São Paulo, sábado, 23 de setembro de 2006

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Relação entre crescimento da economia e a desigualdade social gera divergência

DA REDAÇÃO

Marcio Pochmann e Ricardo Paes de Barros divergem em relação aos resultados do combate à desigualdade e na forma de analisar o problema no Brasil.
A forma como se analisa o tema está equivocada, diz Pochmann: a renda do indivíduo depende do crescimento da renda nacional (medida pelo PIB) e da distribuição funcional da renda, ou seja, quanto fica com os trabalhadores. Para Paes de Barros, mesmo sem crescimento, o país pode promover redução das desigualdades.
"Estamos aqui discutindo a desigualdade pessoal de algo que representa pouco mais de um terço da renda nacional", diz Pochmann. Segundo ele, em 1960, a renda do trabalho -de empresários, autônomos e assalariados- representava 50,5% do PIB. Em 1980, o índice caiu para 50%. Em 2000, essa fatia tinha diminuído para 37,1% da renda nacional.
"A Pnad [Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios do IBGE] está concentrada na renda do trabalho. Não consegue medir de forma precisa outras formas de renda, como a do aluguel, dos juros, do capital e da terra", diz Pochmann. Se considerados esses fatores, argumenta, 78% da riqueza nacional está nas mãos de 10% da população. Para ele, a Pnad não é capaz de avaliar a renda dos ricos. "A renda média dos 10% do extrato superior é de R$ 3.600. Ou seja, é a renda da classe média assalariada." Segundo ele, os ricos não aparecem nessas estatísticas.
"Não dá para dizer que a desigualdade aumentou ou diminuiu no Brasil olhando uma parte pequena da renda, sem considerar outras formas de renda no Brasil", critica Pochmann.
Para demonstrar que sem crescimento o país não conseguirá reduzir as desigualdades, ele fez duas projeções. Na primeira, supôs que em 2000 a renda do trabalho ainda representasse 50% da renda nacional, como em 1980. Mantida a desigualdade até hoje, a renda média dos 40% mais pobres seria de R$ 272, acima dos R$ 221 registrados em 2005. "Ou seja, inalterada a desigualdade no Brasil, mas sem modificar a distribuição funcional da renda, os trabalhadores teriam renda maior."
Mas, diz Pochmann, se o país tivesse crescido 7% ao ano como cresceu de 1960 a 1980 e se a participação da renda do trabalho fosse mantida no PIB, mesmo que o nível de desigualdade não se alterasse, a renda dos 40% mais pobres seria de R$ 1.045. "Sem crescimento econômico, você iguala a pobreza. Se não houver expansão da produção, se não for possível aumentar a participação dos salários na renda nacional, a redução da desigualdade que se pode obter não tem relevância. A estabilidade monetária é importante, mas insuficiente para construir um país."

Paes de Barros
Já Paes de Barros concorda com a necessidade de crescimento, mas entende que, mesmo com baixo índice de expansão, é possível reduzir a desigualdade social no país. "Mesmo que o Brasil não tenha crescimento, reduções na desigualdade são possíveis e importantes. Isso vai melhorar a renda dos mais pobres e reduzir a dos ricos. É uma situação melhor do que não melhorar a renda de ninguém."
Ele avalia que entre 2001 e 2005 o país avançou, e muito, na redução das desigualdades, apesar dos baixos índices de crescimento econômico. "O Brasil, no últimos quatro anos conseguiu reduzir a desigualdade, medida pelo coeficiente Gini [indicador que mede a concentração de renda de um país], em 1,2% ao ano. Ou seja, conseguimos reduzi-las em mais de um ponto percentual por ano", defende Paes de Barros. "Os países que mais vêm conseguindo reduzir a pobreza no mundo vêm conseguindo reduzi-la em um ponto percentual ao ano", afirma.


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