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Relação entre crescimento da economia e a desigualdade social gera divergência
DA REDAÇÃO
Marcio Pochmann e Ricardo
Paes de Barros divergem em relação aos resultados do combate à desigualdade e na forma de
analisar o problema no Brasil.
A forma como se analisa o tema está equivocada, diz Pochmann: a renda do indivíduo depende do crescimento da renda
nacional (medida pelo PIB) e
da distribuição funcional da
renda, ou seja, quanto fica com
os trabalhadores. Para Paes de
Barros, mesmo sem crescimento, o país pode promover redução das desigualdades.
"Estamos aqui discutindo a
desigualdade pessoal de algo
que representa pouco mais de
um terço da renda nacional",
diz Pochmann. Segundo ele,
em 1960, a renda do trabalho
-de empresários, autônomos e
assalariados- representava
50,5% do PIB. Em 1980, o índice caiu para 50%. Em 2000, essa fatia tinha diminuído para
37,1% da renda nacional.
"A Pnad [Pesquisa Nacional
por Amostra de Domicílios do
IBGE] está concentrada na
renda do trabalho. Não consegue medir de forma precisa outras formas de renda, como a do
aluguel, dos juros, do capital e
da terra", diz Pochmann. Se
considerados esses fatores, argumenta, 78% da riqueza nacional está nas mãos de 10% da
população. Para ele, a Pnad não
é capaz de avaliar a renda dos
ricos. "A renda média dos 10%
do extrato superior é de R$
3.600. Ou seja, é a renda da
classe média assalariada." Segundo ele, os ricos não aparecem nessas estatísticas.
"Não dá para dizer que a desigualdade aumentou ou diminuiu no Brasil olhando uma
parte pequena da renda, sem
considerar outras formas de
renda no Brasil", critica Pochmann.
Para demonstrar que sem
crescimento o país não conseguirá reduzir as desigualdades,
ele fez duas projeções. Na primeira, supôs que em 2000 a
renda do trabalho ainda representasse 50% da renda nacional, como em 1980. Mantida a
desigualdade até hoje, a renda
média dos 40% mais pobres seria de R$ 272, acima dos R$ 221
registrados em 2005. "Ou seja,
inalterada a desigualdade no
Brasil, mas sem modificar a distribuição funcional da renda, os
trabalhadores teriam renda
maior."
Mas, diz Pochmann, se o país
tivesse crescido 7% ao ano como cresceu de 1960 a 1980 e se
a participação da renda do trabalho fosse mantida no PIB,
mesmo que o nível de desigualdade não se alterasse, a renda
dos 40% mais pobres seria de
R$ 1.045. "Sem crescimento
econômico, você iguala a pobreza. Se não houver expansão
da produção, se não for possível
aumentar a participação dos
salários na renda nacional, a redução da desigualdade que se
pode obter não tem relevância.
A estabilidade monetária é importante, mas insuficiente para
construir um país."
Paes de Barros
Já Paes de Barros concorda
com a necessidade de crescimento, mas entende que, mesmo com baixo índice de expansão, é possível reduzir a desigualdade social no país. "Mesmo que o Brasil não tenha crescimento, reduções na desigualdade são possíveis e importantes. Isso vai melhorar a renda
dos mais pobres e reduzir a dos
ricos. É uma situação melhor
do que não melhorar a renda de
ninguém."
Ele avalia que entre 2001 e
2005 o país avançou, e muito,
na redução das desigualdades,
apesar dos baixos índices de
crescimento econômico. "O
Brasil, no últimos quatro anos
conseguiu reduzir a desigualdade, medida pelo coeficiente
Gini [indicador que mede a
concentração de renda de um
país], em 1,2% ao ano. Ou seja,
conseguimos reduzi-las em
mais de um ponto percentual
por ano", defende Paes de Barros. "Os países que mais vêm
conseguindo reduzir a pobreza
no mundo vêm conseguindo
reduzi-la em um ponto percentual ao ano", afirma.
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