São Paulo, quarta-feira, 23 de setembro de 2009

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Governo deve ter peso maior na hidrelétrica de Belo Monte

Só a Eletrobrás ficará com até 49% do projeto; fundos de pensão estatais também participarão

Parcela do setor público será maior do que nas usinas do rio Madeira; orçamento da obra é estimado em R$ 16 bi, abaixo da previsão do setor


AGNALDO BRITO
DA REPORTAGEM LOCAL

Ao contrário do que ocorreu com os leilões das usinas do rio Madeira, o governo federal poderá assumir o controle do projeto hidrelétrico de Belo Monte, no rio Xingu, no Pará.
O ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, disse ontem que a Eletrobrás terá entre 40% e 49% do empreendimento. Mas, como o governo tenta envolver os fundos de pensão para a formação de dois consórcios, a depender da configuração dos grupos, o governo brasileiro -com a influência que exerce sobre os fundos- poderá ter mais de 50% da usina.
Entre os fundos de pensão que estão sendo chamados a participar do leilão está a Previ (dos funcionários do Banco do Brasil). A Previ é sócia da Neoenergia e tem participação também no capital da CPFL, outra interessada no negócio.
Segundo Lobão, a participação da Eletrobrás poderá ser como holding ou a partir das subsidiárias, como Eletrosul, Chesf, Furnas ou Eletronorte.
A estratégia do governo é usar os fundos e o Sistema Eletrobrás para assegurar a formação de dois consórcios e, assim, poder repetir a disputa vista nas usinas do Madeira e obter um valor baixo de tarifa oferecida pelos concorrentes.
Outro envolvimento do governo será por meio do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), que oferecerá até R$ 12 bilhões para financiar o projeto de Belo Monte. A informação foi dada ontem por Nelson Siffert, diretor de infraestrutura do banco.
Esse volume de capital respeita o limite de 25% do patrimônio líquido do BNDES, definido conforme os critérios internacionais do setor bancário. Esse valor poderá ser maior, desde que haja um repassador. A expectativa é que outras instituições financeiras participem da sindicalização da operação, reduzindo a participação direta do BNDES.

Valor menor
Durante evento ontem para a discussão do projeto, o presidente da EPE (Empresa de Pesquisa Energética), Maurício Tolmasquim, revelou a estimativa de custo do empreendimento. Na revisão do projeto feito pela empresa, o orçamento para a execução da obra caiu para R$ 16 bilhões. A Eletrobrás estimava em R$ 20 bilhões. Segundo Tolmasquim, esse custo do projeto, para uma usina de 11,2 mil MW, já inclui todas as compensações socioambientais.
O valor decepcionou alguns analistas. O presidente da Cnec Engenharia (grupo Camargo Corrêa), José Ayres, disse que o custo atribuído ao empreendimento pode inviabilizar a participação do setor privado. "Por esse valor pode não haver interessado. É um custo no limite do não exequível", disse. Ele não quis dizer o orçamento da Camargo Corrêa para a obra, mas afirma que é bem maior.
Eventuais interessados no projeto, como a Alstom (fornecedora das turbinas), fizeram estimativas de custos acima de R$ 30 bilhões. A CPFL, outra interessada no negócio, estima valor de R$ 23 bilhões.
Segundo Silvio Areco, da Andrade & Canellas, essa grande variação nos valores tem uma razão: são muitas as incertezas quanto ao volume de escavações necessárias para a construção dos canais do reservatório principal. Os volumes de movimentação de terra e rocha podem ser equivalentes ao que foi movimentado para a construção do canal do Panamá.
Tolmasquim disse que as críticas em relação ao orçamento da obra são naturais e refletem certa pressão de construtores para ter projetos de custos mais elevados. "Primeiro falaram das quantidades de materiais que serão movimentados. Como houve consenso sobre isso, agora alegam dificuldades logísticas para a construção. Tudo bem, Belo Monte fica numa região distante, mas não há nenhuma questão que não se consiga superar", afirma o presidente da EPE.


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