São Paulo, sexta-feira, 23 de setembro de 2005

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AGRONEGÓCIO

Instabilidade da produção gera distorções nos preços e afeta segmento; convenção mundial começa hoje em Salvador

Setor discute como evitar novas crises do café

MAURO ZAFALON
DA REDAÇÃO

O valor das exportações mundiais de café verde, pelos países produtores, atingiu US$ 9,4 bilhões nos últimos 12 meses até junho último, 46% acima da média de US$ 6,4 bilhões de 2000 a 2004.
O que parece ser um excelente momento para os países produtores e exportadores é, na realidade, apenas uma recuperação de terreno, já que os US$ 9,4 bilhões representam queda de 20% em relação à média de US$ 11,7 bilhões de 1995 a 1999.
Os dados são do Ipev (índice de participação internacional do café verde no varejo do café industrializado) do Cecafé (Conselho dos Exportadores de Café do Brasil).
As lições que os períodos de crise trazem -muitas vezes com sérios abalos às finanças do setor- e os novos caminhos que se apresentam serão os focos da discussão entre os principais participantes mundiais desse segmento, a partir de hoje, em Salvador (BA), onde ocorrerá a 2ª Convenção Mundial do Café.
Produção, oferta e, conseqüentemente, os preços do café têm sido muito inconstantes no mercado nas últimas décadas.
Em junho de 2002, o produtor recebia apenas US$ 40 por saca, preço que chegou próximo do fundo do poço. Há dois meses, esse valor superava US$ 100, mas já voltou para US$ 90.
A mudança acentuada dos preços acaba afetando não só o produtor, mas também os exportadores e as indústrias, que sentem a quebra de qualidade do produto nos períodos de preços baixos e a ausência do consumidor nos supermercados no período de alta.
Os dados do Ipev mostram isso. Nos últimos 12 meses até junho, os US$ 9,4 bilhões obtidos pelos países exportadores de café se transformaram em US$ 33,6 bilhões no faturamento do varejo dos países importadores.
Esse valor supera em 4,3% o de 2004, mas é 7,7% inferior aos US$ 36,4 bilhões conseguidos pelo varejo em 2000.

Traçar diretrizes
Esses dados do Ipev mostram que os países exportadores de café verde têm 28% de participação no faturamento das vendas do produto industrializado no varejo dos países importadores.
A 2ª Conferência Mundial do Café, que vai até domingo, "é um evento mais político do que operacional", diz Nathan Herszkowicz, diretor-executivo da Abic (associação das indústrias).
Portanto, devem ser traçadas diretrizes de como gerir o negócio café evitando que os preços passem por sobressaltos como os ocorridos recentemente, acrescenta o executivo.
Guilherme Braga, diretor-geral do Cecafé, diz que o cenário para o setor é bom. "O mercado já aceita um crescimento constante do consumo, que passaria dos atuais 119 milhões de sacas para 145 milhões em dez anos." Se essas previsões se confirmarem, o crescimento anual do consumo subiria 2%, contra 1% nos últimos anos.
"É preciso tirar lições da última crise do café, que foi superior à de 1929", diz o secretário de Produção e Agroenergia do Ministério da Agricultura, Linneu da Costa Lima. Para ele, a crise deixou problemas financeiros muito sérios no setor e o encontro de Salvador deve discutir a transparência das informações tanto da produção como dos estoques. Na avaliação do secretário, é preciso evitar medidas que "mascarem" o mercado, como as recentes retenções de estoques.

Potencial brasileiro
Para Lima, o Brasil, com 40% da produção mundial de café, passa a ser a atenção dos investidores externos. Eles vêem o país com grande potencial não só na produção, mas também no consumo.
O país é o segundo maior consumidor mundial, com 15 milhões de sacas anuais, mas algumas previsões já indicam que poderá ultrapassar os Estados Unidos, que estão na liderança.
Muitos países são extremamente dependentes do café, principalmente na África e na América Central. O café é cultivado em 60 países e movimenta cerca de 25 milhões de pessoas. Só os cafés servidos em xícaras fora dos domicílios (casas de café, bares, escritórios etc.) giram US$ 120 bilhões por ano, segundo o Cecafé.
O evento, que tem também a coordenação do Ministério da Agricultura e da Aiba (Associação de Agricultores e Irrigantes da Bahia), discute amanhã as lições que surgem da crise e, no domingo, as políticas para desenvolver o setor cafeeiro de forma sustentável.


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