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AGRONEGÓCIO
Instabilidade da produção gera distorções nos preços e afeta segmento; convenção mundial começa hoje em Salvador
Setor discute como evitar novas crises do café
MAURO ZAFALON
DA REDAÇÃO
O valor das exportações mundiais de café verde, pelos países
produtores, atingiu US$ 9,4 bilhões nos últimos 12 meses até junho último, 46% acima da média
de US$ 6,4 bilhões de 2000 a 2004.
O que parece ser um excelente
momento para os países produtores e exportadores é, na realidade,
apenas uma recuperação de terreno, já que os US$ 9,4 bilhões representam queda de 20% em relação à média de US$ 11,7 bilhões de
1995 a 1999.
Os dados são do Ipev (índice de
participação internacional do café
verde no varejo do café industrializado) do Cecafé (Conselho dos
Exportadores de Café do Brasil).
As lições que os períodos de crise trazem -muitas vezes com sérios abalos às finanças do setor-
e os novos caminhos que se apresentam serão os focos da discussão entre os principais participantes mundiais desse segmento, a
partir de hoje, em Salvador (BA),
onde ocorrerá a 2ª Convenção
Mundial do Café.
Produção, oferta e, conseqüentemente, os preços do café têm sido muito inconstantes no mercado nas últimas décadas.
Em junho de 2002, o produtor
recebia apenas US$ 40 por saca,
preço que chegou próximo do
fundo do poço. Há dois meses, esse valor superava US$ 100, mas já
voltou para US$ 90.
A mudança acentuada dos preços acaba afetando não só o produtor, mas também os exportadores e as indústrias, que sentem
a quebra de qualidade do produto
nos períodos de preços baixos e a
ausência do consumidor nos supermercados no período de alta.
Os dados do Ipev mostram isso.
Nos últimos 12 meses até junho,
os US$ 9,4 bilhões obtidos pelos
países exportadores de café se
transformaram em US$ 33,6 bilhões no faturamento do varejo
dos países importadores.
Esse valor supera em 4,3% o de
2004, mas é 7,7% inferior aos US$
36,4 bilhões conseguidos pelo varejo em 2000.
Traçar diretrizes
Esses dados do Ipev mostram
que os países exportadores de café
verde têm 28% de participação no
faturamento das vendas do produto industrializado no varejo
dos países importadores.
A 2ª Conferência Mundial do
Café, que vai até domingo, "é um
evento mais político do que operacional", diz Nathan Herszkowicz, diretor-executivo da Abic
(associação das indústrias).
Portanto, devem ser traçadas
diretrizes de como gerir o negócio
café evitando que os preços passem por sobressaltos como os
ocorridos recentemente, acrescenta o executivo.
Guilherme Braga, diretor-geral
do Cecafé, diz que o cenário para
o setor é bom. "O mercado já aceita um crescimento constante do
consumo, que passaria dos atuais
119 milhões de sacas para 145 milhões em dez anos." Se essas previsões se confirmarem, o crescimento anual do consumo subiria
2%, contra 1% nos últimos anos.
"É preciso tirar lições da última
crise do café, que foi superior à de
1929", diz o secretário de Produção e Agroenergia do Ministério
da Agricultura, Linneu da Costa
Lima. Para ele, a crise deixou problemas financeiros muito sérios
no setor e o encontro de Salvador
deve discutir a transparência das
informações tanto da produção
como dos estoques. Na avaliação
do secretário, é preciso evitar medidas que "mascarem" o mercado, como as recentes retenções de
estoques.
Potencial brasileiro
Para Lima, o Brasil, com 40% da
produção mundial de café, passa
a ser a atenção dos investidores
externos. Eles vêem o país com
grande potencial não só na produção, mas também no consumo.
O país é o segundo maior consumidor mundial, com 15 milhões de sacas anuais, mas algumas previsões já indicam que poderá ultrapassar os Estados Unidos, que estão na liderança.
Muitos países são extremamente dependentes do café, principalmente na África e na América
Central. O café é cultivado em 60
países e movimenta cerca de 25
milhões de pessoas. Só os cafés
servidos em xícaras fora dos domicílios (casas de café, bares, escritórios etc.) giram US$ 120 bilhões por ano, segundo o Cecafé.
O evento, que tem também a
coordenação do Ministério da
Agricultura e da Aiba (Associação
de Agricultores e Irrigantes da Bahia), discute amanhã as lições que
surgem da crise e, no domingo, as
políticas para desenvolver o setor
cafeeiro de forma sustentável.
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