Bolsas. Mas,
alertam analistas, a melhora
dos últimos dias não significa
que as turbulências acabaram.
O índice Dow Jones, principal referência da Bolsa de Nova
York, subiu 1,11% e saiu do vermelho no mês (tem agora alta
mensal de 0,18%). A Nasdaq teve alta de 1,25% ontem. A Europa também teve dia de altas:
1,81% em Londres, 1,02% em
Frankfurt e 1,83% em Paris.
Apesar da melhora dos últimos dias, a Bovespa -que subiu 7,77% nos últimos quatro
pregões- ainda registra desvalorização de 10,8% desde o início da crise, em 24 de julho.
"O fato de os ativos [ações, títulos de dívida] terem caído
exageradamente nas últimas
semanas faz com que o estímulo para a saída diminua", diz
Alexandre Lintz, estrategista-chefe do banco BNP Paribas.
O giro financeiro de R$ 5,27
bilhões registrado na Bolsa ontem -23% maior que a média
diária do ano- mostra que o
movimento de compra de ações
foi consistente. As duas ações
de maior peso, Petrobras PN e
Vale do Rio Doce PNA, tiveram
ganhos de 5,56% e 5,47%.
Mesmo os estrangeiros, que
têm se destacado na ponta vendedora desde meados de julho,
têm voltado a comprar ações
nos últimos dias. Até o dia 15, o
saldo mensal das operações dos
estrangeiros na Bolsa paulista
estava negativo em R$ 2,14 bilhões. No dia 20, esse balanço
havia melhorado, ficando negativo em R$ 1,47 bilhão.
O dólar teve queda de 1,18% e
terminou o dia a R$ 2,013. A
moeda tem mostrado certa resistência para voltar abaixo dos
R$ 2, patamar rompido na semana passada. No melhor momento do dia, o dólar foi negociado ontem a R$ 2,004.
"A estabilização do câmbio é
fundamental para os juros caírem. Por enquanto, ainda acho
que há espaço para o Copom
cortar a taxa básica em 0,25
ponto", afirmou Lintz.
A diretoria do Banco Central
se reunirá nos dias 4 e 5 de setembro para definir a taxa Selic,
que está em 11,5% anuais, e há
quem preveja que a turbulência
externa e a alta do dólar façam
o BC reduzir ou mesmo interromper a queda dos juros, que
vinha ocorrendo num ritmo de
meio ponto por reunião.
Com o mercado menos arisco, houve procura por papéis da
dívida de emergentes, o que
derrubou seus riscos ontem.
O risco-país brasileiro desceu 3,23%, a 210 pontos.
O mercado agora espera que
o Fed (o BC dos EUA) reduza a
taxa básica americana, que está
em 5,25%. A próxima reunião
do Fed está marcada para o dia
18 de setembro, mas especula-se que ele possa antecipá-la para cortar a taxa, caso o mercado
não demonstre sinais mais firmes de recuperação. Menor taxa de juros ajuda a atividade
econômica e as empresas e tira
atratividade dos títulos do Tesouro dos EUA, que em crises
são vistos como porto seguro.
O Fed voltou ontem a injetar
dinheiro no mercado -US$ 2
bilhões. Tem feito isso há duas
semanas, para aumentar o volume de recursos disponíveis
no sistema financeiro, evitando
assim que a crise faça os juros
de mercado dispararem.
Na Europa, o BCE anunciou
que fará hoje uma operação de
refinanciamento no mercado
de cerca de US$ 55 bilhões com
vencimento de três meses.
Entre as notícias corporativas que animaram o mercado
ontem, estava a informação de
que as corretoras on-line americanas TD Ameritrade Holding e E*Trade Financial planejam uma fusão, o que criaria
a maior companhia do setor. O
resultado da gigante da mineração BHP Billiton, que anunciou
alta de 19% no lucro do segundo
semestre fiscal, também repercutiu positivamente.
O fato de não ter havido nenhuma novidade negativa envolvendo fundos ou instituições financeiras favoreceu a
melhora do humor.
Os problemas de solvência
no setor de crédito habitacional de alto risco nos EUA, estopim da turbulência, trazem o
temor de contágio do setor financeiro como um todo, derrubando o desempenho de fundos e de bancos. Com isso, há
um mês os investidores têm
preferido se desfazer de ativos
de maior risco, como as ações, e
buscam títulos do Tesouro dos
Estados Unidos.
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