São Paulo, sexta-feira, 23 de setembro de 2005

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RISCO

Em 51% das decisões no ano, Standard & Poor's elevou avaliação de países em desenvolvimento; Brasil tem expectativa de nota maior

Emergentes vivem onda de elevação de "rating"

FABRICIO VIEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

Se a expectativa do mercado tiver confirmação e a nota de risco do Brasil for elevada, uma tendência recente observada pela Standard & Poor's será ainda mais reforçada. Segundo a agência de classificação de risco norte-americana, 2005 tem sido um ano marcado pela elevação dos "ratings" de emergentes.
Estudo apresentado pela Standard & Poor's mostra que, neste ano, até agosto, 50,8% de suas decisões sobre "rating" (nota de risco de crédito) de países emergentes foram de "upgrade" (elevação). Em 2004, esse percentual ficou em 44,8%, e em 2003, de apenas 18,2%. "Se a tendência atual persistir, o percentual de "upgrades" em 2005 alcançará um novo pico", disse John B. Chambers, diretor-executivo do setor de classificação de dívidas soberanas da Standard & Poor's.
Mas os analistas ainda são cautelosos quando o assunto é elevação da nota de risco brasileira neste momento. A crise política, que tem tido menos impacto no mercado financeiro, mas que parece estar longe de seu fim, é o principal empecilho para o país ter uma nota de crédito mais favorável.
"Os fundamentos macroeconômicos do país estão muito sólidos. O Brasil já passou do ponto de merecer um rating melhor. Mas a crise política não ajuda", diz Marcelo Salomon, economista-chefe do Unibanco.
A última vez que o Brasil foi elevado pela Standard & Poor's foi em setembro do ano passado, quando o rating soberano do país passou a ser de "BB-". As notas das agências mostram a solidez da economia de um país e ilustram a maior ou menor probabilidade de um calote ser dado.
O objetivo dos países é alcançar a faixa chamada de "grau de investimento". O rating brasileiro tem ainda de ser elevado três vezes para chegar a essa categoria.
"Como a nota brasileira tem "outlook" estável, acho mais provável que antes de uma elevação de fato o país tenha esse prognóstico trocado para positivo", afirma Alexandre Lintz, estrategista-chefe no Brasil do banco francês BNP Paribas.
Além das notas, os países recebem uma perspectiva de estável, positiva (mais chances de elevação) ou negativa (chances de rebaixamento).

Situação melhor
Segundo a Standard & Poor's, de setembro do ano passado até agosto último, 15 países emergentes tiveram seus ratings aumentados. Apenas 4 foram rebaixados no período. No mês passado, Venezuela, Marrocos e África do Sul passaram a ter notas de crédito melhores.
Além dos bons resultados econômicos -como inflação em baixa e exportações em níveis recordes-, a emissão feita pelo Tesouro Nacional no mercado internacional com títulos atrelados ao real foi encarada por analistas como um sinal de que o país está bem visto no exterior.
O risco-país brasileiro, medido pelo JP Morgan, está em seus menores níveis desde 1997, o que também demonstra que os investidores crêem ser mais difícil haver um calote por parte do Brasil. No fim das operações de ontem, o risco-país fechou a 364 pontos.
Ao investir em um país ou emprestar dinheiro, o maior temor dos investidores é o de haver calote -e terem de amargar prejuízos no futuro.
Ter uma nota de crédito melhor pode resultar em maior facilidade para conseguir empréstimos, pagando taxas menores.
A viagem do ministro da Fazenda, Antonio Palocci, do presidente do BC, Henrique Meirelles, e do secretário do Tesouro, Joaquim Levy, para Washington aumentou a expectativa do mercado em torno da possibilidade de a nota de risco brasileira ser elevada. Os representantes da equipe econômica foram aos EUA para participar da reunião anual do FMI e do Banco Mundial.


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