São Paulo, domingo, 23 de setembro de 2007

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Problemática, Fernão Dias vai a leilão

Reportagem percorreu 1.200 km na rodovia e encontrou falhas em 30% das placas de sinalização

Rodovia federal por onde passa 20% da produção do parque industrial de Minas Gerais e de São Paulo será leiloada daqui a 16 dias

JOÃO CARLOS MAGALHÃES
DA AGÊNCIA FOLHA

A 16 dias de ser leiloada, a rodovia federal Fernão Dias, trecho da BR-381 que liga São Paulo a Belo Horizonte (MG), enfrenta uma situação de abandono, com sinalização deteriorada, problemas no asfalto e uma polícia rodoviária desacreditada pelos usuários.
Inaugurada nos anos 50, a Fernão Dias é um dos principais corredores logísticos do país. Cerca de 20% da produção do parque industrial de Minas Gerais e de São Paulo depende da estrada. Pela rodovia passam, por exemplo, 40% da economia mineira e 60% da produção nacional de ferro-gusa.
A Folha percorreu, de carro, na semana passada, os 586 km de cada sentido da rodovia. Foram 20 horas de estrada e quase 1.200 km de percurso. O retrato colhido pela reportagem nessa viagem foi de descaso do poder público com uma estrada que já foi símbolo do progresso no país.
A condição da sinalização é a mais crítica. Das 2.285 placas que a reportagem conseguiu contar nos dois sentidos, 699 (30,6%) apresentavam problemas de conservação que impossibilitavam ou dificultavam sua visualização.
Identificaram-se ainda pelo menos 144 placas com estrutura e película deformadas pelo fogo -Minas já teve 1.161 queimadas neste ano. Outras 114 estavam tortas, 70 pichadas e 88 encobertas pela vegetação. A sujeira deixava 62 placas quase opacas e 80 tinham sinais desgastados. Também não é raro encontrar apenas esqueletos de metal -ladrões são atraídos pelo alumínio, que vendem a R$ 3,50 o quilo.

Asfalto
Apesar de o asfalto estar bem conservado na maior parte do percurso, há trechos com remendos, ondulações e buracos com até dez centímetros de profundidade. O quadro é agravado pela ausência de balanças funcionais -não há fiscalização do peso da carga dos caminhões, apenas das notas fiscais das mercadorias.
A deterioração do pavimento foi o principal problema apontado por usuários e funcionários de postos de combustíveis e borracharias da rodovia. Houve 104 mortes na estrada de janeiro a agosto deste ano.

Polícia
Outras pessoas ouvidas pela Folha no trajeto reclamaram da atuação da Polícia Rodoviária Federal (PRF). Elas afirmam que o número de policiais é pequeno e que falta apoio ao usuário.
Dos 12 veículos que a reportagem viu parados por problemas mecânicos, apenas dois estavam acompanhados por carros da PRF. Nas 20 horas de estrada, observou apenas dois carros da PRF circulando na via. Nos sete postos da PRF em que a reportagem parou (são nove ao todo), não havia mais que dois policiais em cada um.
"O pessoal fala que é bom não pagar pedágio, mas na Dutra [privatizada] é mais seguro", disse Claudinei de Oliveira, 41, que tombou seu caminhão próximo a Cambuí (MG), às 6h20 de quarta-feira. "Veio um policial às 8h e mais nada. Estou sozinho", afirmou ele, às 15h. Um carro da PRF passou enquanto ele falava, mas não parou.
O descaso com a Fernão Dias é ilustrado por dois pedágios abandonados, no lado mineiro da via. Vandalizados e pichados, juntam lixo e se tornaram pontos de prostituição.
Sentado em uma pilastra de concreto caída em um desses pedágios, em Itatiaiuçu (Grande Belo Horizonte), o vendedor Moacir Francisco Pereira, 63, diz que a área do posto é dele. Em meio a placas de trânsito abandonadas, afirma: "Não me pagaram nada, só invadiram".

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