|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Após queda, empresas recompram ações
Crise nas Bolsas provocou perdas de até 13,5% no preço de papéis, mas companhias dizem que já previam aquisição
Desde sexta, AmBev, ALL e
Positivo abriram recompras;
segundo analistas, prática é
normal mas pode elevar
cotações artificialmente
CRISTIANE BARBIERI
DA REPORTAGEM LOCAL
As empresas dizem que é
apenas coincidência, mas o fato
é que companhias abertas de
diferentes setores anunciaram
programas de recompras de
ações depois que a crise no
mercado financeiro derrubou a
cotação de papéis.
De sexta-feira a ontem, AmBev, ALL Logística, Positivo Informática e Battistella Administração e Participações anunciaram recompras.
A Positivo, que fabrica computadores, foi a primeira a informar, na sexta-feira, que pretende comprar até 870 mil
ações. No mesmo dia, o conselho da ALL, de logística, deliberou ampliar a recompra em 5
milhões de "units" (pacote com
quatro ações preferenciais e
uma ordinária), que correspondem a 1,54% dos papéis em
circulação. Ontem, a AmBev
aprovou programa de recompra de até R$ 500 milhões.
No dia 16, as ações sem direito a voto da ALL caíram 4,5%.
As com direito a voto da AmBev caíram 7%. No dia 17, os
papéis com direito a voto da
ALL despencaram 13,5%, e os
da Positivo perderam 2,5%.
Desde então, as ações recuperaram-se parcialmente.
"Na teoria econômica, chamamos isso de "signalling", é a
sinalização de que os controladores têm informações de que
o valor de mercado está baixo e
que preferem comprar e guardar as ações na tesouraria para
vendê-las futuramente, gerando resultados aos próprios investidores", afirma William
Eid Junior, coordenador do
centro de estudos em finanças
da Fundação Getulio Vargas.
"O controlador pode quebrar
as pernas se a crise aumentar,
mas via-se que não era o caso",
completou.
A iniciativa é bem-vista por
analistas. "Essa é uma sinalização positiva, principalmente
quando há volatilidade forte
nas ações e a empresa tem caixa", diz Mônica Araújo, analista da Ativa Corretora. "Significa que a empresa acredita em
seu plano de negócios."
A opinião, entretanto, não é
unânime. Segundo um diretor
de relações com investidores
ouvido pela Folha e que não
quis se identificar, esse tipo de
prática eleva artificialmente o
preço das ações, que são mal
recebidas quando voltam ao
mercado.
A AmBev e a Positivo informaram, por meio de sua assessoria de comunicação, que a recompra não foi causada pela
oscilação da última semana,
mas que se trata do cumprimento do plano estabelecido
anteriormente.
"O novo programa foi lançado porque chegamos próximos
ao limite do programa anterior,
que era de R$ 1 bilhão", disse,
por e-mail, a assessoria da AmBev. "O lançamento de programas de recompra de ações faz
parte da estratégia de retorno
de capital aos acionistas e
acontece de forma rotineira. Só
neste ano, três programas de
recompra foram lançados."
Já a Battistella, holding com
participações em vários setores, lançou um programa de recompra de até 10% de ações
com e sem direito a voto em
circulação. Orestes Gonçalves
Junior, diretor de relações com
investidores da Battistella, afirma que o fato de o programa
ter saído ontem foi mera coincidência. "Como nossas ações
não são negociadas, atendemos
a uma demanda para dar liquidez a papéis de acionistas idosos, que ajudaram a construir a
empresa", diz ele. "Devemos
investir por volta de R$ 4 milhões." Procurada, a ALL não
concedeu entrevista.
Texto Anterior: Sucessão: Rússia lança tcheco para disputar FMI Próximo Texto: PIB vai ser pouco afetado, diz BNDES Índice
|