São Paulo, domingo, 23 de setembro de 2007

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Economia vive "2ª fase" de formalização

Internacionalização de empresas ao final dos anos 90 levou ao aumento da taxa de emprego formal em vários setores

Companhias acostumadas a altas taxas de retorno por conta da informalidade têm mais dificuldades para colocar balanços em ordem

DA REPORTAGEM LOCAL

Escritórios de advocacia e consultorias afirmam que há procura crescente de empresas de setores menos formalizados para "colocar a casa em ordem" visando os IPOs.
Everardo Maciel, consultor e ex-secretário da Receita Federal no governo FHC, diz que as companhias brasileiras passam por uma "segunda fase" no processo de formalização. "No final dos anos 90, houve a formalização pela necessidade de as empresas se internacionalizarem ou captarem dinheiro fora. Os IPOs agora estão induzindo ao mesmo processo."
Carlos Alberto Ramos, consultor do Ministério do Trabalho, afirma que a maior internacionalização a partir do final dos anos 90 contribuiu fortemente para o emprego formal.
Entre 1994 e 1998, enquanto a variação média do PIB foi de 3%, o emprego formal cresceu magro 0,25%. Já entre 1999 (ano da desvalorização, que deu impulso ao setor exportador e mais internacionalizado) e 2006, o PIB variou, em média, 2,7%. Já o emprego formal subiu 4,5% ao ano, em média.
No caso dos IPOs, especialistas acreditam que a formalização do emprego atinja muito mais os setores tradicionalmente informais, como construção e agronegócio, e apenas marginalmente as demais áreas da economia.
Juliana Martinelli, sócia do escritório Martinelli Advocacia Empresarial, afirma que só nos últimos dois meses mais de dez empresas, de diversos setores, procuraram sua firma para se preparar para os IPOs.
"Há muitas diferenças culturais entre as empresas. As que trabalham com mais de um caixa têm um longo caminho a percorrer. Muitas estão acostumadas com uma taxa de retorno que a irregularidade traz e que é difícil de obter quando as contas são colocadas em dia."
No setor de construção, muitas companhias já operam há anos de modo formal. A Gafisa, por exemplo, já era listada na CVM (Comissão de Valores Mobiliários) oito anos antes de fazer o seu IPO, em 2006. "Entre a decisão de fazer a oferta pública e a sua realização, passaram-se menos de 90 dias", afirma Duílio Calciolari, diretor financeiro da Gafisa.
No agronegócio, um dos setores mais interessados na captação de dinheiro via IPOs é o sucroalcooleiro. Com enormes perspectivas de crescimento, o segmento é ainda extremamente pulverizado (a Cosan, a maior e que fez seu IPO em 2005, tem 10% do mercado).
Segundo um empresário da área que prefere não ser identificado, estão programados pelos menos mais cinco IPOs no setor até o final deste ano.
Essas companhias, diz, já vinham "arrumando" a casa há anos. Agora, o setor como um todo tende a acelerar esse processo, já que a inevitável concentração ocorrerá a partir dos grupos que estiverem mais capitalizados.(FERNANDO CANZIAN)

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