São Paulo, quinta-feira, 23 de agosto de 2007

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Gulliver vai recolher linha de brinquedos com ímãs

Série Magnetix teve recall de 4 milhões de itens nos EUA em março, mas não no Brasil

No país foram vendidos 35 mil brinquedos, fabricados na China; empresa afirma que modificou a linha, mas ainda não confirma recall

CLAUDIA ROLLI
DA REPORTAGEM LOCAL

Uma semana após a Mattel anunciar um recall de brinquedos com ímãs que podem se soltar e oferecer riscos às crianças, a Gulliver, tradicional fabricante de São Caetano do Sul (ABC paulista), comunicou que vai retirar produtos importados da linha Magnetix das lojas pelo mesmo motivo.
Apesar de já ter ocorrido um recall de 4 milhões de itens dessa linha em março do ano passado nos Estados Unidos, a empresa não confirmou até a noite de ontem se iria ou não anunciar um recall no Brasil para realizar a troca dos brinquedos.
A Gulliver vendeu 35 mil itens da linha Magnetix no Brasil em 2006 -são brinquedos com esferas metálicas e hastes plásticas com ímãs em suas extremidades que permitem que as crianças montem objetos. O produto é fabricado na China pela empresa canadense Mega Brands e vendido aos brasileiros pela Gulliver.
Até as 17h de ontem, o site da empresa (www.gulliver.com.br) exibia 49 produtos da linha Magnetix. Uma hora depois foram retirados da internet. A Folha pediu à empresa que enviasse fotos e a relação detalhada dos itens que ofereceriam riscos aos consumidores. Até o fechamento desta edição, o material não estava disponível. À noite, a Gulliver anunciou um número de telefone (0800-7702650), para esclarecer dúvidas das 8h às 17h45.
A linha Magnetix foi modificada em 2006, de acordo com a empresa, mas lotes remanescentes da versão anterior do brinquedo ainda estão no varejo. A Gulliver não sabe informar, entretanto, a quantidade de itens que estão nas lojas.
Nos Estados Unidos, o recall ocorreu após a agência que protege a segurança dos consumidores -a CPSC (Comissão de Segurança de Produtos ao Consumidor, www.cpsc.gov)- constatar 29 acidentes com os ímãs. Uma criança morreu e outras 28 tiveram de passar por cirurgia -um caso foi por aspiração, e os demais, de danos ao intestino das crianças que engoliram os ímãs. Ao menos 1.500 incidentes foram reportados ao órgão desde então.
No Brasil, segundo a Gulliver, não houve casos semelhantes. Entretanto, na última segunda-feira, a consumidora Beatriz Domingues concedeu uma entrevista a uma rádio paulista em que relata que sua filha de sete anos engoliu uma esfera do brinquedo Magnetix há quatro meses. "Ela chegou desesperada, dizendo ter engolido [o ímã]. Liguei para o médico e ele me disse para esperar um tempo necessário que o organismo eliminaria o produto. Esse período foi de cinco dias."
Maria Inês Dolci, do Pro Teste, diz que a empresa "tem de anunciar um recall imediatamente e rastrear os produtos com problema no mercado".
Marilena Lazzarini, coordenadora do Idec, reforça que, pelo Código de Defesa do Consumidor, "é crime se a empresa tiver conhecimento de um problema nocivo e deixar de informar aos consumidores e às autoridades". No Brasil , diz, foram feitos 30 recalls neste ano. Nos EUA, foram mais de 500.
Para Paulo Arthur Góes, diretor de fiscalização do Procon-SP, a empresa não pode esperar ocorrerem incidentes para fazer recall. "Se foi feito nos EUA, deveria ter sido feito aqui. Antes tarde que nunca."
Com 6% do mercado nacional, a Gulliver existe há 38 anos. Fundada pela família Lavin, a empresa ficou famosa ao fabricar brinquedos em PVC, como o Forte Apache. Seu fundador, o espanhol Mariano Lavin Ortiz, chegou ao país em 1959 com a família e morreu em 1973. Hoje, sete a cada dez produtos que a Gulliver vende no Brasil são importados. Seu faturamento cresceu 80% no primeiro semestre em relação à igual período de 2006 motivado pela venda de produtos licenciados de filmes de sucesso, como "X-Men", "Piratas do Caribe" e "Shrek", entre outros.

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