São Paulo, terça-feira, 23 de setembro de 2008

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Goldman Sachs e Morgan Stanley encerram uma era em Wall Street

DA BLOOMBERG

A Wall Street que moldou o mundo das finanças por duas décadas acabou anteontem, quando o Goldman Sachs e o Morgan Stanley concluíram que não há futuro em continuar como bancos de investimentos, agora que os investidores consideram este um modelo quebrado.
A aprovação do Federal Reserve (Fed, o BC dos EUA) à sua tentativa de se tornarem bancos comerciais põe fim à hegemonia dos bancos de investimentos, 75 anos depois que o Congresso dos EUA os separou dos bancos comerciais, e coroa semanas de caos que fizeram com que o Lehman Brothers pedisse concordata e desencadearam a venda do Merrill Lynch ao Bank of America.
"A decisão marca o fim da Wall Street que conhecemos", disse William Isaac, ex-presidente do conselho administrativo da Federal Deposit Insurance Corp. ""É lamentável."
O Goldman -que conta entre seus ex-funcionários graduados com Henry Paulson, o secretário do Tesouro que preside a operação de socorro, no valor de US$ 700 bilhões, aos bancos norte-americanos- e o Morgan Stanley- produto da lei de 1933 que diferenciou os bancos de investimento dos comerciais- insistiam que não precisavam mudar de rumo, apesar da queda vertical de suas ações e da disparada de seus custos de captação.
Mas já era tarde demais. Com a reviravolta dos mercados financeiros e com a debandada de clientes, os executivos das duas empresas concluíram que não tinham outra opção.
""Há sangue na água no setor, e os tubarões estão rondando", disse Peter Kovalski, co-gestor na Alpine Woods Capital Investors, na semana passada. ""Tudo se resume à percepção e ao atual grau de confiança dentro da própria comunidade."
Wall Street não tinha passado por um abalo dessa magnitude desde a década de 1980, quando empresas como o Morgan Stanley e o Bear Stearns lançaram ações em Bolsa e os mercados financeiros de Londres mudaram para sempre, com as reformas conhecidas como Big Bang implementadas em 1986. O Bear Stearns desapareceu em março, comprado pelo JPMorgan Chase.
O anúncio sobre a nova natureza do Goldman Sachs e do Morgan Stanley abre caminho para que os dois montem sua base de depósitos, potencialmente por meio de aquisições. Isso lhes permitirá contarem mais intensamente com os depósitos dos clientes de banco de varejo em vez de empregar recursos captados no mercado de bônus -a alavancagem que levou ao desmonte de Bear Stearns e Lehman Brothers.
O Morgan Stanley, que nos últimos dias negociava uma fusão com o Wachovia, fechou um acordo para vender 20% das suas ações para o banco japonês Mitsubishi. Os números do negócio, que ainda não foi fechado, não foram divulgados, mas a expectativa é a de que o banco americano consiga levantar US$ 8 bilhões. Com o possível acordo, as ações do Morgan Stanley fecharam em pequena baixa, de 0,44%.
A decisão do governo de assumir os ativos podres das instituições foi um alívio para o Morgan Stanley, que chegou a ser apontado como o próximo banco a ser derrubado pela crise. Ele chegou ainda a negociar a venda de parte da instituição para o governo chinês -que já tem 9,9% do banco.
O Goldman Sachs, visto como o mais sólido dos cinco grandes bancos de investimento, disse que pode levantar capital para adquirir ativos se encontrar "oportunidades atraentes", mas disse que não há plano imediato. As suas ações caíram 6,95%, em um dia em que os bancos tiveram forte queda, devido às incertezas sobre o impacto do plano governamental nos seus balanços.


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