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Analistas criticam "ingerência" na estatal
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
DA SUCURSAL DO RIO
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva ordenou que a Petrobras desfizesse a venda de parte
de uma mina de silvinita (matéria-prima para a produção do
potássio) por considerar "estratégica" a propriedade do minério para o desenvolvimento
da indústria de fertilizantes.
Analistas que acompanham o
setor de petróleo avaliam que
se trata de "ingerência indevida" do governo federal e observam que, envolvida nas grandes
descobertas da camada do pré-sal, a estatal não tem hoje possibilidade de desenvolver e
operar a mina, localizada em
Nova Olinda do Norte (AM).
A Petrobras desistiu de vender a mina para a empresa canadense Falcon sob pressão do
Palácio do Planalto.
Por meio de nota, a Petrobras
reconheceu que havia assinado
um documento se comprometendo a vender os direitos sobre as reservas de silvinita a
uma empresa canadense e que,
"por razões estratégicas", a alta
administração da companhia
"decidiu não prosseguir com a
venda". A decisão já foi comunicada à Falcon.
O cancelamento do negócio
ocorre num contexto de piora
na relação entre o Palácio do
Planalto e a Petrobras, por causa das reservas do pré-sal.
Como o potássio é usado pela
indústria de fertilizantes, que
experimenta um momento de
forte alta de preços no mercado
internacional, Lula e a ministra
Dilma Rousseff (Casa Civil)
avaliaram que interessava ao
país manter toda a mina sob a
propriedade da Petrobras.
Por isso, Lula pediu a Dilma
que desse ordem ao presidente
da Petrobras, Sergio Gabrielli,
para cancelar o negócio.
Em conversas reservadas,
Lula citou o caso como exemplo recente dos "choques" entre os interesses do governo e
da Petrobras -esses "choques"
seriam um dos motivos para a
criação de uma nova estatal para administrar as reservas do
pré-sal ainda não leiloadas.
"Ingerência indevida"
O negócio é estimado em cerca de US$ 150 milhões. O ex-diretor da ANP (Agência Nacional do Petróleo), John Forman,
diz que a decisão faz parte de
uma estratégia de governo de
estimular a indústria de fertilizantes -potássio e fosfato são
matérias-primas fundamentais. Mas ele observa que Petrobras não teria hoje condições
para operar a mina.
"Isso vem de muitas décadas
atrás. Perfurando em busca de
petróleo, a Petrobras acabou
achando dois depósitos de potássio. O de Sergipe está sendo
operado pela Vale. Mas, para
esse do Amazonas, não houve
desenvolvimento. Agora, querem nacionalizar as minas, mas
a questão é que a Petrobras é
que não poderia operar. Não faz
o menor sentido", afirma.
O consultor Adriano Pires,
diretor do Centro Brasileiro de
Infra-Estrutura, condenou a
pressão do governo federal para que a Petrobras desistisse de
vender a mina: "É uma ingerência indevida. Cerca de 62% das
ações da empresa estão nas
mãos de acionistas minoritários. Ainda que seja controlada
pelo Estado, a Petrobras responde a acionistas privados".
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