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Governo deve ter peso maior na hidrelétrica de Belo Monte
Só a Eletrobrás ficará com até 49% do projeto; fundos de pensão estatais também participarão
Parcela do setor público será maior do que nas usinas do rio Madeira; orçamento da obra é estimado em R$ 16 bi, abaixo da previsão do setor
AGNALDO BRITO
DA REPORTAGEM LOCAL
Ao contrário do que ocorreu
com os leilões das usinas do rio
Madeira, o governo federal poderá assumir o controle do projeto hidrelétrico de Belo Monte, no rio Xingu, no Pará.
O ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, disse ontem
que a Eletrobrás terá entre
40% e 49% do empreendimento. Mas, como o governo tenta
envolver os fundos de pensão
para a formação de dois consórcios, a depender da configuração dos grupos, o governo brasileiro -com a influência que
exerce sobre os fundos- poderá ter mais de 50% da usina.
Entre os fundos de pensão
que estão sendo chamados a
participar do leilão está a Previ
(dos funcionários do Banco do
Brasil). A Previ é sócia da Neoenergia e tem participação também no capital da CPFL, outra
interessada no negócio.
Segundo Lobão, a participação da Eletrobrás poderá ser
como holding ou a partir das
subsidiárias, como Eletrosul,
Chesf, Furnas ou Eletronorte.
A estratégia do governo é
usar os fundos e o Sistema Eletrobrás para assegurar a formação de dois consórcios e, assim,
poder repetir a disputa vista
nas usinas do Madeira e obter
um valor baixo de tarifa oferecida pelos concorrentes.
Outro envolvimento do governo será por meio do BNDES
(Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social),
que oferecerá até R$ 12 bilhões
para financiar o projeto de Belo
Monte. A informação foi dada
ontem por Nelson Siffert, diretor de infraestrutura do banco.
Esse volume de capital respeita o limite de 25% do patrimônio líquido do BNDES, definido conforme os critérios internacionais do setor bancário.
Esse valor poderá ser maior,
desde que haja um repassador.
A expectativa é que outras instituições financeiras participem da sindicalização da operação, reduzindo a participação
direta do BNDES.
Valor menor
Durante evento ontem para a
discussão do projeto, o presidente da EPE (Empresa de Pesquisa Energética), Maurício
Tolmasquim, revelou a estimativa de custo do empreendimento. Na revisão do projeto
feito pela empresa, o orçamento para a execução da obra caiu
para R$ 16 bilhões. A Eletrobrás estimava em R$ 20 bilhões. Segundo Tolmasquim,
esse custo do projeto, para uma
usina de 11,2 mil MW, já inclui
todas as compensações socioambientais.
O valor decepcionou alguns
analistas. O presidente da Cnec
Engenharia (grupo Camargo
Corrêa), José Ayres, disse que o
custo atribuído ao empreendimento pode inviabilizar a participação do setor privado. "Por
esse valor pode não haver interessado. É um custo no limite
do não exequível", disse. Ele
não quis dizer o orçamento da
Camargo Corrêa para a obra,
mas afirma que é bem maior.
Eventuais interessados no
projeto, como a Alstom (fornecedora das turbinas), fizeram
estimativas de custos acima de
R$ 30 bilhões. A CPFL, outra
interessada no negócio, estima
valor de R$ 23 bilhões.
Segundo Silvio Areco, da Andrade & Canellas, essa grande
variação nos valores tem uma
razão: são muitas as incertezas
quanto ao volume de escavações necessárias para a construção dos canais do reservatório principal. Os volumes de
movimentação de terra e rocha
podem ser equivalentes ao que
foi movimentado para a construção do canal do Panamá.
Tolmasquim disse que as críticas em relação ao orçamento
da obra são naturais e refletem
certa pressão de construtores
para ter projetos de custos mais
elevados. "Primeiro falaram
das quantidades de materiais
que serão movimentados. Como houve consenso sobre isso,
agora alegam dificuldades logísticas para a construção. Tudo bem, Belo Monte fica numa
região distante, mas não há nenhuma questão que não se consiga superar", afirma o presidente da EPE.
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