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Problemática, Fernão Dias vai a leilão
Reportagem percorreu 1.200 km na rodovia e encontrou falhas em 30% das placas de sinalização
Rodovia federal por onde
passa 20% da produção do
parque industrial de Minas
Gerais e de São Paulo será
leiloada daqui a 16 dias
JOÃO CARLOS MAGALHÃES
DA AGÊNCIA FOLHA
A 16 dias de ser leiloada, a rodovia federal Fernão Dias, trecho da BR-381 que liga São Paulo a Belo Horizonte (MG), enfrenta uma situação de abandono, com sinalização deteriorada, problemas no asfalto e uma
polícia rodoviária desacreditada pelos usuários.
Inaugurada nos anos 50, a
Fernão Dias é um dos principais corredores logísticos do
país. Cerca de 20% da produção
do parque industrial de Minas
Gerais e de São Paulo depende
da estrada. Pela rodovia passam, por exemplo, 40% da economia mineira e 60% da produção nacional de ferro-gusa.
A Folha percorreu, de carro,
na semana passada, os 586 km
de cada sentido da rodovia. Foram 20 horas de estrada e quase 1.200 km de percurso. O retrato colhido pela reportagem
nessa viagem foi de descaso do
poder público com uma estrada que já foi símbolo do progresso no país.
A condição da sinalização é a
mais crítica. Das 2.285 placas
que a reportagem conseguiu
contar nos dois sentidos, 699
(30,6%) apresentavam problemas de conservação que impossibilitavam ou dificultavam
sua visualização.
Identificaram-se ainda pelo
menos 144 placas com estrutura e película deformadas pelo
fogo -Minas já teve 1.161 queimadas neste ano. Outras 114
estavam tortas, 70 pichadas e
88 encobertas pela vegetação.
A sujeira deixava 62 placas
quase opacas e 80 tinham sinais desgastados. Também não
é raro encontrar apenas esqueletos de metal -ladrões são
atraídos pelo alumínio, que
vendem a R$ 3,50 o quilo.
Asfalto
Apesar de o asfalto estar bem
conservado na maior parte do
percurso, há trechos com remendos, ondulações e buracos
com até dez centímetros de
profundidade. O quadro é agravado pela ausência de balanças
funcionais -não há fiscalização do peso da carga dos caminhões, apenas das notas fiscais
das mercadorias.
A deterioração do pavimento
foi o principal problema apontado por usuários e funcionários de postos de combustíveis
e borracharias da rodovia. Houve 104 mortes na estrada de janeiro a agosto deste ano.
Polícia
Outras pessoas ouvidas pela
Folha no trajeto reclamaram
da atuação da Polícia Rodoviária Federal (PRF). Elas afirmam que o número de policiais
é pequeno e que falta apoio ao
usuário.
Dos 12 veículos que a reportagem viu parados por problemas mecânicos, apenas dois estavam acompanhados por carros da PRF. Nas 20 horas de estrada, observou apenas dois
carros da PRF circulando na
via. Nos sete postos da PRF em
que a reportagem parou (são
nove ao todo), não havia mais
que dois policiais em cada um.
"O pessoal fala que é bom não
pagar pedágio, mas na Dutra
[privatizada] é mais seguro",
disse Claudinei de Oliveira, 41,
que tombou seu caminhão próximo a Cambuí (MG), às 6h20
de quarta-feira. "Veio um policial às 8h e mais nada. Estou sozinho", afirmou ele, às 15h. Um
carro da PRF passou enquanto
ele falava, mas não parou.
O descaso com a Fernão Dias
é ilustrado por dois pedágios
abandonados, no lado mineiro
da via. Vandalizados e pichados, juntam lixo e se tornaram
pontos de prostituição.
Sentado em uma pilastra de
concreto caída em um desses
pedágios, em Itatiaiuçu (Grande Belo Horizonte), o vendedor
Moacir Francisco Pereira, 63,
diz que a área do posto é dele.
Em meio a placas de trânsito
abandonadas, afirma: "Não me
pagaram nada, só invadiram".
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