São Paulo, terça-feira, 23 de setembro de 2008

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Tensão entre Rússia e EUA pode beneficiar a carne brasileira

Conflito, que interfere na negociação russa para entrar na OMC, tende a ampliar a fatia das exportações do Brasil

País pode ganhar cotas tarifárias que pertencem atualmente aos EUA; Rússia ameaça rever acordos com americanos


DE GENEBRA

A tensão política crescente entre Rússia e Estados Unidos pode ajudar a ampliar as exportações de carne do Brasil. O conflito, que afeta as negociações para a entrada da Rússia na OMC (Organização Mundial do Comércio), levou Moscou a ameaçar rever acordos em vigor com os EUA.
Com isso, o Brasil poderá ganhar cotas tarifárias de exportação que hoje cabem aos produtores americanos, aumentando sua fatia no mercado russo, que já é o principal destino da carne brasileira bovina e suína no exterior.
Nos seis primeiros meses deste ano, os russos compraram pouco mais de US$ 1 bilhão em carne bovina brasileira, quase um terço do total das exportações do produto. No caso da carne suína a participação da Rússia é ainda maior, com 43% das vendas do Brasil para o mercado mundial. Poderia ser ainda melhor, voltando ao patamar de 2003, quando chegou a 63%, afirma Pedro de Camargo Neto, presidente da Abipecs (Associação Brasileira da Indústria Produtora e Exportadora de Carne Suína).
Segundo ele, o Brasil foi prejudicado quando negociou o acordo bilateral para a entrada da Rússia na OMC, pois as cotas maiores de carne já haviam sido concedidas a EUA e UE. Camargo Neto diz que é hora de o governo brasileiro cobrar benefícios da parceria que o Itamaraty afirma ter com a Rússia como parte do chamado Bric (grupo de países emergentes que inclui ainda China e Índia).
"Não tem sentido ser punido por privilégios oferecidos aos EUA e à UE", afirma Camargo Neto. "Precisamos saber se essa história de Bric é para valer. É a hora de a Rússia mostrar que o Brasil é parceiro e de o Brasil não fazer papel de bobo."
O acordo em vigor, fechado em 2005, dá preferência a EUA e União Européia. Com a deterioração das relações entre Rússia e EUA, há a expectativa de que o governo brasileiro pressione para que o acordo, que expira em 2009, seja renegociado com bases melhores.

Momento de revisão
Na quinta-feira passada um negociador russo esteve na OMC para uma reunião sobre a adesão da Rússia à organização. Foi a primeira desde o conflito na Geórgia, no mês passado, que azedou as relações entre Washington e Moscou. Maxim Medvedkov, chefe do Departamento de Negociações Internacionais do Ministério do Desenvolvimento Econômico da Rússia, reiterou que serão revistos alguns acordos bilaterais sobre o comércio de carne e produtos agrícolas.
Os acordos fazem parte do processo de entrada do país na principal entidade do comércio mundial, que já dura 15 anos. As revisões, segundo Medvedkov, serão negociadas com os EUA, a União Européia e "outros parceiros comerciais" da Rússia. Fontes do Itamaraty confirmaram à Folha que é uma janela de oportunidade para que o Brasil aumente sua participação no mercado russo.
No fim de semana passado uma delegação brasileira, com representantes do governo e do setor privado, esteve em Moscou para participar de uma feira agrícola. Estavam previstos encontros com o setor importador russo, nos quais o tema das cotas seria abordado.
Os exportadores não escondem que a piora nas relações entre a Casa Branca e o Kremlin pode levar ao aumento do mercado russo para a carne brasileira. "Estamos torcendo", disse Luiz Carlos de Oliveira, diretor-executivo da Abiec (Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne).
Camargo Neto concorda: "O momento é propício para a renegociação do comércio de carnes", diz. (MARCELO NINIO)



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