São Paulo, terça-feira, 23 de setembro de 2008

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Em rixa com EUA, europeus preparam pacote financeiro

MARCELO NINIO
DE GENEBRA

A União Européia deve anunciar nos próximos dias um plano para apertar a regulamentação financeira e a fiscalização sobre os bancos. A frouxidão regulatória nos Estados Unidos tem sido alvo de críticas por todo o continente, e com mais veemência na Alemanha, maior economia européia.
A crise acirrou a rixa entre europeus e americanos. Ontem o G7 (grupo dos países mais industrializados, que inclui EUA e UE), emitiu um comunicado elogiando as "ações extraordinárias" tomadas pelo governo americano e pedindo a "cooperação internacional". Mas os europeus logo esclareceram que não planejam seguir o mesmo caminho, como pediu a Casa Branca, e assumir o controle de papéis "podres".
A desconfiança com o plano de Washington fez ontem com que as principais Bolsas européias voltassem a fechar no vermelho, depois da euforia que levou às altas recordes do pregão anterior, na sexta-feira. Londres caiu 1,41%, Paris, 2,34%, e Frankfurt, 1,32%.
Uma das primeiras medidas que a UE quer impor aos bancos é a obrigação de reter uma parte dos ativos transformados em títulos negociáveis. O comissário de Mercado Interno da UE, Charlie McCreevy, queria um mínimo de 10%, mas o lobby financeiro rejeitou a cifra e ela deve cair pela metade, segundo o jornal "Financial Times", versão alemã.
Um pacote de medidas destinadas a tornar o sistema financeiro mais transparente e regulado está sendo discutido pela UE desde o início da crise do "subprime", em agosto do ano passado. Uma outra medida que faz parte do plano é o monitoramento de agências de classificação de risco.
No comunicado, os líderes do G7 ressaltam a importância de melhorar a regulamentação financeira e dizem estar dispostos a tomar "quaisquer ações necessárias" para garantir a estabilidade do sistema financeiro internacional. Mas os europeus rejeitaram a idéia de que estão todos no mesmo barco.
O ministro das Finanças alemão, Peer Steinbrück, chegou à conclusão de que não haverá seguidores do plano americano depois de fazer uma rodada de telefonemas aos membros do G7 -além dos EUA, França, Reino Unido, Itália, Canadá, Japão e Alemanha.
Segundo Steinbrück, a situação econômica nos demais países do G7 é diferente da americana, por isso não cabe um programa similar, que custará US$ 700 bilhões aos cofres dos EUA. Mas o ministro alemão elogiou o plano de resgate do governo americano e pediu que seja colocado em prática sem demora.
Da Alemanha já haviam saído críticas mais contundentes à relutância dos EUA em regular os mercados, da chanceler Angela Merkel a membros do gabinete, numa tentativa de se distanciar do tumulto do outro lado do Atlântico. "Somos parte das forças de estabilização nestes loucos acontecimentos", disse o vice-ministro da Economia, Hartmut Schaurte. "Não fizemos erros anglo-saxões. Não apostamos tudo em serviços financeiros."


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