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Carro importado ganha espaço no mercado
Com demanda aquecida, real valorizado e desconto de IPI, país desponta como um dos principais consumidores das montadoras globais
Participação dos veículos vindos de fora passou de 12,5% para 15,2% em um ano; para a Anfavea, há "riscos" para a indústria
PAULO DE ARAUJO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Com a sobra de capacidade
instalada da indústria automotiva pelo mundo e a queda nas
vendas nos principais mercados, as montadoras instaladas
no Brasil correm o risco de perder mercado para os carros
produzidos lá fora, uma tendência que já começa a aparecer nas estatísticas do setor.
Em julho, a participação dos
veículos importados no total
das vendas alcançou 15,2%, ante 13,4% em junho e 12,5% em
julho de 2008. Os números referem-se aos carros importados pelas próprias montadoras
instaladas no país.
Enquanto as vendas de veículos nacionais caíram em julho, tanto em relação a junho
como ao mesmo mês do ano
passado, os emplacamentos de
veículos vindos de fora tiveram
alta de 7,8% e 20,5%, nessas
comparações.
"Temos que ficar atentos daqui para a frente, porque existe,
sim, um risco potencial. Em um
primeiro momento, há uma
perda na condição de competir
nos mercados de exportação
por causa do câmbio, e isso já
está acontecendo. E no segundo momento pode haver uma
presença maior de importados
no mercado interno", disse o
presidente da Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores),
Jackson Schneider.
Ele ressalta, porém, que a
maior parte do volume dos carros importados hoje tem origem na Argentina e no México,
países com os quais o Brasil
mantém acordos comerciais.
"Nesse caso, há uma troca. Importamos com imposto zero,
mas também exportamos para
eles com imposto zero."
No entanto, em termos percentuais, as importações de outras regiões também crescem
de forma expressiva. De acordo
com dados da Abeiva (Associação Brasileira das Empresas
Importadoras de Veículos Automotores), em junho o volume
importado de Ásia e Europa
cresceu 47,57% e 46,64%, respectivamente, ante o mesmo
mês do ano passado. Na mesma
comparação, as importações do
Mercosul cresceram 32,53%, e
as do México caíram 6,25%.
Vantagens no Brasil
Por conta da apreciação do
real (que torna os carros importados mais competitivos), a
redução do IPI (benefício estendido também aos produtos
vindos de fora) e a demanda
aquecida, o Brasil aparece como mercado de exportação
atrativo para outros países.
"Com o câmbio e o excesso de
capacidade no mundo inteiro,
há o incentivo para trazer produtos que estão sobrando para
mercados que estão crescendo.
E o Brasil é um dos poucos mercados domésticos que têm
mostrado crescimento", afirma
Letícia Costa, vice-presidente
da consultoria Booz & Company Brasil.
Alemanha, China, Índia e
Turquia também registram expansão nas vendas.
Para ela, a relação custo/benefício fica mais favorável para
o consumidor que escolher um
carro importado.
De fato, os preços dos importados tiveram reduções expressivas nos últimos meses. Pelo
preço de tabela, o Hyundai
Tucson 2.0, fabricado na Coreia do Sul, sai hoje a partir de
R$ 69.900 -em dezembro, o
preço era de R$ 79.900.
O Azera, também da Hyundai, teve o preço reduzido de R$
93.900 para R$ 75.900. Já o Audi A3 2.0, produzido na Alemanha, custa hoje R$ 117.514 -em
dezembro, saía por R$ 125.600.
De acordo com Henry Visconde, presidente da rede Eurobike, que comercializa as
marcas Audi, BMW, Land Rover, Porsche, Toyota e Volvo, a
crise levou as montadoras a
adotarem uma posição "mais
agressiva na comercialização".
"Mesmo quando o dólar disparou, o valor dos carros não foi
reajustado. As montadoras tiveram que administrar seus
preços porque o mais importante agora é manter suas fábricas ocupadas. Por isso, têm que
ter volume", afirma Visconde.
Segundo ele, boa parte dos modelos ainda é precificada com o
dólar a R$ 1,60.
Segundo Marcelo Cioffi, sócio da PricewaterhouseCoopers, a tendência é que as importações sigam em alta nos
próximos meses. "A indústria
automotiva é globalizada. Ela
vai focar onde há mercado consumidor. E o Brasil está na linha de frente", afirma.
Marcas importadas
Não são apenas os carros importados pelas montadoras
instaladas no país que têm registrado aumento de vendas.
Os automóveis de marcas importadas também registraram
alta, embora menor.
De acordo com a Abeiva, as
vendas aumentaram 1,74% entre janeiro e julho na comparação com o mesmo período do
ano passado. Os dados referem-se às marcas BMW, Chana,
Chrysler, Dodge, Effa Motors,
Jeep, Kia Motors, Pagani, Porsche e SsangYong.
Algumas marcas experimentaram desempenho melhor. A
BMW registrou no período expansão de 20,43%. O presidente da BMW Brasil, Henning
Dornbusch, estima que suas
vendas devam crescer 40%
neste ano com o lançamento de
modelos no mercado.
De acordo com Dornbusch,
que também preside a Abeiva, o
Brasil é atualmente a grande
aposta das montadoras ao redor do mundo, juntamente
com a China. Para ele, mesmo
com as limitações de renda no
país, o mercado brasileiro apresenta bom potencial de crescimento para os veículos importados, mesmo os do segmento
de luxo, por conta do ritmo de
lançamentos aquecido neste
ano e em 2010.
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