São Paulo, sábado, 23 de agosto de 2008

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Analistas criticam "ingerência" na estatal

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
DA SUCURSAL DO RIO

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva ordenou que a Petrobras desfizesse a venda de parte de uma mina de silvinita (matéria-prima para a produção do potássio) por considerar "estratégica" a propriedade do minério para o desenvolvimento da indústria de fertilizantes.
Analistas que acompanham o setor de petróleo avaliam que se trata de "ingerência indevida" do governo federal e observam que, envolvida nas grandes descobertas da camada do pré-sal, a estatal não tem hoje possibilidade de desenvolver e operar a mina, localizada em Nova Olinda do Norte (AM).
A Petrobras desistiu de vender a mina para a empresa canadense Falcon sob pressão do Palácio do Planalto.
Por meio de nota, a Petrobras reconheceu que havia assinado um documento se comprometendo a vender os direitos sobre as reservas de silvinita a uma empresa canadense e que, "por razões estratégicas", a alta administração da companhia "decidiu não prosseguir com a venda". A decisão já foi comunicada à Falcon.
O cancelamento do negócio ocorre num contexto de piora na relação entre o Palácio do Planalto e a Petrobras, por causa das reservas do pré-sal.
Como o potássio é usado pela indústria de fertilizantes, que experimenta um momento de forte alta de preços no mercado internacional, Lula e a ministra Dilma Rousseff (Casa Civil) avaliaram que interessava ao país manter toda a mina sob a propriedade da Petrobras.
Por isso, Lula pediu a Dilma que desse ordem ao presidente da Petrobras, Sergio Gabrielli, para cancelar o negócio.
Em conversas reservadas, Lula citou o caso como exemplo recente dos "choques" entre os interesses do governo e da Petrobras -esses "choques" seriam um dos motivos para a criação de uma nova estatal para administrar as reservas do pré-sal ainda não leiloadas.

"Ingerência indevida"
O negócio é estimado em cerca de US$ 150 milhões. O ex-diretor da ANP (Agência Nacional do Petróleo), John Forman, diz que a decisão faz parte de uma estratégia de governo de estimular a indústria de fertilizantes -potássio e fosfato são matérias-primas fundamentais. Mas ele observa que Petrobras não teria hoje condições para operar a mina.
"Isso vem de muitas décadas atrás. Perfurando em busca de petróleo, a Petrobras acabou achando dois depósitos de potássio. O de Sergipe está sendo operado pela Vale. Mas, para esse do Amazonas, não houve desenvolvimento. Agora, querem nacionalizar as minas, mas a questão é que a Petrobras é que não poderia operar. Não faz o menor sentido", afirma.
O consultor Adriano Pires, diretor do Centro Brasileiro de Infra-Estrutura, condenou a pressão do governo federal para que a Petrobras desistisse de vender a mina: "É uma ingerência indevida. Cerca de 62% das ações da empresa estão nas mãos de acionistas minoritários. Ainda que seja controlada pelo Estado, a Petrobras responde a acionistas privados".


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