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RECEITA ORTODOXA
Ata do Copom cita projeção "abaixo do objetivo de 5,1%", mas mantém cautela sobre novos cortes nos juros
BC já prevê inflação anual abaixo da meta
NEY HAYASHI DA CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O Banco Central refez suas projeções para a inflação e concluiu
que a alta dos preços deste ano deve ficar abaixo de sua meta, fixada
em 5,1%. Ainda assim, a diretoria
da instituição se mostra cautelosa
quanto à possibilidade de cortes
nos juros nos próximos meses.
Na semana passada, o Copom
(Comitê de Política Monetária do
BC) reduziu a taxa Selic de 19,75%
ao ano para 19,50%. Ontem, foi
divulgada a ata da reunião em que
a decisão foi tomada. Ela traz uma
defesa da atuação do BC, mas reconhece a desaceleração de alguns setores. São dados sinais de
que novos cortes nos juros podem
ocorrer, mas estão condicionados
ao comportamento da inflação.
"O Copom avalia que a atuação
cautelosa da política monetária
tem sido fundamental para aumentar a probabilidade de que a
inflação convirja para a trajetória
de metas", diz o texto. "A projeção de inflação do cenário de referência [...] apresentou redução
em relação à reunião anterior do
Copom, situando-se abaixo do
objetivo de 5,1% para o ano",
acrescenta a ata.
É a primeira vez, desde o final
do ano passado, que o BC projeta
uma inflação abaixo da meta de
5,1% fixada para 2005. A principal
causa desse fenômeno é o aperto
nos juros promovido desde o final
do ano passado -entre setembro
de 2004 e maio último, a taxa Selic
subiu de 16% ao ano para 19,75%.
Em tese, o fato de a inflação estimada estar abaixo das metas significa que há espaço para reverter
o aperto e reduzir os juros. Esse tipo de raciocínio ganha força devido a outros fatores citados na ata.
Um deles é o "alargamento do
hiato do produto" identificado
pela diretoria do BC. Trata-se de
um jargão que, "em português",
significa que a economia já não dá
tantos sinais de crescer de forma
excessiva -quando a expansão
se dá de forma muito acelerada, a
população tende a ser mais tolerante com reajustes de preços,
criando um cenário inflacionário.
Ao falar no "alargamento do
hiato", o BC mostra que a ameaça
de que a economia cresça rápido
demais já não é tão grande como
pode ter sido no passado. Essa
avaliação é confirmada por dados
citados na ata da reunião do Copom, caso dos resultados da indústria em julho: a produção industrial sofreu queda, assim como o nível de emprego no setor.
Apesar de reconhecer essa situação, o BC afirma que a desaceleração é passageira e deve se reverter nos próximos meses. O
crescimento observado em setores como o comércio varejista é
citado como contraponto ao desempenho da indústria.
A decisão de reduzir a taxa Selic
em apenas 0,25 ponto pode ser
um sinal de que, na avaliação do
BC, a economia brasileira já está
crescendo num ritmo considerado razoável, não sendo necessários estímulos adicionais significativos por parte da política de juros. Além disso, num cenário em
que o cumprimento da meta deste
ano já é dado como praticamente
certo, a cautela adotada está mais
relacionada à preocupação com o
comportamento da inflação no
ano que vem.
Para 2006, a meta do governo é
manter a alta do IPCA (Índice de
Preços ao Consumidor Amplo)
em 4,5%, admitindo-se um desvio de até dois pontos percentuais
para cima ou para baixo desse número. Sem dar detalhes, a ata do
Copom diz que, se os juros forem
mantidos em 19,5% ao ano, a inflação do ano que vem ficaria
abaixo desse objetivo.
Por outro lado, o documento
diz que cortes nos juros fariam
com que a alta dos preços ficasse
acima desses 4,5% previstos pela
meta. Essa previsão justificaria o
argumento de que a redução da
taxa Selic precisa ser feita de forma gradual, para que seu impacto
nos preços possa ser acompanhado com mais cuidado.
IPCA
Sem ainda captar o reajuste da
gasolina, o IPCA-15 (Índice de
Preços ao Consumidor Amplo 15)
registrou inflação de 0,16% em setembro. Em agosto, a alta havia sido de 0,28%.
Os alimentos continuaram em
deflação em setembro: 0,60%, depois de terem registrado queda de
0,67% em agosto. Destacam-se as
quedas de batata, tomate e cebola.
Alexandre Sant'Anna, economista da ARX, disse que, a partir
do resultado do IPCA-15, é possível prever uma variação de 0,35%
do IPCA fechado de setembro.
Em agosto, o índice havia ficado
em 0,17%.
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