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Tensão entre Rússia e EUA pode beneficiar a carne brasileira
Conflito, que interfere na negociação russa para entrar
na OMC, tende a ampliar a fatia das exportações do Brasil
País pode ganhar cotas
tarifárias que pertencem
atualmente aos EUA;
Rússia ameaça rever
acordos com americanos
DE GENEBRA
A tensão política crescente
entre Rússia e Estados Unidos
pode ajudar a ampliar as exportações de carne do Brasil. O
conflito, que afeta as negociações para a entrada da Rússia
na OMC (Organização Mundial
do Comércio), levou Moscou a
ameaçar rever acordos em vigor com os EUA.
Com isso, o Brasil poderá ganhar cotas tarifárias de exportação que hoje cabem aos produtores americanos, aumentando sua fatia no mercado russo, que já é o principal destino
da carne brasileira bovina e suína no exterior.
Nos seis primeiros meses
deste ano, os russos compraram pouco mais de US$ 1 bilhão
em carne bovina brasileira,
quase um terço do total das exportações do produto. No caso
da carne suína a participação
da Rússia é ainda maior, com
43% das vendas do Brasil para o
mercado mundial. Poderia ser
ainda melhor, voltando ao patamar de 2003, quando chegou
a 63%, afirma Pedro de Camargo Neto, presidente da Abipecs
(Associação Brasileira da Indústria Produtora e Exportadora de Carne Suína).
Segundo ele, o Brasil foi prejudicado quando negociou o
acordo bilateral para a entrada
da Rússia na OMC, pois as cotas
maiores de carne já haviam sido concedidas a EUA e UE. Camargo Neto diz que é hora de o
governo brasileiro cobrar benefícios da parceria que o Itamaraty afirma ter com a Rússia
como parte do chamado Bric
(grupo de países emergentes
que inclui ainda China e Índia).
"Não tem sentido ser punido
por privilégios oferecidos aos
EUA e à UE", afirma Camargo
Neto. "Precisamos saber se essa história de Bric é para valer.
É a hora de a Rússia mostrar
que o Brasil é parceiro e de o
Brasil não fazer papel de bobo."
O acordo em vigor, fechado
em 2005, dá preferência a EUA
e União Européia. Com a deterioração das relações entre
Rússia e EUA, há a expectativa
de que o governo brasileiro
pressione para que o acordo,
que expira em 2009, seja renegociado com bases melhores.
Momento de revisão
Na quinta-feira passada um
negociador russo esteve na
OMC para uma reunião sobre a
adesão da Rússia à organização.
Foi a primeira desde o conflito
na Geórgia, no mês passado,
que azedou as relações entre
Washington e Moscou. Maxim
Medvedkov, chefe do Departamento de Negociações Internacionais do Ministério do Desenvolvimento Econômico da
Rússia, reiterou que serão revistos alguns acordos bilaterais
sobre o comércio de carne e
produtos agrícolas.
Os acordos fazem parte do
processo de entrada do país na
principal entidade do comércio
mundial, que já dura 15 anos. As
revisões, segundo Medvedkov,
serão negociadas com os EUA,
a União Européia e "outros parceiros comerciais" da Rússia.
Fontes do Itamaraty confirmaram à Folha que é uma janela
de oportunidade para que o
Brasil aumente sua participação no mercado russo.
No fim de semana passado
uma delegação brasileira, com
representantes do governo e do
setor privado, esteve em Moscou para participar de uma feira agrícola. Estavam previstos
encontros com o setor importador russo, nos quais o tema
das cotas seria abordado.
Os exportadores não escondem que a piora nas relações
entre a Casa Branca e o Kremlin pode levar ao aumento do
mercado russo para a carne
brasileira. "Estamos torcendo",
disse Luiz Carlos de Oliveira,
diretor-executivo da Abiec (Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne).
Camargo Neto concorda: "O
momento é propício para a renegociação do comércio de carnes", diz.
(MARCELO NINIO)
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