São Paulo, sexta-feira, 23 de setembro de 2005

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RECEITA ORTODOXA

Ata do Copom cita projeção "abaixo do objetivo de 5,1%", mas mantém cautela sobre novos cortes nos juros

BC já prevê inflação anual abaixo da meta

NEY HAYASHI DA CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O Banco Central refez suas projeções para a inflação e concluiu que a alta dos preços deste ano deve ficar abaixo de sua meta, fixada em 5,1%. Ainda assim, a diretoria da instituição se mostra cautelosa quanto à possibilidade de cortes nos juros nos próximos meses.
Na semana passada, o Copom (Comitê de Política Monetária do BC) reduziu a taxa Selic de 19,75% ao ano para 19,50%. Ontem, foi divulgada a ata da reunião em que a decisão foi tomada. Ela traz uma defesa da atuação do BC, mas reconhece a desaceleração de alguns setores. São dados sinais de que novos cortes nos juros podem ocorrer, mas estão condicionados ao comportamento da inflação.
"O Copom avalia que a atuação cautelosa da política monetária tem sido fundamental para aumentar a probabilidade de que a inflação convirja para a trajetória de metas", diz o texto. "A projeção de inflação do cenário de referência [...] apresentou redução em relação à reunião anterior do Copom, situando-se abaixo do objetivo de 5,1% para o ano", acrescenta a ata.
É a primeira vez, desde o final do ano passado, que o BC projeta uma inflação abaixo da meta de 5,1% fixada para 2005. A principal causa desse fenômeno é o aperto nos juros promovido desde o final do ano passado -entre setembro de 2004 e maio último, a taxa Selic subiu de 16% ao ano para 19,75%.
Em tese, o fato de a inflação estimada estar abaixo das metas significa que há espaço para reverter o aperto e reduzir os juros. Esse tipo de raciocínio ganha força devido a outros fatores citados na ata.
Um deles é o "alargamento do hiato do produto" identificado pela diretoria do BC. Trata-se de um jargão que, "em português", significa que a economia já não dá tantos sinais de crescer de forma excessiva -quando a expansão se dá de forma muito acelerada, a população tende a ser mais tolerante com reajustes de preços, criando um cenário inflacionário.
Ao falar no "alargamento do hiato", o BC mostra que a ameaça de que a economia cresça rápido demais já não é tão grande como pode ter sido no passado. Essa avaliação é confirmada por dados citados na ata da reunião do Copom, caso dos resultados da indústria em julho: a produção industrial sofreu queda, assim como o nível de emprego no setor.
Apesar de reconhecer essa situação, o BC afirma que a desaceleração é passageira e deve se reverter nos próximos meses. O crescimento observado em setores como o comércio varejista é citado como contraponto ao desempenho da indústria.
A decisão de reduzir a taxa Selic em apenas 0,25 ponto pode ser um sinal de que, na avaliação do BC, a economia brasileira já está crescendo num ritmo considerado razoável, não sendo necessários estímulos adicionais significativos por parte da política de juros. Além disso, num cenário em que o cumprimento da meta deste ano já é dado como praticamente certo, a cautela adotada está mais relacionada à preocupação com o comportamento da inflação no ano que vem.
Para 2006, a meta do governo é manter a alta do IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) em 4,5%, admitindo-se um desvio de até dois pontos percentuais para cima ou para baixo desse número. Sem dar detalhes, a ata do Copom diz que, se os juros forem mantidos em 19,5% ao ano, a inflação do ano que vem ficaria abaixo desse objetivo.
Por outro lado, o documento diz que cortes nos juros fariam com que a alta dos preços ficasse acima desses 4,5% previstos pela meta. Essa previsão justificaria o argumento de que a redução da taxa Selic precisa ser feita de forma gradual, para que seu impacto nos preços possa ser acompanhado com mais cuidado.

IPCA
Sem ainda captar o reajuste da gasolina, o IPCA-15 (Índice de Preços ao Consumidor Amplo 15) registrou inflação de 0,16% em setembro. Em agosto, a alta havia sido de 0,28%.
Os alimentos continuaram em deflação em setembro: 0,60%, depois de terem registrado queda de 0,67% em agosto. Destacam-se as quedas de batata, tomate e cebola.
Alexandre Sant'Anna, economista da ARX, disse que, a partir do resultado do IPCA-15, é possível prever uma variação de 0,35% do IPCA fechado de setembro. Em agosto, o índice havia ficado em 0,17%.


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