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PAÍSES EMERGENTES
México enfrenta novos percalços para crescer e ter estabilidade, três anos e meio após o crash cambial
Crise global volta a assustar os mexicanos
RICARDO GRINBAUM
Enviado especial ao México
O primeiro conselho que se ouve
ao chegar à Cidade do México é tomar cuidado com os chamados táxis ecológicos. É raro encontrar alguém que não conheça uma vítima de um assalto cometido por
um motorista desses fusquinhas
pintados de verde.
Os assaltaxistas, como são conhecidos, dividem as manchetes
dos jornais com a crise financeira
internacional e as fraudes no programa de socorro aos bancos.
Muitos mexicanos podem não ter
se dado conta, mas os três assuntos estão intimamente ligados.
Três anos e meio depois do colapso do peso, a pobreza e a violência aumentaram. Só agora o
país começa a recuperar o padrão
de consumo de 1994, mas o medo
de uma nova crise econômica volta a assustar os mexicanos.
O México foi um dos países mais
afetados pelos choques especulativos da semana passada. Analistas
projetavam 9,30 pesos por dólar
até o final do ano. Na sexta-feira,
um dólar já valia 9,75 pesos.
As oscilações financeiras já estão
tocando a vida dos mexicanos. No
início do ano projetava-se crescer
mais de 5% com inflação de 12%.
Os números já foram revistos: o
crescimento deve ficar em 4%, e a
inflação, em 15%.
"Quando a gente acha que pode
começar a resolver os problemas,
aparecem outras complicações",
diz a vendedora Irma Kurscheka.
Na crise de 94, Irma e o marido
Johanes perderam emprego, ficaram pendurados num empréstimo para compra da casa e estão
sendo processados pelo banco.
Essa é uma história comum no
México. Dois anos antes do colapso do peso, os bancos foram privatizados e os novos donos concederam muitos empréstimos, para recuperar o dinheiro rápido. "Havia um clima de euforia no país",
disse Guillermo Aboumrad, economista do Citibank no México.
Havia distribuição de cartões de
crédito nas portas das universidades e em estandes em supermercados. Uma categoria prosperou: os
coiotes - despachantes encarregados de driblar as exigências burocráticas para apressar empréstimos bancários.
Crise de 94
Em dezembro de 94, o governo
não conseguiu segurar a cotação
do peso e precisou elevar os juros
de 17% para mais de 100% ao ano.
Uma recessão provocou um encolhimento de 6% no PIB. De cada
dez pesos emprestados pelos bancos, seis não voltaram.
Até hoje, milhões de mexicanos
estão pendurados nos bancos. Os
inadimplentes se organizaram em
associações como a El Bárzon,
com mais de três milhões de participantes. De acordo com a associação, existem seis milhões de
mexicanos inadimplentes.
O número de mexicanos que vivem em pobreza extrema cresceu
de 17 para 26 milhões de pessoas,
segundo a revista "Proceso". A
classe média mexicana emagreceu. Salários de parte dos advogados do serviço público cairam para cerca de 150 dólares por mês.
Uma parte da economia mexicana reagiu rápido à crise. Empresas
exportadoras puxaram a recuperação do país, que cresce em ritmo
acelerado há três anos. O desemprego voltou a cair, mas os problemas sociais estão sendo superados
a passos lentos.
O consumo privado cresceu
2,3% em 1996 e cerca de 5% em
1997, mas ainda está abaixo de
1994. Em 95, os salários caíram
25% e nos últimos dois anos começaram a se recuperar.
"Salário e consumo eram artificialmente elevados, sustentados
por um artíficio cambial. O esforço agora é para promover um
crescimento consistente", disse
Manuel Francia, alto funcionário
do Ministério da Fazenda.
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