São Paulo, quinta-feira, 23 de agosto de 2007

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Após queda, empresas recompram ações

Crise nas Bolsas provocou perdas de até 13,5% no preço de papéis, mas companhias dizem que já previam aquisição

Desde sexta, AmBev, ALL e Positivo abriram recompras; segundo analistas, prática é normal mas pode elevar cotações artificialmente

CRISTIANE BARBIERI
DA REPORTAGEM LOCAL

As empresas dizem que é apenas coincidência, mas o fato é que companhias abertas de diferentes setores anunciaram programas de recompras de ações depois que a crise no mercado financeiro derrubou a cotação de papéis.
De sexta-feira a ontem, AmBev, ALL Logística, Positivo Informática e Battistella Administração e Participações anunciaram recompras.
A Positivo, que fabrica computadores, foi a primeira a informar, na sexta-feira, que pretende comprar até 870 mil ações. No mesmo dia, o conselho da ALL, de logística, deliberou ampliar a recompra em 5 milhões de "units" (pacote com quatro ações preferenciais e uma ordinária), que correspondem a 1,54% dos papéis em circulação. Ontem, a AmBev aprovou programa de recompra de até R$ 500 milhões.
No dia 16, as ações sem direito a voto da ALL caíram 4,5%. As com direito a voto da AmBev caíram 7%. No dia 17, os papéis com direito a voto da ALL despencaram 13,5%, e os da Positivo perderam 2,5%. Desde então, as ações recuperaram-se parcialmente.
"Na teoria econômica, chamamos isso de "signalling", é a sinalização de que os controladores têm informações de que o valor de mercado está baixo e que preferem comprar e guardar as ações na tesouraria para vendê-las futuramente, gerando resultados aos próprios investidores", afirma William Eid Junior, coordenador do centro de estudos em finanças da Fundação Getulio Vargas. "O controlador pode quebrar as pernas se a crise aumentar, mas via-se que não era o caso", completou.
A iniciativa é bem-vista por analistas. "Essa é uma sinalização positiva, principalmente quando há volatilidade forte nas ações e a empresa tem caixa", diz Mônica Araújo, analista da Ativa Corretora. "Significa que a empresa acredita em seu plano de negócios."
A opinião, entretanto, não é unânime. Segundo um diretor de relações com investidores ouvido pela Folha e que não quis se identificar, esse tipo de prática eleva artificialmente o preço das ações, que são mal recebidas quando voltam ao mercado.
A AmBev e a Positivo informaram, por meio de sua assessoria de comunicação, que a recompra não foi causada pela oscilação da última semana, mas que se trata do cumprimento do plano estabelecido anteriormente.
"O novo programa foi lançado porque chegamos próximos ao limite do programa anterior, que era de R$ 1 bilhão", disse, por e-mail, a assessoria da AmBev. "O lançamento de programas de recompra de ações faz parte da estratégia de retorno de capital aos acionistas e acontece de forma rotineira. Só neste ano, três programas de recompra foram lançados."
Já a Battistella, holding com participações em vários setores, lançou um programa de recompra de até 10% de ações com e sem direito a voto em circulação. Orestes Gonçalves Junior, diretor de relações com investidores da Battistella, afirma que o fato de o programa ter saído ontem foi mera coincidência. "Como nossas ações não são negociadas, atendemos a uma demanda para dar liquidez a papéis de acionistas idosos, que ajudaram a construir a empresa", diz ele. "Devemos investir por volta de R$ 4 milhões." Procurada, a ALL não concedeu entrevista.

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