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MERCADO TENSO
O título da dívida externa mais negociado mostra que os investidores desconfiam do governo brasileiro
Entenda o C-bond, medida do risco Brasil
da Reportagem Local
O C-bond, título da dívida externa brasileira, ficou muito falado
nas últimas semanas.
O agravamento da crise internacional, com a Rússia entrando em
colapso, jogou o preço do título
por terra e o colocou nas manchetes do noticiário econômico, sempre associado ao aumento do risco
brasileiro.
Pouca gente sabe, no entanto, o
que significa a expressão "títulos
da dívida externa", qual a origem
dos C-bonds, como funciona a sua
negociação diária e porque eles
são um termômetro da percepção
do risco do país.
O C-bond nasceu em 1994,
quando o governo brasileiro assinou o acordo de renegociação da
dívida externa brasileira.
Foram renegociados US$ 52 bilhões. Na prática, a renegociação
consistiu em trocar uma dívida
por outra, de prazo mais longo e
de juros mais baixos. Além disso,
o país teve um desconto no valor
principal do que devia.
Os valores que eram devidos pelo governo brasileiro a bancos,
principalmente norte-americanos, foram transformados em seis
tipos de títulos com vencimento
de até 30 anos.
Esses títulos são conhecidos como "bradies", pois foram negociadas dentro dos parâmetros do
Plano Brady, criado pelo ex-secretário do Tesouro dos EUA, Nicholas Brady. Entre eles está o
C-bond, que se transformou no
mais negociado de todos.
Segundo um boletim do banco
ING Barings, no primeiro trimestre deste ano, os C-bond giraram
US$ 145 bilhões, quase o triplo do
segundo título mais negociado, o
Cetes do México, que movimentou US$ 56 bilhões.
O C-bond é um título de 20 anos,
com vencimento em 14 de abril de
2014 e remuneração de 8% ao ano.
O título tem um prazo de carência de 10 anos. Ou seja, apenas em
2004 o governo brasileiro deve começar a amortizar o principal da
dívida.
Inicialmente, foram emitidos
US$ 7,38 bilhões em C-bonds. Por
conta da acumulação dos juros,
hoje esse valor é US$ 8,57 bilhões.
Os C-bonds não são negociados
em pregão de Bolsa de Valores. A
negociação acontece no chamado
mercado de balcão, em que comprador e vendedor se encontram
individualmente, quase sempre
por meio de um corretor.
Todas as operações com o título
têm que ser registradas em duas
centrais de liquidação e custódia
na Europa.
Deságio e "spread"
A cotação pela qual o C-bond é
vendido e comprado é dada em
forma de deságio sobre o valor de
emissão dos títulos.
Esse deságio reflete a confiança
de que o governo brasileiro vai
honrar a dívida no vencimento.
Quanto maior o deságio, menor a
confiança.
Na sexta, o título era negociado a
55,63% do seu valor de face, indicando baixíssima confiança.
Alguns dos bradies brasileiros
têm títulos do Tesouro dos EUA
depositados pelo governo brasileiro em garantia de seu pagamento.
O C-bond é um título sem qualquer garantia e, por isso, é risco
Brasil puro.
Quanto maior o deságio com
que o título é negociado, maior
aumenta o rendimento prometido. Porque o investidor estará desembolsando menos para comprar um título com mesmo valor
de face, sobre o qual incidem os
juros pagos.
O mercado financeiro costuma
medir o rendimento do C-bond na
forma de prêmio ("spread") em
relação ao juro dos títulos do Tesouro dos EUA.
Os chamados "treasuries"
americanos são considerados os
títulos com menor risco no mundo, praticamente nulo e, por essa
razão, servem como parâmetro
para os demais.
Quanto maior o "spread" que o
C-bond paga sobre o "treasury",
maior o risco que os investidores
estão atribuindo ao Brasil.
Na sexta-feira, o C-bond fechou
pagando 11,76% sobre o título dos
EUA, o maior "spread" desde
abril de 95, quando o país estava
mergulhado na crise do México.
(VANESSA ADACHI)
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