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Miséria recua, mas ainda atinge 43 milhões
Estudo da FGV mostra que 22,8% dos brasileiros estão abaixo da linha de pobreza, contra 26,7% verificados em 2002
Apesar disso, receita da queda da miséria e da desigualdade verificada
nos últimos anos não é sustentável, diz entidade
JANAINA LAGE
DA SUCURSAL DO RIO
A proporção de pessoas que
viviam abaixo da linha de pobreza caiu para 22,77% em
2005, segundo dados do Centro
de Políticas Sociais da FGV
(Fundação Getulio Vargas). Em
2002, essa participação era de
26,72%. Apesar da melhora, o
país ainda tem 42,6 milhões de
pessoas que vivem abaixo da linha de pobreza, fixada em R$
121 de renda per capita. Segundo Marcelo Neri, economista
da FGV, a receita da queda da
miséria e da desigualdade verificada nos últimos anos não é
sustentável.
A miséria caiu 14,8% no governo Lula, um resultado inferior ao verificado na primeira
gestão de Fernando Henrique
Cardoso, quando a queda chegou a 23,02%. A análise do ritmo de queda anual, no entanto,
revela um patamar similar. No
mandato de Lula, a miséria caiu
5,2% ao ano, contra recuo de
5,1% no período de 1993 a 1998.
Para o economista, a combinação de programas de transferência de renda com aumento
do salário mínimo não é uma
receita eficaz. "Não é uma trajetória sustentável, estamos
aumentando os gastos fiscais, e
a carga tributária é bastante alta para um país como o Brasil. A
sociedade não agüenta mais
imposto, que pressiona juros e
trava o crescimento", disse.
Na avaliação de Neri, o aumento do mínimo é um instrumento de custo elevado no
combate à pobreza e não atinge
as pessoas mais pobres. Em
2005, os 50% mais pobres recebiam R$ 123,47. O caminho para uma trajetória consistente
de redução das diferenças entre
os mais ricos e os mais pobres
deveria passar por um aperfeiçoamento do Bolsa-Família, na
avaliação do economista. "A cada R$ 1 gasto com o programa,
você reduz duas vezes e meia
mais do que o mesmo valor gasto com o aumento do mínimo."
A expansão do programa de
transferência de renda não deveria ocorrer por meio de um
aumento do número de beneficiados, e sim por uma melhora
na qualidade dos cadastros para que os contemplados fossem
realmente os mais pobres da
população, segundo Neri. O
economista considera o período de 2003 a 2005 como um segundo Plano Real, com aumento do emprego formal, redução
da pobreza e da desigualdade. A
melhora dos indicadores foi
proporcionada pela combinação de inflação menor para os
mais pobres, expansão do Bolsa-Família e alta do mínimo.
Nesse período, a miséria caiu
19,18% contra uma redução de
18,47% entre 1993 e 1995. A
comparação entre os governos
de Lula e Fernando Henrique
mostra que o primeiro teve
uma atuação mais voltada para
os mais pobres, e o segundo,
uma política benéfica para o
conjunto da população.
"FHC fez políticas mais horizontais, que afetaram todos os
brasileiros. No fim do governo,
criou programas de transferência que foram aprofundados no
governo Lula, que se preocupou mais com os mais pobres. A
grande vitória deste governo foi
a continuidade da política econômica e social", disse.
As diferenças na apropriação
da renda ainda são drásticas.
Em 2005, os 50% mais pobres
respondiam por 14,1% da renda
no país. Já os 10% mais ricos representavam 45,1% da renda.
Os dados da FGV mostram
ainda que a miséria nas metrópoles voltou a retroceder. Em
2005, ela recuou para 16,22%,
mas ainda é maior do que em
1995, quando atingia 15,07% da
população. "Pode ser um indício de fim da crise das cidades",
avalia o economista. A miséria
rural manteve a trajetória de
queda, mas ainda atinge
45,74% no campo.
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